Reportagem: Natasha Pinell/Instituto Butantan
Quase quatro milhões de brasileiros vivem em áreas de risco e estão vulneráveis aos impactos provocados por chuvas intensas, enxurradas, inundações e deslizamentos de terra – os dados são do Serviço Geológico do Brasil, órgão vinculado ao Ministério de Minas e Energia. Além de mortes e danos materiais, desastres como os ocorridos no início de maio de 2024 e em setembro de 2023 no Rio Grande do Sul, e no litoral norte do estado de São Paulo em fevereiro do mesmo ano, podem aumentar a ocorrência de diversas doenças, entre elas o tétano acidental.
Considerado uma doença grave, o tétano é uma infecção aguda provocada pela bactéria Clostridium tetani, que pode ser encontrada na superfície de objetos de diferentes tipos de material, como metal, madeira ou vidro, assim como na terra, fezes, água suja, partículas de poeira e até mesmo na própria pele.
Situações como as de enchentes aumentam as chances de contaminação pelo microrganismo, uma vez que entulhos e destroços – como cacos de vidro, telhas e azulejos, pregos e parafusos – são levados pela força das águas, podendo provocar ferimentos na população. A bactéria, por sua vez, utiliza o ferimento para invadir o organismo e, ao se desenvolver, produz uma toxina bastante potente chamada tetanospasmina, capaz de agir sobre as células do sistema nervoso central.
De acordo com o Ministério da Saúde, mais de 500 casos de tétano acidental foram registrados no país entre 2021 e 2023, sendo a maioria dos atingidos aposentados, trabalhadores agropecuários e da construção civil, além de estudantes e donas de casa. Nos últimos anos, a taxa de letalidade foi superior a 25% – número considerado alto quando comparado ao de países desenvolvidos – e a evolução do quadro pode estar relacionada à idade da vítima, assim como a presença de complicações renais, respiratórias e infecciosas.
Sinais e tratamento
Em caso de ferimentos, recomenda-se lavar o local com água corrente limpa e sabão neutro. Também é indicado procurar o serviço básico de saúde para que um profissional avalie a situação da lesão. Por fim, é importante atentar-se ao aparecimento dos primeiros sintomas da doença, geralmente entre cinco e 15 dias após a contaminação, caracterizada por febre baixa, alterações na região do ferimento, contrações musculares dolorosas, rigidez dos membros e da região abdominal, além de dores na cabeça e nas costas.
Quadros mais graves podem englobar espasmos generalizados, dificuldade de deglutição, sudorese e arritmia cardíaca. Ainda de acordo com o órgão de saúde, situações em que o período de incubação é inferior a sete dias apresentam pior prognóstico.
O tratamento pode ser feito com o chamado soro antitetânico, medicamento produzido pelo Instituto Butantan a partir do plasma de equinos imunizados com a própria toxina tetânica, capaz de neutralizar o efeito provocado pela bactéria Clostridium tetani.
Prevenção
Além de utilizar equipamentos de segurança, como luvas, botas e capacete, sempre que possível, a imunização é a melhor prevenção contra a doença – e a vacina contra o tétano acompanha os brasileiros por toda a vida. Em um primeiro momento ela é chamada de pentavalente: em sua composição há anticorpos capazes de combater não só o tétano, mas também a difteria, a coqueluche, a hepatite B e infecções por Haemophilus influenzae B. A pentavalente é aplicada no primeiro ano de vida do bebê, seguindo um esquema de três doses.
Reforços devem ser feitos aos 15 meses e aos 4 anos de idade – nessas etapas, o imunizante é conhecido como DTP e, além do tétano, contribui para a prevenção da coqueluche e da difteria. Depois disso, a vacina deve ser administrada novamente a cada dez anos, agora sob o nome de dT, por prevenir a difteria e o tétano. Em caso de ferimentos graves ou gestação, o reforço precisa ser antecipado caso a última dose tenha sido há mais de cinco anos.
Incorporada ao Programa Nacional de Imunizações (PNI) em 1992, a vacina antitetânica contribuiu para uma queda expressiva nas ocorrências da doença. Segundo dados do Ministério da Saúde, em 1991 – um ano antes do início da vacinação – o Brasil tinha 1.460 casos de tétano em todo o território nacional; em 2023, foram apenas 135 registros.