Cientistas encontram sinais escondidos no fundo do mar de uma antiga supernova

É possível encontrar evidências de uma supernova de milhões de anos atrás no fundo do mar? Um astrofísico passou quase uma década tentando provar que sim.

É possível encontrar evidências de uma supernova de milhões de anos atrás no fundo do mar? Um astrofísico passou quase uma década tentando provar que sim. E parece que ele conseguiu.

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Shawn Bishop, astrofísico da Universidade Técnica de Munique, vem investigando fósseis de uma antiga bactéria no fundo do mar há vários anos, na tentativa de encontrar traços de um isótopo de ferro produzido na explosão de uma supernova há mais ou menos 2,2 milhões de anos. Ele apresentou algumas descobertas preliminares numa conferência de física em 2013. Agora, ele confirmou essas descobertas e publicou o estudo na Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS). “O sinal definitivamente está lá,” disse ao Gizmodo.

O isótopo em questão é o ferro-60 (60Fe), apenas um entre os vários elementos pesados produzidos pelas supernovas quando explodem, jogando tudo no espaço. O 60Fe tem uma vida média curta e ele não deveria existir mais na Terra, mas alguns traços foram detectados numa crosta de ferro-manganês no fundo do oceano. E isso significa que pode existir traços do isótopo em vários outros lugares.

Bishop achava que os melhor lugar para se procurar eram microfósseis de uma bactéria antiga que cientistas encontraram em amostras de sedimentos do fundo do mar. Em 1963, o microbiologista italiano Salvatore Bellini percebeu que esse tipo de bactéria se orientava em direção ao Polo Norte – isto é, elas conseguiam perceber o campo magnético e usar isso para irem em direção a ambientes com menos concentração de oxigênio.

Numa terminologia técnica, são organismos “magnetotáticos”, graças à presença de cadeias de cristais magnetitas. Provavelmente, as bactérias pegavam esses cristas dos sedimentos depositados no fundo do mar. Como escrevi em 2013, na Scientific American:

Bishop acha que é possível que detritos da explosão da supernova poderiam ter passado pela atmosfera da Terra, rapidamente se oxidando e então se quebrando em pequenos nano-óxidos.

Eles rapidamente se dissolveriam no oxigênio, formariam ferrugem e depois se depositariam no fundo do mar, onde a bactéria iria coletá-las assim como fazem com as cadeias de cristais. Quando a bactéria morresse, essas cadeias permaneceriam nos sedimentos e o 60Fe ficaria preso. Assim, quaisquer vestígios de 60Fe encontrados nos sedimentos constituiriam uma espécie de assinatura biogênica da supernova, preservada no registro fóssil.

Detectar esses traços é, obviamente, super difícil. Mas Bishop encontrou uma maneira ao utilizar Espectrometria de Massas com Aceleradores (AMS em inglês) para analisar os grãos da bactéria, contidos nas amostras da matéria do fundo do Oceano Pacífico. Então ele contou cada átomo de 60Fe, um por um. Nos resultados preliminares ele descobriu que picos de concentração de 60Fe em um dos núcleos poderia estar ligado à explosão de uma supernova, a 2.2 bilhões de anos atrás.

A descoberta animou outros cientistas. Anton Wallner, da Universidade Nacional da Austrália, reuniu um time com especialistas de diversos países para conduzir uma nova pesquisa, com o objetivo é encontrar mais traços do 60Fe. Eles já encontraram evidências de uma série de explosões de supernovas que aconteceram há milhões de anos, fazendo com que partículas radioativas caíssem no nosso planeta, como mostram alguns estudos publicados na revista Nature. A ocorrência mais próxima provavelmente aconteceu num aglomerado de estrelas a 326 anos-luz de distância.

Esses estudos e a confirmação da investigação de Bishop constitui evidências bem fortes. E pelo menos um dos eventos coincide com o início do Pleistoceno, período em que existiram glaciações repetidas na Terra. Os astrônomos suspeitam há muito tempo que as supernovas próximas do nosso planeta podem afetar o clima por aqui, principalmente ao queimar a camada de ozônio. Talvez a explosão de uma supernova desencadeou o Pleistoceno.

“Nós não temos nenhuma evidência concreta que um desses eventos esteja ligado à supernova”, disse ao Gizmodo o astrônomo Adrian Mellott, da Universidade de Kansas. “Mas existem chances.”

[Proceedings of the National Academy of Sciences]
Imagem do topo: uma remanescente de uma supernova. Crédito: NASA.

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