Shubham Banerjee é um garoto normal de 13 anos, como ele faz questão de lembrar logo no primeiro slide de sua apresentação no palco Terra da Campus Party 2015: ele briga com a irmã, passa o dia todo na escola, precisa ir para a cama na hora que a mãe manda.
Mas, ao contrário de muitos outros garotos de 13 anos, o slide também diz que ele se encontra com investidores e aparece regularmente na mídia: Shubham é o fundador de uma das mais promissoras empresas do Vale do Silício, a BraigoLabs, que promete revolucionar as impressoras braile e lançar em breve um modelo que custa um quarto do preço das mais baratas disponíveis hoje no mercado.
Belga de família indiana e morando em Santa Clara, Califórnia, desde os 3 anos de idade, Shubham, em um dia comum de dezembro de 2013, perguntou aos pais como cegos faziam para ler e recebeu um “procure no Google” como resposta. Ele procurou. Descobriu o braile e que uma impressora especial custava mais de US$ 2.000 – caro, e ainda mais caro quando se leva em consideração que 90% dos deficientes visuais vivem em países subdesenvolvidos.
Usando LEGO Mindstorms, o kit de robótica das pecinhas coloridas com que Shubham brinca desde os dois anos de idade – “o LEGO é meu melhor amigo” –, ele levou um mês para construir uma impressora braile com custo de US$ 350. A Braigo 1.0 – o nome vem de Braile+LEGO — ainda tinha problemas, como ser lenta e imprimir uma letra por vez apenas em bobina de papel. Mas o conceito estava lá: uma impressora braile barata era possível.
Depois de meses de viagens em feiras de makers, incluindo uma na Casa Branca, e eventos da LEGO, receber o feedback de deficientes visuais e superar pessoas que se mostravam pouco empolgadas com a ideia, Shubham pegou suas férias de meio de ano de 2014 para fazer a versão 2.0 da Braigo. Tentou Arduino, mas não se entendeu com os diferentes add-ons da plataforma. Pensou em usar o Galileo, da Intel, mas decidiu pelo Edison, o chip mais simples de código aberto da marca, ainda em beta.
Com muito trabalho e seu pai como “angel investor” – na passagem pelo Brasil, ele foi apresentado ao trocadilho “paitrocínio”, que ganhou um espacinho em seu slideshow –, nascia o segundo protótipo. A Braigo 2.0 tem mais cara de produto, lembrando bastante uma impressora comum, imprime mais de uma letra ao mesmo tempo e usa folhas, não bobinas, de papel especial para braile.
Seus pais decidiram, então, apostar na ideia do garoto prodígio que tinham em casa. Eles fundaram a Braigo Labs, que logo recebeu uma aporte financeiro da divisão de novas ideias da Intel. A mãe dele, Malini Banerjee, assumiu como CEO, já que o garoto é menor de idade e não pode responder legalmente. Hoje, a Braigo Labs conta com uma equipe de dez pessoas, incluindo o pai de Shubham, Neil Banerjee, que é engenheiro e diretor da Intel, Karthik Samynathan, diretor de engenharia da Nvidia, e Henry Wedler, amigo de Shubham, doutorando em química orgânica e deficiente visual.
O objetivo desta equipe é, até o meio do ano, construir entre 20 a 25 protótipos e enviá-los a diversas associações de deficientes visuais ao redor do mundo – no Brasil, a Fundação Dorina Nowill, que Shubham visitou em sua viagem ao país, deve receber um modelo— para ver como a Braigo se comporta com os diferentes alfabetos braile existentes antes de chegar a um mercado de nicho, mas com potencial para bilhões de dólares – são cerca de 300 milhões de deficientes visuais ao redor do mundo multiplicados por US$ 500, o preço que o produto deverá custar.
“A tecnologia tem que tornar a vida mais fácil, não ser uma carga por causa do preço elevado”, diz Shubham. Ele já deu mais um passo importante rumo a isso: em seu keynote na Campus Party, Shubham revelou que a Braigo Labs conseguiu embutir no chip da impressora um conversor de texto que permite imprimir em braile qualquer arquivo de texto – hoje, as impressoras disponíveis ainda precisam da conversão feita por softwares que custam entre US$ 500 e US$ 600.
Gênio? Ele rejeita o título. “Eu não sou tão inteligente assim”, diz na coletiva realizada. Como quase todo garoto de 13 anos, Shubham parece inseguro, fala baixo na entrevista, diz estar nervoso no começo da palestra, fica sem jeito quando o projetor não responde o controle remoto, precisa de uma dica da produção para vir mais para a frente e não ficar tão acuado em cima do palco. Não sabe que os palestrantes têm almoço especial na sala VIP da São Paulo Expo, e, como um garoto comum, vai para a praça de alimentação, compra seu lanche e faz amizade com as pessoas da mesa ao lado, que também estão jogando Minecraft no smartphone.
No entanto, o garoto de 13 anos também é o mais jovem a receber um investimento em venture capital no Vale do Silício. E, na oitava edição da Campus Party, que abraçou o empreendedorismo e reservou seu segundo palco mais importante ao tema, ele tem uma dica bem simples para quem está começando: “Não tente fazer o próximo app de um milhão de dólares. Tente fazer alguma coisa que ajude as pessoas. Siga seu coração.”