Samsung Bada: chamar de smartphone é forçar a barra

Depois de mais de um ano com um Motorola Dext, precisei trocar de aparelho, e por vários motivos escolhi um Samsung Wave 533, com Bada. O Bada é um sistema proprietário da Samsung anunciado no final de 2009, e lançado primeiro em aparelhos caros – o que não fazia, e ainda não faz, muito sentido. […]

Depois de mais de um ano com um Motorola Dext, precisei trocar de aparelho, e por vários motivos escolhi um Samsung Wave 533, com Bada. O Bada é um sistema proprietário da Samsung anunciado no final de 2009, e lançado primeiro em aparelhos caros – o que não fazia, e ainda não faz, muito sentido. Felizmente, o sistema chegou a aparelhos mais baratos, como o Wave 533 (que custa até R$500), trazendo basicamente as mesmas funções. A experiência é bacana, mas não chame nenhum Bada de smartphone.

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Resolvi comprar um celular mais barato principalmente porque, assim como o amigo do Giz Rodrigo Ghedin, sou um usuário “imóvel”, ou seja, não me desloco tanto pela cidade a ponto de justificar um aparelho mais caro no bolso. Seria apenas um luxo, um dinheiro que posso investir melhor de outra forma. (Um iPod Touch para acompanhar o celular, por exemplo.) Além disso, há o fator segurança: em grandes cidades é perigoso usar celulares caros.

E por que Bada? Na verdade, estava meio indiferente em relação ao OS, desde que o aparelho entrasse em todos estes requisitos: tela maior que 3 polegadas, teclado físico (não confio em touchscreen de aparelho barato), Wi-Fi e GPS (preciso de mapas no celular!), tudo por menos de R$500. O Android mais barato com tudo isso era o Galaxy 551, da própria Samsung, que saía por R$650. O Nokia mais barato era o C6-00, com Symbian, que saía por R$600. (Hoje eles estão mais baratos.) Resolvi ser o primeiro do Giz a entrar no Bada, que custava R$450 e estava abaixo do valor máximo que queria gastar.

Depois de algum tempo usando o Bada, eis o que achei.

 

A interface

A interface do Bada é a TouchWiz que a Samsung coloca em seus aparelhos com Android. Ou seja, ela se inspira em vários elementos do iOS e do Android. O Bada tem uma barra inferior com ícones fixos, e uma tela inicial só com widgets (que acho bem desnecessária). Aperte o botão físico Menu, e surge uma gaveta de apps quase igual à do iPhone.

O Bada também tem uma barra de notificações, com controles rápidos para ativar/desativar WiFi, Bluetooth e modo silencioso. Assim como no Android, você pode acessá-la somente quando ela está visível; nos apps em tela cheia, você precisa voltar à tela inicial para usá-la. Mas ela tem alguns truques próprios: por exemplo, a barra muda de cor dependendo da notificação. Ela fica azul escuro se você recebe SMS/e-mail, e fica verde quando você atende uma ligação.

O Bada tem multitarefa: basta pressionar e segurar o botão Menu. Surge uma tela onde você pode alternar entre apps ou fechá-los à la iOS, tocando no botão (-) no canto do ícone de cada app. O teclado virtual é surpreendentemente bom e preciso, mesmo em um aparelho simples como o Wave 533. (Este é o Bada 1.1; na versão 1.2, o teclado virtual lembra o Swype – na verdade chamado Quicktype.) E tirar screenshots é fácil: basta pressionar o botão Menu e o Trava ao mesmo tempo, como no iPhone (toma essa, Android!).

No geral, o Bada é muito agradável aos olhos, e em nada lembra a interface confusa de dumbphones. Os efeitos de “salto” quando você chega no final de uma lista, a facilidade em encontrar configurações (não ficam ocultas em sub-sub-menus), e a rapidez da interface – ele entra em modo horizontal (landscape), quando girado, mais rápido que o Dext! – também ajudam.

 

Apps nativos

Já dissemos que a experiência nativa de um celular pode ser determinante para o sucesso da plataforma. Sem baixar apps, o que é possível com o Bada?

O navegador web é bem-feito mas peca num detalhe, a meu ver, essencial. Sim, ele usa engine WebKit, renderiza bem mesmo páginas mais pesadas, tem suporte a pinch-and-zoom… Mas ele é um pouco lento (o que depende também da implementação do WebKit, não só do aparelho), e quando você dá zoom, o texto não se ajusta, e você precisa ficar indo e vindo para ler as frases. É frustrante, e uma pena: por isso sou obrigado a usar o Opera Mini.

