Na Espanha, uma Atlântida moderna se tornou visível – e isso é um sinal particularmente deprimente das mudanças climáticas.
Em 1992, a vila espanhola de Aceredo, localizada na região noroeste do país na fronteira com Portugal, foi inundada para criar o reservatório de Alto Lindoso. Não é incomum que o reservatório, que é casa de uma usina hidrelétrica de 630 megawatts, tenha seus níveis suficientemente diminuídos a ponto de alguns telhados de casas e árvores de uma antiga vila se tornarem visíveis.
Mas neste inverno, durante uma estação normalmente chuvosa, o reservatório está com apenas 15% de sua capacidade, fazendo com que os níveis de água estejam tão baixos que a cidade abandonada inteira ficou exposta – algo que nunca aconteceu antes. Turistas e moradores locais puderam caminhar pelas ruínas de Aceredo.
“Tenho um sentimento de tristeza”
“É como se eu estivesse assistindo um filme. Eu tenho um sentimento de tristeza”, disse à Reuters Maximino Perez Romero, homem de 65 anos que vive na cidade de Corunha. “Minha sensação é que é isso que vai acontecer ao longo dos anos por causa das secas e tudo mais, com as mudanças climáticas.”
Agora as secas ocorrem com mais frequência
As secas estão se tornando mais frequentes graças às mudanças climáticas. Em um relatório divulgado no ano passado, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) mostrou que as secas extremas que costumam ocorrer uma vez a cada década vão se tornar cada vez mais frequentes.
A temporada de chuvas da Espanha está muito seca este ano
O inverno da Espanha costuma representar uma temporada de chuvas no país. Cerca de 75% do total anual de chuvas da Espanha cai entre outubro e abril. Dessa vez, no entanto, a estação está preocupantemente quente e seca. A agência meteorológica do país disse que choveu 36% menos do que a média desde outubro de 2021. Enquanto isso, o último mês foi um dos janeiros mais secos já registrados, com uma média diária 2,1 ºC mais quente do que o normal para a época.
“Parte do contexto das mudanças climáticas”
Além da fronteira, Portugal também está enfrentando condições extremas: 45% do país estava sob condições de seca extrema ou severa no final de janeiro, relatou a agência nacional do tempo.
“É parte do contexto das mudanças climáticas,” disse a climatologista Vanda Pires ao Euro News durante entrevista sobre a seca na região.
Reservatórios estão com problemas
De acordo com autoridades, os reservatórios da Espanha estão 44% cheios – o que é significativamente mais baixo comparado à média de 61% dos últimos 10 anos, porém mais alto que os níveis vistos durante a seca que atingiu a Espanha em 2018. Mas as chuvas atingem o país de forma desigual, com algumas regiões recebendo muito menos chuva do que outras. No outono, autoridades emitiram uma declaração de seca para a região de Andaluzia, localizada no extremo sul da Espanha. O reservatório de Guadalquivir, na Andaluzia, está com apenas 29% da sua capacidade total.
A seca vista do espaço
Essa foto de satélite mostra o reservatório de Almendra, que está situado na parte ocidental da Espanha, na fronteira com Portugal. Esse reservatório, o terceiro maior da Espanha, está atualmente com menos de 40% de sua capacidade total preenchida.
Possíveis usos excessivos da água
A seca e a falta de água podem não ser as únicas razões que levam os níveis dos reservatórios a ficarem tão baixos. Maria del Carmen Yanez, uma autoridade local na área, disse à Reuters que parte da culpa pelos baixos níveis de água é da concessionária de eletricidade portuguesa EDP, que administra o reservatório e a usina hidrelétrica. Yanez disse que tem ocorrido “uma exploração bem agressiva” dos recursos hídricos por parte da EDP.
“Isso é tão triste”
“Todo esse lugar costumava ter vinhedos, pés de laranja. Era tudo verde. Era lindo,” disse ao Euro News o ex-morador José Luis Penín, de 72 anos. “Olhe para isso agora. É tão triste.”