Telescópio do Atacama detecta possível formação de um planeta troiano pela 1ª vez

Nuvem de detritos a 400 anos-luz pode ser um exoplaneta bebê que compartilha a órbita com outro, três vezes maior que Júpiter
imagem do sistema planetário PDS70, com estrela no centro, planeta e nuvem de detritos
Imagem: ALMA (ESO/NAOJ/NRAO) /Balsalobre-Ruza et al./Reprodução

Um grupo internacional de astrônomos, chefiado por cientistas do Centro de Astrobiologia de Madrid, descobriu uma nuvem de detritos com massa equivalente à de duas Terras, que está a 400 anos-luz de distância. E esta imagem pode ser a evidência mais forte até o momento de que dois planetas podem compartilhar a mesma órbita.

A nuvem está no sistema PDS 70, na constelação de Centaurus. Existe uma estrela por lá, e dois planetas semelhantes a Júpiter ao seu redor, conhecidos como PDS 70b e PDS 70c. O anel brilhante que você vê na imagem abaixo é um disco circunstelar de material, a partir do qual os planetas estão se formando. O objeto dentro do pontilhado é a nuvem.

imagem do sistema planetário PDS70 com anotações

Imagem: ALMA (ESO/NAOJ/NRAO) /Balsalobre-Ruza et al./Reprodução.

Os astrônomos acreditam que esse amontoado de material é um protoplaneta: um novo planeta no sistema PDS 70, que está se formando ou, a essa altura, já se formou. Lembre-se que, dada a distância do sistema, estamos vendo como ele era 400 anos atrás. Este é o tempo que a luz daquele pessoal demora para chegar até nós.

O planeta bebê estaria na mesma órbita de PDS 70b, um gigante gasoso descoberto em 2018 que tem massa três vezes maior que Júpiter e leva mais de 119 anos para completar uma volta em torno de sua estrela. O possível planeta avistado pelos astrônomos seria, então, um exoplaneta troiano.

Planeta troiano

“Troiano” é o nome que se dá a corpos celestes, como asteroides e satélites, que dividem uma órbita com um corpo maior, como um planeta ou satélite. Corpos troianos são encontrados geralmente em pontos lagrangeanos do corpo maior: regiões em que a atração gravitacional da estrela e do corpo celeste se equilibram.

A Terra e o Sol, por exemplo, têm cinco pontos de Lagrange – que são assim chamados em homenagem ao matemático italiano Joseph-Louis Lagrange (1736-1813).

Nós aproveitamos estes pontos de intersecção gravitacional para estacionar objetos como o SOHO, satélite de observação da NASA, em L1, e o Telescópio Espacial James Webb em L2. Este mesmo ponto será a casa do Telescópio Euclid.

Evidências inéditas

Os pesquisadores do novo estudo, que foi publicado na revista científica Astronomy & Astrophysics, afirmam que até agora não se tinha muitas evidências de objetos troianos além do nosso Sistema Solar. Quando o assunto são planetas troianos, a situação é mais dramática ainda.

“Duas décadas atrás, foi previsto que pares de planetas de massa semelhante podem, teoricamente, compartilhar a mesma órbita em torno de sua estrela. [Estes seriam] os chamados planetas troianos ou coorbitais. Pela primeira vez, encontramos evidências a favor dessa ideia”, disse a principal autora do estudo, Olga Balsalobre-Ruza, em comunicado.

A equipe usou o telescópio ALMA, no Chile, para observar o sistema PDS 70. Para confirmar a descoberta de um planeta troiano, eles terão que esperar até 2026 para usar o ALMA novamente e ver se a nuvem de detritos avançou em seu período orbital ao redor da estrela.

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