Stonehenge pode ser formado por pedras de um monumento ainda mais antigo
Arqueólogos britânicos descobriram o local de um antigo círculo de pedras no oeste do País de Gales, que acreditam ter sido desmontado e posteriormente reconstruído como o Stonehenge.
Uma nova pesquisa publicada na Antiquity descreve a descoberta de um círculo de pedra desmontado nas colinas Preseli, no oeste do País de Gales. Chamado de Waun Mawn, ele é agora o terceiro maior círculo de pedra encontrado na Grã-Bretanha, sendo os outros Avebury, em Wiltshire, e Stanton Drew, em Somerset.
A localização deste antigo círculo de pedra é notável por ser próxima a uma pedreira de onde se acredita que as pedras azuis de Stonehenge foram retiradas. Isso poderia explicar por que as pedras do icônico monumento — que fica a 280 quilômetros de distância, na planície de Salisbury — foram transportadas de tão longe. A descoberta está lançando uma nova luz sobre os padrões de migração dos britânicos do Neolítico, ao mesmo tempo que mostra que um curioso mito de 900 anos pode realmente conter um pouco de verdade.
As pedras azuis de Stonehenge foram as primeiras a serem erguidas no local megalítico, há cerca de 5.000 anos. Essas pedras duraram séculos antes da instalação das monumentais pedras sarsen, que foram obtidas em uma pedreira localizada a cerca de 24 quilômetros de Stonehenge.
Waun Mawn foi sinalizado como um local de interesse potencial em 2010, mas permaneceu inexplorado porque outros sítios arqueológicos passaram a ter prioridade. Em 2017, uma equipe liderada por Mike Pearson, do Instituto de Arqueologia da University College London, decidiu dar uma olhada mais de perto, resultando na descoberta de duas pedras. Escavações subsequentes em 2018 resultaram na descoberta de mais duas, além de seis “cavidades vazias das quais os monólitos em pé foram removidos”, como os autores escrevem no artigo. A equipe estima que o local já tenha consistido de 30 a 50 pedras.
A datação de sedimentos e carvão encontrados em Waun Mawn sugere que as pedras foram erguidas entre 3600 e 3200 a.C. A datação por radiocarbono e a luminescência opticamente estimulada (que mede o período de tempo desde que os minerais foram expostos à luz do Sol pela última vez) foram usadas para determinar as datas.
Foi a “informação escondida e preservada nos solos que forneceu a cronologia para a construção, e depois o desmantelamento do círculo de pedra Waun Mawn, intrigantemente pouco antes de pedras semelhantes serem erguidas em Stonehenge”, explicou Tim Kinnaird, coautor do estudo e arqueólogo da Universidade de St. Andrews, em um comunicado.
Uma vista aérea do local. Imagem: MP Pearson et al., 2021/Antiquity
Com 110 metros de largura, Waun Mawn e a vala ao redor de Stonehenge têm diâmetros semelhantes, e ambos os monumentos foram orientados para se alinharem com o nascer do sol do solstício de verão, de acordo com a pesquisa. Além do mais, uma pedra azul de Stonehenge apresenta uma seção transversal distinta que combina perfeitamente com um buraco encontrado em Waun Mawn. Fragmentos de rocha encontrados no mesmo buraco também correspondem aos encontrados em Stonehenge.
A descoberta ainda ajuda a explicar algumas perguntas não respondidas sobre as pessoas que viviam no oeste do País de Gales na época. Preseli Hills era uma região importante e densamente povoada no Neolítico da Grã-Bretanha, mas as evidências dessas pessoas de 2.000 a 3.000 a.C. são praticamente inexistentes. É “como se eles simplesmente tivessem desaparecido”, disse Pearson no comunicado, acrescentando que essas pessoas possivelmente migraram, “levando suas pedras — suas identidades ancestrais — com elas”.
Um buraco descoberto em Waun Mawn, incluindo a embalagem usada para proteger a pedra perdida. Imagem: MP Pearson et al., 2021/Antiquity
Essa hipótese está de acordo com pesquisas anteriores; uma análise isotópica de restos cremados mostrou que aproximadamente 16% das pessoas enterradas em Stonehenge “viveram as últimas décadas de suas vidas nas rochas Ordovicianas/Silurianas do sudoeste do País de Gales — incluindo em torno dos afloramentos das colinas Preseli”, de acordo com o novo artigo. A possibilidade de as pessoas e seus rebanhos terem migrado do oeste do País de Gales para a planície de Salisbury parece totalmente plausível, dada a nova descoberta.
O trabalho recente feito por Pearson e sua equipe “demonstra o grau de mobilidade” que era “parte da vida pré-histórica na Grã-Bretanha”, explicou Vincent Gaffney, arqueólogo da Universidade de Bradford que não participou do novo estudo, por email. A “determinação das pessoas” de tão longe em “potencialmente contribuir para a construção do monumento [Stonehenge] nos diz muito sobre como as comunidades pré-históricas foram estruturadas e as complexas inter-relações de povos distantes”.
Ele acrescenta: “Sem dúvida, precisaremos de mais pesquisas para esclarecer os detalhes de tais relações, mas este é um passo significativo.”
A descoberta também pode explicar uma lenda do século 12, na qual Merlin levou um exército para a Irlanda para capturar um círculo de pedra mágico. Chamado de Giants’ Dance (“Dança dos Gigantes” em tradução livre), este círculo de pedra foi posteriormente reconstruído como Stonehenge como um memorial aos mortos, de acordo com o conto. A história é bastante duvidosa, mas pode haver alguma verdade nela, como sugere a nova pesquisa.