Depois de quase uma década de planejamento, a construção do Telescópio Gigante de Magalhães (GMT na sigla em inglês) está finalmente acontecendo. E olha, ele será bem legal.
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Empoleirado no alto das montanhas do norte do Chile, o GMT será o maior telescópio óptico já construído: ele será composto por sete espelhos com 8,4 m de diâmetro. Seus espelhos serão capazes de concentrar mais de seis vezes a quantidade de luz dos maiores telescópios ópticos atuais, obtendo imagens 10 vezes mais nítidas do que as capturadas pelo Hubble.
“Toda vez que alguém constrói um novo telescópio, aprendemos algo sobre o universo que nós nunca esperávamos”, diz Patrick McCarthy, diretor do Observatório do Telescópio Gigante de Magalhães, ao Gizmodo. “A astronomia se trata de descobrir coisas novas, e telescópios são a nossa ferramenta de trabalho.”
Trabalhando em conjunto com futuros telescópios espaciais, incluindo o Telescópio Espacial James Webb, o GMT permitirá que astrônomos voltem mais no tempo do que antes, observando o nascimento de estrelas e a formação das primeiras galáxias nos cem milhões de anos iniciais do universo.
Ao apontar um telescópio para o céu, ele nos traz imagens do passado: a luz viaja a cerca de 300.000 km/s, então a imagem de galáxias a bilhões de quilômetros de distância pode levar milhões de anos para chegar até nós. Assim, quanto mais sensível à luz for o telescópio, mais poderemos ver do espaço.
“O Hubble tem nos dado visões excelentes de como o universo evoluiu quando tinha entre 2 e 5 bilhões de anos”, diz McCarthy. “Ele também nos deu uma visão bem tentadora do universo que veio antes. Agora nós poderemos olhar para o passado e ver a formação das primeiras estruturas, quando o universo passou de um mar uniforme de gases para um conjunto de estrelas e galáxias.”
Outro objetivo científico do GMT será dar uma boa olhada em alguns dos exoplanetas que orbitam estrelas próximas. Este trabalho será feito em conjunto com o TESS (Satélite de Pesquisa sobre o Trânsito de Exoplanetas, na sigla em inglês), um pequeno telescópio espacial da NASA que irá detectar as sombras minúsculas dos planetas distantes que passam na frente de suas estrelas.
Quando o TESS chegar ao espaço em 2017, ele vai mirar nos nossos vizinhos mais próximos, obtendo a distribuição dos planetas na nossa vizinhança cósmica.
Se o TESS detectar um mundo vizinho que pareça interessante, os astrônomos serão capazes de usar o GMT para dar uma olhada nele, medindo a massa do planeta usando a técnica Doppler. Em alguns casos, o GMT poderá medir a impressão digital espectral da luz filtrada pela atmosfera de planetas próximos; isso permite aos astrônomos identificar a composição química da atmosfera e caçar por sinais de vida.
Um desafio constante para os astrônomos é lidar com a distorção do espaço causada pelas moléculas em nossa atmosfera. De acordo com McCarthy, o GMT será equipado com um mecanismo totalmente novo para ajudar a compensar isso.
Em princípio, a tecnologia funciona como um par de fones de ouvido com cancelamento de ruído, mas o GMT vai cancelar distorções da luz, ao invés de som. Depois que a luz é filtrada através dos espelhos primários do instrumento, ela atinge um conjunto menor de espelhos secundários, que mudam de forma aproximadamente 2.000 vezes por segundo para cancelar a distorção atmosférica.
O resultado é que, quando o GMT mira no céu noturno, ele o vê mais claramente do que qualquer ser humano, e melhor do que qualquer tecnologia na Terra.
No ano passado, o conselho executivo da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) autorizou o uso de US$ 40 milhões para participar do projeto GMT. Os custos devem ser compartilhados entre a fundação e o Ministério da Ciência e Tecnologia. Dessa forma, astrônomos de todos os estados do Brasil terão acesso ao telescópio.
O GMT será um de três telescópios extremamente grandes, com abertura superior a 20 m de diâmetro. Há outro em construção no Chile (o Telescópio Europeu Extremamente Grande, ou E-ELT), e um no Havaí (o Telescópio de Trinta Metros). Eles serão inaugurados a partir de 2022.
Eu mal posso esperar para ver o que descobriremos. [Telescópio Gigante de Magalhães]
Imagens por Giant Magellan Telescope