Assim como “The Last of Us”, fungos podem estar se adaptando ao aquecimento global
A série “The Last of Us” apresentou ao grande público o fungo cordyceps. Na série, ele toma o corpo de humanos e os transforma em zumbis, causando um apocalipse. O que nem todo mundo sabe é que o tal fungo também existe na vida real — ainda que não torne humanos devoradores de cérebros, como você deve imaginar.
O cordyceps não é sequer capaz de afetar o corpo humano. Porém, o patógeno da série consegue fazê-lo por conta de a uma mutação genética. Mas, afinal, isso poderia acontecer de verdade?
Um apocalipse zumbi está fora de cogitação. Mas cientistas têm mostrado que os fungos causadores de doença podem evoluir em um clima quente para suportar melhor o calor dentro de nossos corpos.
Uma equipe formada por pesquisadores da Duke University School of Medicine, nos EUA, analisou um fungo chamado Cryptococcus deneoformans. Em laboratório, os cientistas fizeram um teste simples: elevaram sua temperatura de 30°C para 37°C. E isso alterou seu comportamento genético.
Nas temperaturas mais altas, os pesquisadores relataram uma movimentação cinco vezes maior entre os “genes saltadores”, elementos do DNA capazes de mudar de posição no genoma. Os genes em questão não são responsáveis diretos por produzir proteínas — e, assim controlar funções do corpo. Mas podem afetar a maneira como outros genes funcionam.
Foram rastreados três genes em particular: T1, Tcn12 e Cnl1. Segundo os cientistas, as mudanças feitas por eles poderiam gerar fungos com resistência a medicamentos no futuro, o que ameaçaria os humanos. O estudo que descreve a descoberta foi publicado na revista científica PNAS.
Não é preciso alarde. O estudo é inicial e não testou a ação dos fungos no corpo humano. Na verdade, ele mostra apenas a capacidade adaptativa do patógeno diante das mudanças climáticas.
De toda forma, é preciso ficar atento a pacientes com infecções fúngicas. Assim como qualquer microrganismo, os fungos apresentam risco no corpo de pessoas imunocomprometidas e com outras comorbidades, já que o sistema imunológico enfraquecido pode acabar permitindo mutações.