Controversos testes de embriões prometem um bebê melhor
Quando os pais engravidam, eles não têm ideia de como o seu bebê será. A família pode até chutar que a criança nascerá com o cabelo da mãe ou os olhos do pai, mas esses fatores só são revelados após o nascimento.
Essas são ainda características físicas. Dizer se uma criança puxará a diabetes do avô, por exemplo, é algo ainda mais complicado, já que as doenças costumam mostrar sinais conforme o indivíduo cresce.
Como foi publicado na revista Nature, uma empresa americana chamada Genomic Prediction está trabalhando para mudar isso. Basicamente, os cientistas pretendem realizar testes genéticos em embriões durante o processo de fertilização in vitro, permitindo que a família escolha aquele com menores riscos de desenvolver doenças na vida adulta.
Por enquanto, a companhia oferece rastreamento para a esquizofrenia, quatro doenças cardíacas, cinco tipos de câncer e diabetes tipo 1 e tipo 2. O teste recebe o nome de PGT-P e utiliza pontuações de risco poligênico para prever os problemas.
Funciona assim: os cientistas utilizam biobancos para comparar diferenças sutis no DNA de pessoas com ou sem uma determinada condição. Então, treinam modelos de inteligência artificial para detectar essas diferenças, chamadas de polimorfismos de nucleotídeo único (SNPs).
Pense, por exemplo, que a maior parte das pessoas saudáveis possui a sequência GCTAGT, enquanto os indivíduos doentes apresentam as letras GCTTGT. Se o embrião apresentar a alteração, ele será considerado como grupo de risco.
O teste preocupa a comunidade científica. Em primeiro lugar, os hábitos, o ambiente em que está inserido e a própria dieta da pessoa podem influenciar no desenvolvimento de problemas de saúde. Além disso, pesquisadores acreditam que um único SNP pode representar uma diferença insignificante no risco de uma pessoa desenvolver doenças, sendo necessário considerar o todo.
A Genomic Prediction afirma que seus testes podem reduzir em 72% o risco dos pais em escolher um embrião que posteriormente desenvolva diabetes tipo 1, por exemplo. Porém, como foi explicado pela Nature, as chances da criança desenvolver a doença são extremamente raras para pais que já não possuem a predisposição genética, fazendo com que a equipe apenas reduza um pouco as chances de algo que já é praticamente improvável.
Há ainda a questão monetária. O tratamento de fertilização in vitro é caro e gera poucos embriões. Escolher entre cinco, por exemplo, diminui as chances de sucesso do procedimento, fazendo com que a família se desgaste e invista ainda mais no processo.