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Telescópios, buraco gigante e ida a Marte: o que o Atacama, no Chile, tem de diferente?

O deserto do Atacama, no Chile, é uma das regiões mais altas do mundo, com 2,2 mil metros de altitude; entenda a origem da mística que envolve o lugar.

Telescópios, buraco gigante e ida a Marte: o que o deserto do Atacama tem de diferente?

Imagem: Daniele Nabissi/Unsplash/Reprodução

Com mil quilômetros de extensão, o deserto do Atacama, no Chile, é uma das regiões mais impressionantes do planeta. Só neste ano, o lugar viu a formação de um buraco gigante, foi palco de uma simulação para viagem a Marte e, em breve, vai receber um dos maiores telescópios já construídos. 

Não é por acaso: o Atacama é um dos desertos mais altos do mundo, estando a mais de 2.240 metros acima do nível do mar. Em alguns pontos, pode chegar a 4 mil metros. Sem a interferência das luzes urbanas, é o lugar perfeito para observar o céu. 

Por isso, a região do extremo norte do Chile foi a escolhida para sediar o E-ELT (Telescópio Europeu Extremamente Grande, na tradução literal). O equipamento, que tem conclusão prevista para 2027, deve ser o mais poderoso telescópio já feito, com capacidade de observação em mais de 5 mil vezes. 

Orçado em mais de R$ 6,7 milhões, o equipamento terá 39,9 metros de diâmetro – muito mais que os telescópios atuais, que têm diâmetros entre 8 e 10 metros. Isso possibilita captar 15 vezes mais luz que os telescópios ópticos que existem na atualidade, e fornecer imagens 15 vezes mais nítidas que o telescópio espacial Hubble. 

Apesar da tecnologia, a localização ajuda: o ELT ficará a mais de 3 mil metros de altitude na montanha Armazones, a quase 20 quilômetros do VLT, outro telescópio superpotente no deserto do Atacama. O ponto vai permitir a observação em 90% das noites do ano.

Buraco gigante 

Além de ser o deserto mais alto do mundo, o Atacama também conta com ricas reservas de minérios, em especial de cobre.

O elemento era explorado pela mineradora Ojos de Salgado quando surgiu o buraco gigante na comuna de Tierra Amarilla, no final de julho. Agora, a companhia é alvo de processo do governo do Chile por excesso de mineração.  

Buraco que apareceu em Tierra Amarilla, no deserto do Atacama, no Chile, tem mais de 60 metros de profundidade. Imagem: Sernageomin/Twitter/Reprodução

O mais provável é que os minerais sejam resquícios da queda de um cometa na região, há pelo menos 11 mil anos. O corpo celeste teria explodido ao se aproximar da superfície da Terra, o que formou um jato de fogo com ventos semelhantes ao de um furacão ou tornado. 

A explosão teria incendiado a vegetação que existia por lá e, assim, formou o deserto. Essa é a principal hipótese explorada hoje, tendo em vista descobertas de cientistas com base em rochas com formações cristalinas do local.

Calor de Marte

Tudo indica que este também é o motivo para o Atacama ser uma das regiões mais áridas do mundo. Há locais em que não chove há pelo menos 400 anos. Isso torna o lugar um espaço ideal para que a NASA “treine” os astronautas que vão passar um tempo em Marte. 

O ambiente extremamente seco se parece com as condições do planeta vermelho. Volta e meia, pesquisadores da NASA viajam ao Atacama e passam dias testando ferramentas e coletando dados científicos que possam explicar a existência de vida no deserto. 

Isso ajuda a viabilizar a exploração de Marte, que só tem água ou congelada nos pólos ou em minerais hidratados na crosta terrestre. A hipótese da NASA é que, por lá, aconteça algo parecido com o deserto do Atacama: a pouca vida que existe está na forma de micróbios que vivem no subsolo ou dentro das rochas. 

“Se a vida existe ou já existiu em Marte, a secura da superfície do planeta e a extensão exposição à radiação provavelmente a levariam ao subsolo”, disse a NASA em uma de suas inspeções de 2017. “Isso torna locais como o Atacama ideias para praticar a busca de vida em Marte”.

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