Tablets da Polícia Militar nas viaturas custaram R$25 milhões, mas estão funcionando mal
Quando a Polícia Militar do Estado de São Paulo (PMESP) comprou 11.750 tablets para equipar as viaturas, esperava-se que o trabalho dos policiais ficasse mais ágil: registrar ocorrências direto no tablet, ou consultar placas e pessoas suspeitas. Para isso, o aparelho precisa ficar ligado constantemente à internet móvel. Só que ele não consegue: policiais enviaram relatório à Assembleia Legislativa dizendo que os tablets não funcionam direito.
A Folha conversou com mais de dez PMs que receberam o tablet na região metropolitana de SP, e eles confirmam: os aparelhos têm problema e dificilmente se conectam à internet. Os tablets i-MXT, criados e fabricados no Brasil, aparentemente não conseguem se conectar bem à rede 2G da Vivo.
Técnicos ouvidos pela Folha dizem que os tablets da PM “não conversam” bem com a rede da Vivo, mas a operadora não comenta. A Maxtrack, fabricante do i-MXT, diz que seu aparelho se comunica, sim, com a rede da Vivo. A operadora cobra R$30 mensais de cada chip pelo serviço de dados, o que totaliza R$4,2 milhões por ano.
Sem 3G
Os tablets não têm 3G. Em julho, o coronel Alfredo Deak Jr., diretor de tecnologia da PM, justificou a ausência de 3G dizendo que a polícia não usaria as redes 3G brasileiras “por concorrerem com a infraestrutura civil e estarem sujeitas a congestionamentos”.
Mas o comando da Polícia Militar paulista, que nega falhas nos tablets, agora diz em nota: “Importante lembrar que a rede de telefonia móvel é a mesma que atende à iniciativa privada. Portanto, é impossível exigir alta disponibilidade do serviço de transmissão de dados…” Ou seja, há problema mesmo por EDGE, algo que poderia ser mitigado se o tablet tivesse 3G também – ele alternaria entre as duas redes.
O comando da PMESP afirma em nota que eventuais problemas podem ser causados por “15% de falhas da operadora Vivo e 10% de falhas operacionais do policial” – a culpa não seria dos aparelhos. A PMESP ainda diz que a falta de internet “não compromete a operação dos tablets”, porque eles serviriam principalmente para controle de viaturas – o tablet, instalado nos carros, é rastreável mesmo desligado. Mas os tablets da PM sempre foram divulgados como uma forma de comunicação entre a viatura e a central, não apenas para rastrear os carros.
Homologação
3.000 dos quase 12.000 tablets começaram a ser usados nas viaturas da PM, desde janeiro de 2011, sem a homologação da Anatel – os aparelhos só foram aprovados pela agência sete meses depois. O coronel Alfredo Deak, da PM, diz à Folha que “o equipamento foi homologado em agosto [de 2011] e a entrada em operação só se deu após essa data”. Mas e antes de agosto? Deak diz que “apenas uma parcela para teste” foi entregue no início do ano, e a maior parte foi entregue em julho. Segundo a Folha, a Anatel deve testar esses tablets para saber se o modelo em uso é exatamente o mesmo que foi certificado.
A fabricante Maxtrack diz que o tablet usa um modem GPRS/EDGE, “um subproduto interno ao equipamento homologado desde 2008”. Mas a Anatel diz que, mesmo que os componentes sejam certificados, o aparelho só pode ser vendido se for testado e aprovado pela agência como um todo.
Quem ganhou a licitação para distribuir os tablets foi a Neel Brasil Tecnologia. Lembra-se dela? Foi a mesma que distribuiu GPS xing-ling para a Guarda Civil Metropolitana de São Paulo – os aparelhos já foram lacrados pela Anatel. Também foi ela que venceu licitação para alugar tablets à prefeitura de São Paulo por R$14.000 a unidade – a licitação foi suspensa. E o dono da empresa, Carlos Alberto Zafred Marcelino, é acusado pelo Ministério Público de envolvimento em fraude de inspeção veicular no Rio Grande do Norte. Há ordem de prisão contra ele, mas Zafred é foragido da Justiça. [Folha e FSP (assinantes)]