O app de e-mail é relativamente competente: carrega mensagens em HTML, emite notificações e sincroniza as mudanças (e-mails lidos no celular serão marcados como lidos no Gmail). Mas ele não tem push mail, só checa no mínimo de 30 em 30min (ou manualmente), demora um pouco em baixar os e-mails, e – falha grave – não agrupa as mensagens por assunto. Por isso prefiro usar o Gmail no navegador.

O player de música já me agrada mais: como é de se esperar, ele organiza as músicas por artista, álbum, faixa, gênero etc. É possível pesquisar por músicas também, e ele tem predefinições de equalizador e efeitos (bass, wide etc.). O player tem alguns truques a mais: por exemplo, se você desliza o dedo no nome do álbum ou do artista, ele toca todas as músicas do álbum/artista. O player fica na barra de notificações e também na tela de trava – muito bem pensado.

O software da câmera usa os ajustes comuns a diversos celulares da Samsung. Dá até pra tirar fotos sequenciais e panoramas! A qualidade das fotos depende, é claro, da câmera no aparelho. O Wave vem com câmera de 5 MP com flash; meu Wave 533 tem câmera de apenas 3,2MP sem flash, mas em boas condições as fotos saem bem decentes:

O que mais tem o Bada? Google Maps com suporte ao GPS e que oferece navegação e até Street View (de forma mais simples que iOS/Android, claro); um app de SMS com as bolhas do iOS; contatos com integração às redes sociais; gerenciador de arquivos; calendário e Samsung Apps, a loja de aplicativos para Bada. O que nos leva ao próximo ponto.

 

Os apps

A quantidade e qualidade de apps para Bada é uma catástrofe. São cerca de 3.000 opções, mas fora alguns dignos de nota – como o Fifa 10 – os apps são em geral inúteis. Há diversos apps de horóscopo, conversores de moeda e bobagens do gênero. A loja está poluída com widgets e temas – muitos deles pagos! – e a seção de jogos tem apenas 10 (DEZ!) opções, nove gratuitos e um pago. É difícil de navegar, a organização em categorias é meio aleatória, e é difícil encontrar apps. Mesmo digitando o nome certo do app, o Kies às vezes não o encontra.

Encontrar opções para a experiência padrão decepciona. Quer um navegador web melhor? Não tem. A única opção na app store é o TikiSurf, escondido na seção de Produtividade, basicamente uma opção pior que o navegador padrão. Há alguma esperança nos apps para Bada, como o Pipeline (imagem abaixo), um cliente nativo para Dropbox – que infelizmente ainda é lento e não envia mais de um arquivo por vez.

Os melhores apps para Bada na verdade são encontrados fora da Samsung Apps, em Java – felizmente, ele é compatível com os apps de dumbphones. Por exemplo, o Opera Mini (acima). Você também encontra alguns jogos em Java circulando pela internet, é claro – muitos pensados para touchscreen, inclusive.

 

Um dumbphone que se faz de smartphone

Hoje em dia a palavra smartphone é usada para sistemas que decididamente não são de smartphones – funcionam para o básico de computação móvel, mas não têm as mesmas possibilidades dos sistemas mais consagrados. O Bada aparece em relatórios de grandes consultorias como Gartner junto a iOS, Android e Windows Phone 7, mas comparado à esses, o Bada é apenas um sistema melhorado para dumbphones – porque os dumbphones evoluíram, afinal.

Como eu disse, eu gosto da interface, melhor pensada que os dumbphones que vejo por aí – melhor até que a interface do Symbian, eu diria. Interessante lembrar que o Bada, inicialmente, seria parecido com o Symbian. Agora, ele é um irmão pobre do iOS. Sim, ele tem alguns truques na manga, mas a falta de apps dignos e as limitações do sistema em si não permitem classificar o Bada como um smartphone de fato.

A versão aqui mostrada é o Bada 1.1; a Samsung prepara o Bada 2.0 para setembro. Já vazaram alguns screenshots e até um vídeo com as novidades, mas nada que revolucione o sistema. E, infelizmente aparelhos mais simples – como meu Wave 533 – provavelmente não serão atualizados. (A atualização está “em discussão”, segundo o Twitter oficial do Samsung Bada.)

Enfim, o Bada está em uma situação complicada. Se você procura um dumbphone, o Bada está acima da média, mas ele também custa pelo menos R$400. Se você quer algo barato e um pouco mais avançado, melhor ir de Android (ou Symbian). E, se você pretende comprar um celular mais caro, escolher um modelo Wave é loucura. O Bada ainda precisa caminhar mais para oferecer uma experiência básica boa o suficiente. Hoje, é difícil recomendá-lo.

Foto por Lowyat

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