Seus comportamentos sociais podem estar relacionados ao seu sistema imunológico
Teorias de que o nosso sistema imunológico possui conexões neurológicas são levantadas há muito tempo por cientistas. E algumas pesquisas têm validado essa ideia. Estudos recentes, por exemplo, apontam que existe uma conexão física entre o sistema imunológico e a circulação sanguínea no cérebro. E agora parece que existe também uma conexão psicológica.
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Pesquisadores da Universidade de Virgínia e da Universidade de Massachusetts estão sugerindo que o sistema imunológico afeta diretamente o comportamento social em alguns animais, como ratos. Isso pode ter profundas consequências para humanos com doenças psicológicas, como autismo e esquizofrenia.
Num estudo publicado na semana passada na revista Nature, pesquisadores destacaram uma molécula imunológica específica, chamada interferão-gama, que é ativada em diversos animais quando eles querem socializar. Quando essa molécula foi geneticamente bloqueada em ratos, seus cérebros se tornaram hiperativos, impedindo especificamente as áreas do cérebro que controlam as interações sociais. Dessa forma, os cientistas descobriram que os ratos que não tinham acesso à molécula interagiam muito menos do que os companheiros daquele ambiente, ainda que ratos sejam criaturas muito sociais.
“É como se um pequeno aeroporto de uma pequena cidade [de repente] se tornasse um grande centro e então houvesse uma bagunça [um congestionamento] nos céus”, disse Jonathan Kipnis, chefe do departamento de neurociência da Universidade de Virginia e um dos líderes do estudo. “A mesma coisa acontece com o cérebro e então ele não consegue funcionar direito.”
Reintroduzindo a molécula no sistema imunológico, a hiperatividade cessou e os comportamentos sociais normais também voltaram.
Um cérebro normal versus um cérebro hiperativo. Imagem por Anita Impagliazzo, UVA Health System
Os pesquisadores indicaram uma possível causa evolutiva para esse caso: o relacionamento com pessoas e agentes patogênicos e os benefícios de socializar para garantir a sobrevivência de uma espécie. Quando interagimos com outros, nossos sistemas imunológicos respondem nos protegendo de possíveis doenças.
“Isso é louco, mas talvez nós sejamos apenas campos de batalhas multicelulares para duas forças anciãs: agentes patogênicos e sistema imunológico. Parte da nossa personalidade talvez seja definida pelo sistema imunológico” completou Kipnis.
Essa teoria só foi testada em ratos de laboratório, então ainda não podemos estabelecer uma conexão com humanos, ou até mesmo indicar que essa conexão existe, mas Kipnis e outros autores acreditam que isso pode ter efeitos em pessoas com transtornos de personalidade.
No vídeo abaixo, em inglês, os cientistas falam mais sobre o estudo: