O Prêmio Pritzker é muitas vezes chamado de “o Nobel da arquitetura”. Dois brasileiros já o receberam: Oscar Niemeyer, pela Catedral de Brasília; e Paulo Mendes da Rocha, pela Capela de São Pedro Apóstolo, em Campos do Jordão (SP).
Esta semana, o júri anunciou que o arquiteto japonês Shigeru Ban, 56, recebeu a premiação deste ano – e é mais do que merecido.
Ban criou abrigos em áreas afetadas por desastres, tanto no Japão como na Turquia e Ruanda. Depois que um tsunami atingiu seu país natal em 2011, ele passou anos criando alojamento temporário para os sobreviventes, além de estruturas permanentes para as pessoas realocadas.
Talvez você não o conheça de nome, mas sua obra é bem notável. Ban foi pioneiro em utilizar papelão como material estrutural – ele faz isso desde 1989. A sua abordagem consiste em enrolar papelão em tubos – o que reforça a sua resistência – e depois usar produtos químicos que o tornam à prova d’água.
Usando esses tubos de papelão, ele construiu de tudo, desde o pavilhão japonês da Hannover Expo 2000, a uma catedral para a comunidade devastada pelo terremoto em Christchurch, Nova Zelândia.
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Eis o que disse após ganhar o prêmio:
Quando Martha Thorne [diretora-executiva do Pritzker] me ligou, eu pensei que ela estava brincando. Eu sabia o motivo pela qual fui escolhido, e sabia que o motivo era bem diferente de outros laureados. Foi um incentivo para eu continuar a fazer meu trabalho social, além de realizar projetos como museus e outros, por isso tento manter um equilíbrio entre outros tipos de projetos e trabalhos em áreas de desastres. Então eu aceito o Pritzker como um encorajamento, ao invés de apenas um prêmio por tal realização.
O Pritzker é um prêmio anual dado a arquitetos vivos, escolhidos por um júri de cinco ou mais arquitetos e críticos, desde 1979. As indicações podem ser feitas por qualquer pessoa, e o prêmio é uma bolsa de US$ 100.000, com financiamento privado pela família Pritzker de Chicago (EUA).
Por que o Pritzker importa? Isso é discutível, mas ao contrário de outras áreas, não há muitos prêmios reconhecidos internacionalmente para um único arquiteto (ou dois). E ao escolher um arquiteto vivo para a honra, o prêmio dá à cultura em geral uma ideia do que importa no momento, em uma profissão às vezes mal compreendida por quem não é arquiteto.
Ao mesmo tempo, por ser concedido a um só arquiteto, alguns criticam o prêmio. A arquitetura é um trabalho de equipe, um processo complexo que dura anos e exige o envolvimento de centenas de pessoas. Ao elogiar um único designer, o prêmio ajuda a perpetuar o mito do gênio solitário.
Outra grande armadilha: só duas mulheres ganharam o Pritzker, e uma delas em parceria com um homem. A tensão sobre a disparidade de gênero chegou a um ponto de ruptura no ano passado: Robert Venturi trabalha em parceria com sua esposa, Denise Scott Brown – mas ele venceu sozinho o prêmio em 1991.
Dezenas de milhares de pessoas assinaram uma declaração condenando a ignorância deliberada do júri sobre o papel de Denise no trabalho de Robert. Mas os administradores do Pritzker tinham pouco a dizer sobre a controvérsia: “[Os] jurados mudam ao longo dos anos, de modo que isto nos apresenta com uma situação incomum”, disse à CNN o diretor executivo do Prêmio na época.
Assim, o Pritzker é uma forma de chamar a atenção para a arquitetura, o que é ótimo. Mas sua importância está sendo questionada por mais e mais jovens arquitetos e críticos, que se sentem alienados pelo elitismo de seus membros.
Ao escolher Shigeru Ban, o júri fez a sua decisão mais inteligente em anos, recompensando a arquitetura que realmente importa, ao invés de simplesmente arquitetos que importam.
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Imagem de capa: AP.