Fabricante do smartphone de R$ 15 devolve dinheiro a clientes para limpar imagem
O caso do Freedom 251, smartphone mais barato do mundo, é bem estranho: uma fabricante indiana diz que venderá este dispositivo Android pelo equivalente a R$ 15, o que levantou diversas suspeitas. Ela vem tentando melhorar a imagem, mas essa história está longe de acabar.
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Trinta mil pessoas pagaram o equivalente a R$ 15 (mais frete de R$ 2) pelo smartphone. O dinheiro estava depositado no serviço de pagamentos PayU Biz, e só seria liberado quando a Ringing Bells apresentasse uma prova de que havia entregue os produtos.
Mas Mohit Goel, diretor da Ringing Bells, agora diz que todo esse dinheiro foi reembolsado aos clientes. O pagamento será feito na entrega do smartphone, em vez de ser realizado online.
“A empresa decidiu que vamos, daqui para a frente, oferecer o modo de pagamento ‘dinheiro na entrega’ para aqueles que tiverem feito o pedido do smartphone Freedom 251. Isso irá garantir ainda mais transparência e eliminará quaisquer dúvidas”, disse Ashok Chadha, presidente da Ringing Bells, em um comunicado.
“Nós não queremos o dinheiro dos clientes neste início. Temos investidores para apoiar nosso projeto. Há um modelo de negócios para justificar o preço. Temos um plano infalível, e quem o conhece já concordou com ele. Eu não quero revelar detalhes completos por enquanto”, disse Goel.
Chadha disse anteriormente que o capital para fabricar o Freedom 251 virá de uma família “envolvida em negócios de commodities agrícolas”, sem revelar muitos detalhes. Por isso, o Ministério das Finanças da Índia abriu uma investigação para analisar detalhes financeiros e contas bancárias da empresa.
E o ministro das telecomunicações disse que o governo tomará medidas caso o smartphone não seja entregue para os clientes. O ministério fez uma avaliação interna sobre a viabilidade do Freedom 251, e acredita que ele não poderia custar menos de R$ 130.
No lançamento, a Ringing Bells disse que o smartphone mais barato do mundo foi desenvolvido “com imenso apoio do governo indiano”, mas parece que isso não é verdade. “Este não é um projeto do governo. A equipe do ‘Make in India’ não tem nada a ver com isso”, disse Amitabh Kant, secretário do Departamento de Política Industrial e de Promoção (DIPP).
O governo indiano está monitorando a Ringing Bells de perto. Ela está passando por um enorme escrutínio na Índia, o que não deve mudar tão cedo.
E parece que a Ringing Bells está prestes a enfrentar problemas jurídicos. Ela contratou a empresa de call center Cyfuture para resolver dúvidas sobre o Freedom 251; o problema aparentemente chegou na hora de pagar.
“Quando começamos a pedir nossos pagamentos, que deveriam ser feitos semanalmente, eles passaram a fazer alegações falsas e abruptamente decidiram encerrar o contrato citando serviços insatisfatórios”, disse Anuj Bairathi, CEO da Cyfuture.
A Cyfuture foi à polícia registrar um FIR (espécie de boletim de ocorrência) por fraude e não-pagamento de dívidas, e cogita abrir um processo por difamação contra a Ringing Bells, “porque a alegação de que fizemos um serviço ruim manchou a nossa imagem”, disse Bairathi.
Chadha, presidente da Ringing Bells, se defende dizendo que “recebemos milhares de queixas diretamente dos consumidores de que muitas pessoas não foram capazes de acessar o atendimento por telefone”.
A Cyfuture diz que o contrato pedia por cem funcionários no call center, mas o atendimento estava recebendo picos de 1,2 milhão de chamadas por hora. (A Índia tem 1,3 bilhão de habitantes.)
O Freedom 251 possui tela IPS de 4 polegadas e resolução 960 x 540, processador quad-core de 1,3 GHz, 1 GB de RAM e 8 GB de armazenamento expansível. Essas especificações são uma bagatela por R$ 15; resta ver se o smartphone será mesmo entregue.
Há uma fila de espera com 70 milhões de cadastros para adquirir o Freedom 251. A empresa diz que vai entregar 5 milhões de unidades até o final de junho.
Foto por Saurabh Das/AP