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Supercopa: quando um torneio tosco pode fazer diferença

Criado para emular a competição mais tosca da Europa, o troféu erguido no mausoléu do 7 a 1 pode influenciar as temporadas de São Paulo e Palmeiras.
Imagem: Divulgação/CBF

Não, a Supercopa do Brasil não tem valor algum esportivamente. Ela paga um bom prêmio (cerca de R$ 10 milhões) que pode ajudar as contas de qualquer clube no Brasil. Mas o jogo de domingo era mais uma armadilha do que uma meta. Armadilha porque, apesar de não valer nada, uma vez que você disputa, você tem que ganhar, e o São Paulo do neófito Thiago Carpini escapou de já começar a temporada sob suspeita.

O que o Palmeiras perdeu ontem? Nada. É o melhor time do Brasil, segunda maior folha salarial, ganha um troféu atrás do outro, tem o melhor técnico do país há muito tempo. Não teve nenhum contundido, e nem mesmo chegou a perder com a bola rolando. Então tanto faz como tanto fez? Provavelmente não, mas é o que o futuro vai nos responder.

Indo para seu quarto ano no clube, Abel Ferreira está num momento em que ser bom não basta mais. Seu time é completo, tem dinheiro para investir e a maioria dos adversários com um nível técnico muito baixo. Nem ele, nem a torcida, nem os jogadores podem se dar ao luxo de ter uma folga de vez em quando. Se ele pudesse escolher, duvido que teria optado por uma partida contra um time tão rival, num momento da temporada em que a preparação física ainda está em cerca da metade do ideal, com a Libertadores entrando nas fases preliminares. É mais ou menos como o Estadual: ganhar não vale nada, perder pode te jogar numa crise. O Palmeiras não vai entrar em crise por perder a Supercopa nem no sonho dos rivais mais insanos, mas que ficou um gosto ruim na boca, isso ficou.

Para o São Paulo, é o extremo oposto. Bater o arquirrival é sempre bom, mas valendo uma taça, nem que fosse o Torneio Bozo de futebol (que seria um pouco abaixo da Supercopa), é melhor. É melhor porque a torcida sabe que hoje não há comparação com o rival ao longo de um campeonato, mas num jogo seco, se defender bem, qualquer time pode vencer um superior mais forte E o São Paulo conseguiu se defender – não espetacularmente, mas deu para o gasto.

Com a taça, Thiago Carpini ganhou algumas semanas de sobrevida no caso do time entrar em crise. Com 3 semanas de treino, o Tricolor segurou um Palmeiras que é um time pronto, se dando ao luxo de não ter seu principal atacante (Lucas Moura) e um meia que já foi o armador do Real Madrid (mas ainda é inexistente, especialmente com o salário que tem). O time ainda tem algumas falhas defensivas, mas no geral ainda está acertando mais do que estava há alguns meses.

Com a vitória, o São Paulo pode se preparar para o primeiro semestre com menos peso, podendo até não ser campeão paulista sem que os corneteiros queiram trazer mais flops sub-40 que custem o olho da cara. Carpini precisa gastar os jogos-treino do Paulistão para acertar a defesa, não tomar gols de bola parada (que são SEMPRE gols evitáveis) e ter um time titular que jogue sempre, com os reservas atuando quando der, ou em jogos mais irrelevantes (ou seja, mais da metade das partidas que não forem na Libertadores ou no Brasileiro).

Não acredito que o Palmeiras entre em campo nos seus próximos jogos com a autoconfiança abalada por um jogo perdido nos pênaltis, mas certamente vai ter que mostrar jogo após jogo por que é o bicho-papão da década até aqui. Com algumas boas atuações, a Supercopa será passado. Para o São Paulo, o foco é acertar a defesa. Não consigo pensar numa contratação possível (ou seja, barata o suficiente) que vá melhorar as chances de mais títulos. 99% das contratações que o clube fez nos últimos cinco anos realmente não tinham uma alternativa no mínimo equivalente já no elenco. Carpini precisa focar no treino: como fazer os zagueiros diminuir espaços no campo, como os marcadores fecham nos lançadores de bola e, com urgência, fazer com que não haja mais nenhum perigo na bola parada. Ele precisava de tempo para isso – treino. E a Supercopa lhe deu algum. Pouco, mas deu. Vejamos o que ele faz com isso.

 

Cassiano Gobbet

Cassiano Gobbet

Jornalista, vive na trilogia futebol, tecnologia e (anti) desinformação. Criador da Trivela, ex-BBC, Yahoo e freelancer em três continentes. Você o encontra no Twitter, Bluesky ou por aí.

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