Desde que a Rússia baniu o app de mensagem Telegram, o governo entrou numa campanha sem muito sentido. A funcionalidade da internet no país tem sido arruinada nessas duas últimas semanas, pois as autoridades estão bloqueando uma série de endereços IP para tentar interromper as atividades do app.
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Há duas semanas, o Telegram foi “oficialmente” bloqueado na Rússia por se recusar a entregar chaves de criptografia ao governo. Em sua defesa, o app disse que não consegue fornecer as chaves, mesmo se quisesse, pois elas são geradas localmente no dispositivo dos usuários.
Pavel Durov, o fundador do Telegram, tem uma relação controversa com as autoridades do seu país, e ele rapidamente implementou uma alternativa usando servidores na nuvem, como os da Amazon e do Google, para continuar a operar no país. Até agora tem funcionado, pois os provedores russos continuam a tentar bloquear novos IPs, só que ao fazer isso eles estão zoando toda a atividade online.
Na manhã desta quinta (26), o porta-voz Dmitry Peskov disse a repórteres que o app parece que ainda está funcionanado, e ele alertou aos presentes para não tirarem vantagem do uso contínuo da plataforma como uma oportunidade para “dramatizar ou falar ironicamente”.
De acordo com o Moscow Times, os “russos têm tido problemas com sistemas de pagamento online, games e até smart homes, enquanto o Telegram perdeu cerca de 3% dos seus usuários russos”. Serviços como YouTube, Gmail, Google Drive, a versão web do Google Play e reCAPTCHA começaram a entrar na mira das autoridades.
Roskomnadzor, a agência responsável pelo bloqueio, culpou o Google por “problemas com sistema de tráfego de sistemas de filtro operados por provedores russos.” Segundo um site de ativistas russos que monitora os bloqueios, cerca de 18 milhões de IPs estão sendo afetados.
O conselho de ciência do ministério da Educação da Rússia liberou um comunicado na quarta-feira (25) dizendo que os pesquisadores estão impedidos de usar vários serviços online que “são extremamente importantes para trabalhos científicos”. De acordo com uma tradução do veículo de mídia russo Meduza, o comunicado rejeita a ideia de o governo culpar provedores, como o Google e a Amazon:
O conselho acredita que Roskomnadzor, e não provedores de internet em particular, é responsável pela situação atual […]. O problema que afeta a produção científica em todo o país é um preço muito pago a ser caro para uma tentativa desastrosa de aplicar a lei contra uma empresa.
Donos de negócios também reportaram vários problemas em suas operações. No 10º dia de bloqueio, uma livraria infantil chamada Marshak Books abriu seu canal do Telegram pela primeira vez, pois lá conseguia se comunicar com seus consumidores.
Sobre as gigantes da tecnologia, como Amazon e Apple, nós perguntamos se eles pretendem remover os apps dos seus serviços na Rússia, mas não recebemos uma resposta. O Google confirmou ao Gizmodo que está ciente de relatos de bloqueios de serviços e disse que está “investigando”. Autoridades russas disseram ao Moscow Times na quinta-feira que o “contato com a Amazon ainda não teve resultados positivos, talvez por razões políticas”. Eles disseram que o Google tem cooperado mais e que as conversas estão “se tornando mais construtivas, pois foi iniciado um diálogo permanente.”
Imagem do topo: Getty Images