As soluções para a desigualdade são frequentemente retratadas como entraves para a proteção ambiental. Mas não é preciso escolher uma coisa ou outra. Um novo estudo argumenta que um programa indonésio para ajudar as pessoas a sair da pobreza também salvou árvores. É simples assim: às vezes, você só precisa dar dinheiro às pessoas.
A Indonésia sofre tanto com o desmatamento quanto com a pobreza. A nação foi um dos três países que mais perderam florestas tropicais em 2019, principalmente devido à queima e ao corte de árvores para limpar a terra para a produção de óleo de palma e outros itens.
Enquanto isso, nas últimas duas décadas, a desigualdade de riqueza na Indonésia cresceu mais rapidamente do que em qualquer outro país do Sudeste Asiático. Para ajudar a aliviar este último problema, o país iniciou um programa federal chamado Programa Keluarga Harapan (“Programa Esperanças da Família”) para transferir dinheiro para famílias pobres e colocá-las acima da linha de pobreza.
A nova análise publicada na Science Advances na sexta-feira (12) examinou dados de 266.533 famílias em 7.468 aldeias rurais participantes entre 2008 e 2012. Essas famílias estavam todas localizadas nas 15 províncias que representam metade da cobertura florestal do país e cerca de 80% do desmatamento.
“Usando dados sobre a perda de florestas antes e depois do início do programa, e usando técnicas estatísticas para eliminar o papel de outros fatores que também afetam a perda de florestas, podemos usar […] o Programa Keluarga Harapan como um experimento natural”, diz Paul Ferraro, professor de comportamento humano e políticas públicas na Universidade Johns Hopkins e principal autor do estudo. “Podemos usar aldeias que participaram mais tarde no período de estudo como um grupo de controle para aldeias que participaram anteriormente.”
Os autores analisaram dados administrativos, de satélite e de campo georreferenciados. Os resultados sugerem que as aldeias participantes do programa viram a perda de florestas cair em média 30%.
Antes do programa, quando os moradores das aldeias esperavam safras mais baixas, eles normalmente desmatavam mais florestas para plantar mais arroz e outros produtos básicos. Porém, quando receberam pagamentos em dinheiro, muitos conseguiram se sustentar, comprando os produtos necessários e contraindo empréstimos com o dinheiro fornecido pelo governo como garantia.
Em contraste com as descobertas do novo estudo, outra pesquisa publicada no início deste ano descobriu que um programa de transferência de renda no México realmente levou a mais desmatamento, porque o aumento de caixa permitiu que as pessoas consumissem mais produtos que usam mais terra em sua produção. Mas a pesquisa de Ferraro mostra que programas antipobreza e de combate ao desmatamento nem sempre estão em desacordo.
Obviamente, o programa antipobreza por si só não pode resolver o problema de desmatamento da Indonésia, porque não são apenas as pessoas pobres que acabam recorrendo à derrubada de árvores. O Programa Esperanças da Família não afetará quantas árvores as empresas derrubam, por exemplo, e certamente não interromperá o desmatamento por incêndios florestais. Mas Ferraro disse que o estudo ainda é uma fonte de esperança.
“Isso implica que reduzir a pobreza extrema em áreas florestais não está em desacordo com a redução do desmatamento”, disse ele. “De fato, a redução da pobreza extrema pode ser complementar à proteção das florestas.”