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Tecnologias verdes já permitem aproveitar macroalgas na indústria cosmética

Pesquisa segue conceito zero waste na produção de ativos naturais de organismos marinhos

Tecnologias verdes já permitem aproveitar macroalgas na indústria cosmética

Foto: Pixabay

Texto: Ricardo Muniz | Agência FAPESP

Artigo publicado na revista Phycology demonstra que há espaço para transformar 100% da matéria-prima de macroalgas em ingredientes para indústrias cosméticas, empregando tecnologias verdes já disponíveis industrialmente.

“O artigo surgiu da ideia de aproximar o desenvolvimento de pesquisas científicas relevantes no universo das macroalgas com potenciais demandas da indústria cosmética”, conta Leonardo Zambotti Villela, doutor em bioquímica e biologia molecular pelo Instituto de Química da Universidade de São Paulo, pesquisador do Laboratório de Bioquímica e Biologia Molecular (LBBM) do IQ-USP e um dos autores do artigo.

“Em nossa revisão, avaliamos como os extratos das macroalgas são utilizados atualmente e demonstramos quais outras atividades biológicas são possíveis e interessantes para a indústria cosmética. Buscamos consolidar todo o conhecimento reunido da literatura científica e industrial em cenários e estratégias de biorrefinaria para explorar a macroalga como matéria-prima 100% transformada em ingredientes. Neles, montamos o pipeline, ou seja, o caminho a seguir desde a coleta/produção das macroalgas até os processos pós-produtivos.”

Figura resume cenários de biorrefinaria de macroalgas para a indústria cosmética. Crédito: Hempel, Colepicolo e Villela/IQ-USP

O estudo é um dos resultados de pesquisa apoiada pela FAPESP e integra o projeto de mestrado de Mariana Hempel pelo programa de pós-graduação em biotecnologia marinha do Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira, da Marinha, e pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Hempel foi orientada por Pio Colepicolo, doutor em bioquímica pela USP com pós-doutorado em Harvard e coordenador do LBBM.

Segundo Villela, que foi convidado por Colepicolo para coordenar a revisão do artigo, um dos objetivos do grupo foi adicionar aos estudos protocolos que facilitem a transição dos resultados da pesquisa científica para a aplicação industrial.

Ele aponta que, nas pesquisas em biotecnologia, muitas coisas ainda não são devidamente exploradas: “A indústria só pode aproveitar resultados de toxicidade, atividades biológicas, como efeito anti-idade, antioxidante etc., se foram oriundos de experimentos que sigam estritamente os protocolos de agências como OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico] e ISSO [Organização Internacional para a Padronização]. Nosso trabalho encurta o caminho dessa transição”.

A exploração completa dos extratos pode ser um veículo para que o setor cosmético atenda às demandas ESG – sigla em inglês para sustentabilidade ambiental, social e de governança –, muito em voga no mundo corporativo.

Projetos Temáticos da FAPESP e outros de outras agências de fomento permitiram reunir um corpo de evidências sobre o potencial das macroalgas marinhas espalhadas pela costa brasileira. “Sempre estivemos à frente de pesquisas de bioprospecção e ecotoxicológicas, de biotecnologia e ecologia. Também, por muitos anos, trabalhamos no Programa Antártico Brasileiro [Proantar] e coletamos macroalgas do continente antártico para estudos ambientais e de prospecção de ativos biológicos”, diz Villela.

O grupo de pesquisa integra o Redealgas, uma articulação de pesquisadores de diversas instituições brasileiras e internacionais para a avaliação do potencial das algas, principalmente macroalgas, sob aspectos biotecnológicos e socioambientais. “É uma rede muito produtiva em termos acadêmicos e de geração de patentes, além de programas sociais com comunidades costeiras para o aprimoramento e o desenvolvimento profissional dessas populações”, conta Villela.

O artigo Macroalgae Biorefinery for the Cosmetic Industry: Basic Concept, Green Technology, and Safety Guidelines pode ser lido em: https://www.mdpi.com/2673-9410/3/1/14.

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