Tim Berners-Lee, o pai da web, está preocupado com o futuro da sua cria
Este final de semana marcou o 28º aniversário do dia em que Tim Berners-Lee apresentou a sua proposta do que viria a se tornar a World Wide Web. Para comemorar a ocasião, ele publicou uma carta, destacando as áreas da sua criação que estão o deixando assustado ou que estão deturpadas em relação ao objetivo inicial.
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Berners-Lee ainda dirige a World Wide Web Consortium, que desenvolve os padrões abertos para a web. É uma posição que dá a ele uma tremenda influência. Mas agora que a web é verdadeiramente “mundial”, governos e corporações bilionárias detêm a maior parte do poder. Embora a maioria dos problemas apontados na carta não seja muito nova, ele afirma que tem ficado “cada vez mais preocupado com as novas tendências” mostradas nos últimos 12 meses.
Estas são as coisas com que Tim está preocupado:
1. Perda do controle dos dados pessoais
Berners-Lee reconhece o problema que nós todos passamos a aceitar termos de serviços confusos que vêm com as tecnologias privadas que utilizamos. Isso também se tornou um problema com a vigilância governamental, que coleta dados e monitora comunicações sem pedir por permissão pessoal. Berners-Lee teme que os dados coletados pelos governos tenham um efeito assustador naquilo que nos sentimos confortáveis em discutir online.
2. É muito fácil para a desinformação se espalhar na web
Notícias falsas! Sim, assim como todos nós, Berners-Lee está consternado com o problema da comunicação online e das bolhas sociais criando um grande caminho para as informações falsas. Especificamente “o uso de ciência de dados e exércitos de robôs” que alimentam o sistema.
3. Publicidade política online precisa de transparência e compreensão
Ele se preocupa com a habilidade de políticos construírem narrativas múltiplas para grupos específicos e ninguém entender qual é a real mensagem. “Publicidade segmentada permite a uma campanha dizer coisas completamente diferentes, possivelmente coisas conflitantes, para diferentes grupos. Isto é democrático?”, pergunta Berners-Lee.
Esses são problemas reais, de fato. Todos eles fazem parte de uma discussão acalorada. Mas o que fazer sobre eles? Tim não tem muita certeza também, mas, pelo menos, teve o trabalho de apontar algumas soluções vagas às quais está se inclinando.
Coisas que Tim acha que podemos fazer para resolver os problemas:
1. “Data pods” talvez seja uma maneira de dar às pessoas mais controle sobre suas informações pessoais. Berners-Lee tem trabalhado com o MIT e Qatar Computing Research Institute num projeto chamado “Solid” (social linked data – ou dados sociais relacionados, em tradução livre). Embora ainda esteja nos estágios iniciais de desenvolvimento, a ideia do Solid é manter dados pessoais fora do alcance de corporações que lucram com eles. Teoricamente, daria aos usuários um maior controle sobre a permissão que empresas como o Facebook têm sobre essas informações e também a possibilidade de revogar o acesso a esses dados. Também tornaria mais fácil a transferência de dados sociais de uma aplicação para outra, minimizando o “aprisionamento tecnológico“.
2. Assinaturas e micropagamentos como solução para publicações e outros negócios financiados por publicidade. A ideia aparentemente é deixar de lado a corrida pelo tráfego e pelo uso de dados pessoais para o marketing direcionado.
3. Combater excessos de governos por meio da justiça, se necessário.
4. Forçar grandes empresas como Facebook e Google a “continuar os esforços” na luta contra notícias falsas, sem formar uma determinação centralizada do que é ou não verdade.
5. Uma maior transparência na maneira como os algoritmos estão sendo utilizados para influenciar nossas vidas. Ele cita os princípios de Equidade, Responsabilidade e Transparência do Aprendizado de Máquina como um exemplo de como os novos padrões podem ser determinados.
6. Aumento da regulamentação de campanhas políticas no uso de anúncios online, fazendo com que tenham os mesmos padrões utilizados em outros meios, como televisão e rádio.
Infelizmente, é difícil visualizar uma maneira de persuadir aqueles que possuem o poder a implementar essas soluções. Os governos vão fazer o que querem, embora batalhas judiciais possam manter o clima sob controle em alguns países. E muitas corporações baseadas na internet construíram todo o seu modelo de negócios em torno do uso de dados pessoais.
Berners-Lee não parece inocente a ponto de acreditar que esses problemas serão resolvidos logo e diz que irá continuar trabalhando nas estratégias da World Web Web Foundation para encontrar soluções.
O contato com os players mais poderosos da tecnologia e seu nível geral de influência provavelmente serão suas melhores armas. Convencer esses caras de que eles devem manter a filosofia de não “serem maus” é a melhor esperança para a web.
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