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“Túnel do tempo” no Acre vai indicar como era a Amazônia há 65 milhões de anos

Equipe fará um buraco de 2km para recolher amostras geológicas e estudar a evolução do clima, relevo e hidrologia da região

Estudo mostra que temperatura na Amazônia se aproxima de limites críticos

Imagem: Vlad Hilitanu/Unsplash/Reprodução

Na última sexta-feira (16), pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo) e outras instituições começaram a perfuração de um buraco de 2 quilômetros na cidade de Rodrigues Alves, no Acre. O objetivo? Construir uma linha do tempo da Amazônia, e entender como ela era há 65 milhões de anos.

Há uma equipe trabalhando ininterruptamente para fazer o buraco quilométrico e recolher amostras geológicas. O processo deve levar no mínimo três meses. Depois, um segundo poço, de 1,2 quilômetro, será cavado numa ilha fluvial do município de Bagre, no Pará, ao sul da Ilha do Marajó.

A equipe internacional de 60 pesquisadores de 12 instituições vai estudar as amostras geológicas dos buracos nas bordas leste e oeste da Amazônia brasileira para estimar a origem e evolução do relevo e hidrologia da região, bem como sua importância para o clima global.

Camadas de sedimentos se sobrepõem ao longo de milhões de anos. Por isso, quando os cientistas realizam uma perfuração como esta no Acre, eles podem acessar diferentes amostras de solo e rocha em ordem cronológica. 

Cada camada do túnel tem características físicas e químicas que dão pistas sobre como era a Amazônia em determinada época. Por exemplo: os pesquisadores esperam encontrar punhados de pólen fossilizado nas amostras. Eles seriam evidências de quais plantas já fizeram parte da vegetação amazônica. 

As perfurações no Acre e no Pará devem gerar amostras com até 65 milhões de anos. Isso indicará como era a região no fim do período Cretáceo e início da Era Cenozoica, quando a Terra se reconfigurava após o último evento de extinção em massa que rolou no planeta – que pôs fim à 70% das espécies da Terra, incluindo os dinossauros (sobraram apenas aqueles que dariam origem às aves modernas).

Projeto inédito na Amazônia

Nunca se fez perfurações na Amazônia com finalidades científicas (ou “sondagens”), segundo os pesquisadores da USP.

Agora, só a sondagem no Acre, feita pela empresa mineira Geosol, deve gerar mais de 1,3 mil amostras. Ela vai retirar cilindros de sedimento com até seis metros de comprimento. Então, os pesquisadores farão uma análise prévia do material, dividi-lo em amostras de 1,5 metro e catalogá-las.

Os pesquisadores vinculados ao projeto terão acesso exclusivo às amostras amazônicas num primeiro momento, mas depois elas ficarão disponíveis a cientistas de todo mundo.

O Projeto de Perfuração Transamazônica é iniciativa de um programa de apoio a projetos de perfuração científica chamado International Continental Scientific Drilling Program, com sede na Alemanha.

O projeto conta com a colaboração da National Science Foundation (NSF), dos Estados Unidos; do Smithsonian Tropical Research Institute, no Panamá; e da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), no Brasil. O custo previsto da sondagem é de 4 milhões de dólares.

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