Cientistas australianos estão em meio a uma investigação de um surto de herpes em tartarugas-verdes na Grande Barreira de Coral australiana, e eles dizem que a praga – que causa crescimentos anormais na pele, boca, olhos e órgãos internos dos animais – é provavelmente causada pela poluição.
Ao longo dos últimos três anos, Karina Jones, da Universidade James Cook, em Townsville (Austrália), vem investigando fibropapilomatose (FP) em tartarugas-verdes na Grande Barreira de Corais. Essa doença, ativada por um vírus da herpes específico para tartarugas, causa tumores desfigurados ao redor dos olhos, axilas, órgãos genitais, pescoços e nadadeiras. Os tumores são benignos, mas podem levar à morte, conforme o crescimento obstrui a visão e impede que o animal encontre comida ou escape de predadores ou barcos. A enfermidade também faz com que elas fiquem mais vulneráveis a outras infecções.
Uma tartaruga-verde havaiana com fibropapilomatose (Foto: Peter Bennett & Ursula Keuper-Bennett)
Os cientistas não têm certeza de como nem por que as tartarugas pegam a doença, nem por que ela se espalha como se fosse fogo. Outras partes do mundo também registram surtos parecidos. Há 40 anos, a FP era vista em cerca de 28% a 67% das tartarugas marinhas. Hoje, ela pode estar em até 92% em certas regiões, e é mais comum em climas mais quentes.
Conforme diz a New Scientist, uma pesquisa não-publicada feita pela equipe de Jones mostra que as taxas de vírus da herpes são mais comuns ao longo de um trecho específico das águas da Ilha Magnetic, um ponto turístico popular na barreira de corais. As pesquisas dos cientistas mostram que metade das tartarugas nessas águas têm FP, em comparação com 10% em qualquer outra área da Baía de Cockle.
O estudo reforça a ideia de que há uma conexão entre FP e atividade humana. Pesquisas anteriores mostraram uma correlação forte entre habitats próximos à costa e a doença.
O mais importante é que o vírus existe ao redor do mundo, e muitas tartarugas carregam ele – só que na maior parte do tempo ele é dormente. “Acreditamos que possa existir algum gatilho externo que causa o desenvolvimento do tumor,” disse Jones à New Scientist. Esse “gatilho externo” provavelmente é a poluição, mas os pesquisadores não sabem quais contaminantes são os responsáveis.
Para o futuro, a equipe planeja avaliar os dados históricos de qualidade da água e testar amostras de água para buscar compostos químicos como metais pesados, pesticidas e fertilizantes. Os pesquisadores também vão coletar amostras sanguíneas das tartarugas para descobrir o que está acontecendo a nível fisiológico.
É uma tarefa difícil, mas esse trabalho é imensamente importante. Tartarugas-verdes marinhas são espécies em risco, atualmente ameaçadas pela colheita dos seus ovos, caça dos adultos, pesca e perda de locais de nidificação em praias. Elas não precisam de mais inimigos.
Foto de topo: Tartaruga-verde com fibropapilomatose (via Karina Jones/Universidade James Cook)