A cantora baiana Margareth Menezes confirmou nesta terça-feira (13), que aceitou o convite do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva para assumir o Ministério da Cultura a partir do próximo ano. A pasta será recriada no novo governo após ter sido extinta no início da gestão de Jair Bolsonaro — foi transformado em secretaria do Ministério do Turismo.
“Agradeço ao presidente Lula pela confiança, tendo a certeza de que será um grande desafio e uma enorme responsabilidade. Vamos trabalhar incansavelmente para reerguer a Cultura do nosso país”, escreveu a cantora.
“Eu, como artista, sei que não será fácil, por isso, peço o apoio e a força de todos os artistas, mobilizadores, realizadores e agentes culturais do Brasil e também de cada cidadão, para juntos, de mãos dadas, restabelecermos com plenitude essa área que é tão ampla, tão diversa e fundamental para todos nós. A riqueza da nossa cultura alimenta a nossa alma e fortalece a nossa identidade como nação. A cultura reflete a força, a grandeza e a beleza do povo brasileiro. Vamos precisar de todo mundo”, completou Margareth.
A cantora também vai se apresentar em um festival com diversos artistas de peso, como Pabllo Vittar, BaianaSystem, Duda Beat, Gaby Amarantos, Martinho da Vila, Gilsons, Chico César, Teresa Cristina, Maria Rita, Valesca Popozuda e Paulinho da Viola, organizado para a posse de Lula, em 1º de janeiro.
Margareth Menezes da Purificação nasceu em 13 de outubro de 1962, em Boa Viagem, na Península de Itapagipe, em Salvador. É filha de Diva, doceira e costureira, e Adelício Soares, motorista, sendo a mais velha de cinco irmãos. No meio artístico, começou a carreira como atriz nos anos 1980. Ela se apresentou em peças como “Máscaras”, de Menotti Del Picchia, e “Inspetor Geral”, de Nikolai Gogol.
No entanto, foi no meio da música, que se encontrou e fez sucesso. A carreira musical começou em 1986, com uma turnê no interior da Bahia. Em seguida, passa a se apresentar no Teatro Castro Alves, através do Projeto Pixinguinha.
Em 87, Margareth foi convidada a participar do single “Faraó – Divindade do Egito” com Djalma Oliveira que foi o primeiro samba-reggae do Brasil, vendendo mais de 100 mil cópias. O primeiro álbum de estúdio foi lançado em 1988, gravado pela PolyGram do Brasil, e aconteceu em novembro daquele ano.
De lá para cá, nunca mais parou! Se consolidou nos anos seguintes, fazendo pontes entre a música negra baiana e a jamaicana, gravando com Jimmy Cliff, e absorvendo temas de religiões de matriz africana em sua estética.
Menezes chegou a se apresentar com gigantes da música mundial, como os guitarristas Jimmy Page, do Led Zeppelin, e Ron Wood, dos Rolling Stones, além das frequentes parcerias com os conterrâneos tropicalistas Caetano Veloso e Gilberto Gil, entre muitos outros.
Nos anos 2000, Menezes firmou o conceito de afro-pop brasileiro, gravando um de seus maiores sucessos até hoje, “Dandalunda”, de Carlinhos Brown. Entre os grandes nomes do axé e do samba-reggae que saíram da Bahia, Menezes é uma das pioneiras, além de ser a mais reconhecida no exterior e quem mais tem ligações com a música e a cultura negra.
Com mais de 30 anos de carreira, tem mais de dez álbuns lançados, e conquistou dois troféus Caymmi, dois troféus Imprensa, quatro troféus Dodô e Osmar, além de ser indicada para o Grammy Awards e Grammy Latino. Contabiliza 21 turnês mundiais, e foi considerada pelo jornal Los Angeles Times, como a “Aretha Franklin brasileira”.
O último álbum de inéditas lançado pela cantora é “Autêntica”, de 2019. Com 13 faixas, o disco foi produzido por Tito Oliveira, tem foco na ancestralidade afro-brasileira e traz canções autorais e de outros artistas, como “Capim Guiné”, do BaianaSystem.
No último dia 9 de dezembro, a artista lançou “Macaco Sessions com Margareth Menezes”, projeto audiovisual gravado numa festa embalada por sucessos de sua carreira.
Margareth é, ainda, uma das fundadoras do bloco “Os Mascarados”, um dos mais tradicionais do carnaval de rua de Salvador. Inclusive, em 2023, quando o grupo comemorar 20 anos, Margareth, que esteve à frente na primeira década, será homenageada.
Em paralelo à musica, fundou a Associação Fábrica Cultural, de combate ao trabalho infantil, exploração sexual e outras violações de direitos. Inaugurada em 2004, a ONG atua desde 2008 no bairro da Ribeira, onde Margareth nasceu, e outras comunidades carentes da capital baiana. Em 2005, fundou o movimento Afropop Brasileiro, voltado a destacar e festejar a cultura negra no Brasil. Seus cortejos têm a participação dos principais blocos afros e dos maiores artistas baianos.
Ela também dirige o Mercado Iaô, agência de produção cultural na Bahia. Ela ainda é embaixadora da IOV-UNESCO, grupo que visa preservar e fomentar a produção cultural. Em 2022, ela foi eleita uma das 100 pessoas negras mais influentes do mundo pela lista da Most Influential People of African Descent. Sua história será contada em uma biografia escrita por Djamila Ribeiro e um documentário dirigido por Joelma Oliveira Gonzaga, que estão em andamento.