A minha infância foi bastante ativa. Eu era tão destemido quanto qualquer pirralho. Eu me divertia na lama e trepava em qualquer brinquedo metálico de parquinhos (que agora foram banidos nos EUA). Eu era insaciável. Mas daí eu encontrei os pijamas com pezinhos.
Eu me lembro de, à primeira vista, ter adorado a ideia. Aquele pijama era despretensioso, mas quentinho. Confortável. O tecido trigueiro fazia eu me coçar todo, mas era tolerável porque me oferecia uma proteção de casulo estilo traje espacial contra aqueles frios invernos da Nova Inglaterra.
Os gloriosos pés almofadados vinham com solas de borracha que me proporcionavam o atrito necessário para fazer curvas fechadas após descer correndo as escadas do salão de entrada pra entrar na sala de estar. De fato, enquanto meias me fariam escorregar e acertar em cheio o antigo relógio de família próximo à porta de entrada, este pijama agarrava firmemente o chão, permitindo que eu executasse manobras em alta velocidade pela casa que eram o motivo de inveja dos meus amigos menos afortunados e menos pijamificados. Eu confiava naquela roupa absoluta e completamente. Olhando agora, tal ingenuidade foi provavelmente a minha derrocada.
Veja bem, eu era jovem. Aquela engenhoca à frente do pijama era algo totalmente alienígena para mim. O zíper. Eu não “entendia” como ele conseguia separar duas peças de tecido e depois uni-las. Ou seja, a minha mãe precisava me ajudar a vesti-lo.
No começo, o arranjo não era muito memorável. Mamãe segurava o pijama com os pés como se fosse um técnico da NASA e eu saltaria pra dentro dele, ávido para me recobrir por ele para eu voar escada abaixo e orbitar pela casa a quase 15 km/h. Mas, antes disso, eu precisava virar 180º para que mamãe pudesse me trancar ao puxar pra cima o zíper. Foi assim que as coisas funcionaram durante os primeiros meses do inverno. Salta pra dentro, vira, zipa, corre. São e salvo.
Mas um belo dia, enquanto eu saltava para dentro deste acolhedor pijama com os pezinhos, algo estava diferente. Acho que mamãe teve um dia ruim no escritório. Ou então era o fato de às 4 da tarde já estar escuro em Massachusetts durante o inverno e ela estava deprimida. Não faço ideia. Seja o que for, distraiu mamãe a ponto de ela não levar em conta todas as variáveis da tarefa que ela estava prestes a executar.
Filho dentro do pijama? Certo.
Virou pra mim? Certo.
Peguei zíper? Certo.
Executar puxão de zíper? Preparar para lançamento.
O que faltava nesta listinha, é lógico, era qualquer menção ao meu pênis ou a sua localização naquele momento.
Agora, antes de chegarmos à parte em que aproximadamente 60% do público do Gizmodo ficará em uma patética posição fetal, um adendo. Muitos de vocês podem achar que chamar um mero zíper de “máquina” é forçar demais a barra, mas quanto a isso eu digo que você nunca passou pelo que eu, o personagem de Ben Stiller em Quem vai ficar com Mary? ou milhões de outros desafortunados homens já passaram ao longo da história desde a invenção do maldito zíper. Ou então você está mentindo e não tem um pênis.
Seja qual for a sua história, eu concedo este adendo sobre “as máquinas” porque, acredite em mim, eu preferiria me deparar com um T-600 – pele esfolada e distúrbio de personalidade e tudo o mais – a ter outro incidente com aquele zíper. Sempre. Ah, aqueles dentes. Aquele som inclemente de algo rangendo enquanto o mecanismo lentamente ralava tudo ao longo do meu bilau. Aquele puxão orgânico e abafado que o zíper deu enquanto mordia a minha carne. O Beliscão. O….
Oh, mil perdões. Acho que caí da cadeira.
De todo modo, até hoje, mais de 20 anos depois, eu ainda penso subconscientemente nesta história quando eu visto uma calça jeans ou uma daquelas calças esportivas. Braguilhas de botões são a dádiva de Deus, na minha opinião, e eu mudei para sempre a partir daquele dia. Um pouco mais instigador, um pouco mais cauteloso. Especialmente com você sabe o que.
Tudo está funcional agora, isso eu posso garantir, mas aquele pijama com pezinhos foram pro lixo naquele dia tão rápido que o saco plástico derreteu dentro da lixeira. Meu humor naquele momento era a antítese daquela cena final do Exterminador do Futuro 2. Enquanto John Connor vertia lágrimas, meu alívio ao ver aquela maldita invenção indo em direção ao esquecimento chegava a ser palpável.
A enorme bolsa de gelo também dava uma sensação muito gostosa.
Máquinas de Comportamento Mortal: uma semana explorando a relação às vezes difícil entre o homem e a tecnologia.