A TV como conhecemos oficialmente não faz mais sentido

Alguns dirão que a vida sem Lost não faz mais sentido. Mas a verdade é que a série de TV de maior impacto da TV mundial da última década mudou profundamente a maneira com que vemos TV - mesmo para quem não a acompanhou. Há duas horas, aquela caixa grande que fica no meio da sala era só uma tela maior para o meu notebook. Reuni algumas pessoas na minha casa e, através de uma alma caridosa que transmitiu o sinal por streaming em conexão boa, assisti, ao mesmo tempo que boa parte do mundo, o destino (?) dos personagens que viraram pessoas familiares nos últimos 6 anos. Ao final, me perguntei: quando que as emissoras de TV e operadoras de cabo e satélite vão se tocar que os tempos são outros? Vamos ter de esperar o Google fazer alguma coisa mesmo?

Alguns dirão que a vida sem Lost não faz mais sentido. Mas a verdade é que a série de TV de maior impacto da TV mundial da última década mudou profundamente a maneira com que vemos TV – mesmo para quem não a acompanhou. Há duas horas, aquela caixa grande que fica no meio da sala era só uma tela maior para o meu notebook. Reuni algumas pessoas na minha casa e, através de uma alma caridosa que transmitiu o sinal por streaming em conexão boa, assisti, ao mesmo tempo que boa parte do mundo, o destino (?) dos personagens que viraram pessoas familiares nos últimos 6 anos. Ao final, me perguntei: quando que as emissoras de TV e operadoras de cabo e satélite vão se tocar que os tempos são outros? Vamos ter de esperar o Google fazer alguma coisa mesmo?

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As primeiras temporadas de Lost foram vistas na TV a cabo com meses de atraso – no caso da Globo, em horário terrível, com anos de delay. Depois, quando se cansaram de ver bancas de DVDs piratas com o episódio do dia anterior à venda, a transmissão brasileira ficou apenas algumas semanas atrasada. Na reta final, a AXN fez um esforço para diminuir o atraso em poucos dias – o final passará amanhã, por exemplo (assim como no Terra). A velocidade aumentou, mas tardiamente.

Na verdade, o esforço de acelerar a transmissão tem muito a ver com a natureza de Lost como série. A obra de JJ Abrams baseava-se em cliffhangers (episódios sem desfecho, preparando para o próximo), e quem acompanhava a série queria saber logo o próximo passo. Não semana que vem, com meses de atraso, como queria a TV brasileira. Se os americanos já estão discutindo o S04E14 no Twitter, por que eu preciso esperar, e estar acordado em determinado horário, para ver o S04E05? 

O que isso causou? Direta ou indiretamente por causa de Lost, conheço um bocado de gente que aprendeu os meandros dos torrents para baixar mais depressa os episódios conforme eles iam saindo nos EUA; gente que descobriu que o S04 significa "quarta temporada"; que encontrou o legendas.tv (ou começou o próprio grupo de legendagem – Valeu!); que começou a usar o termo Spoiler como se a palavra existisse no Aurélio desde sempre; que aprendeu que o Hulu passava tudo por streaming – e que xingou o mesmo site por bloquear o uso no Brasil;

Gente que, no fim das contas, aposentou o controle da TV a cabo. Ela é uma caixinha cada vez mais defasada. 

O que as operadoras de TV por assinatura fizeram no tempo que acontecia essa revolução? Muito pouco. No resto do mundo, ao menos, a ABC conseguiu acordos com TVs da Europa e Israel para que todas passassem o último capítulo ao vivo. Exagero? Era quase como uma final de Copa do Mundo para muita gente – era preciso que fosse transmitido ao vivo. Aqui no Brasil conseguimos que a AXN mostrasse terça, e olhe lá. Ao vivo mesmo, só uma narração bizarra, como se fosse partida de futebol sem figurinhas, no Terra. Soou surreal. E uma oportunidade perdida. Quem quer que transmitisse aqui poderia lucrar com o streaming. Vi, sem problemas (e me diverti) comerciais da rede de supermercados Target (ótimos), do Jack in a Box e outras coisas que nunca consumirei aqui. Veja a oportunidade que a publicidade brasileira deixou passar.

A publicidade, na verdade, ainda dá muito pouca importância à internet como veículo no nosso País. Como forma de assistir conteúdo de vídeo, então, a Internet ainda está em segundo plano. No Brasil, as coisas só podem passar na Terra TV (ou no Mundo Fox), depois que passam na TV, sem nenhum motivo aparente a não ser porque as emissoras brasileiras podem fazer isso.

E a tal globalização? Ela não funciona quando eu quero. Se a gravadora do meu artista favorito tem contrato com o iTunes, mas, digamos, a EMI Brasil não tem, eu vou fazer uma gambiarra e uma conta americana no Zune ou iTunes para comprar o disco que quero. Afinal, estou comprando bytes e pagando diretamente aos produtores do bem cultural que eu desejo. O que há de ilegal? Nenhuma empresa brasileira tem de se meter nisso. Quanto mais para dificultar. Não era para haver tantas barreiras. 

Se chegar com atraso (ou não chegar) é um problema, o que dizer de quando a versão pirata tem qualidade muito superior? Peguemos Lost. O sinal da AXN pela Net é cheio de ruídos, com compressão absurda – algo bastante visível em cenas mais escuras em uma TV HD. Hoje, por streaming, pelo computador de uma pessoa, consegui algo melhor. Se esperasse mais duas horas, poderia ver em HD, num .mkv superior a quase todos os canais que pagamos uma fortuna mensal.

Hoje, honestamente, mantenho a assinatura de TV a cabo para não ter dor de consciência e pagar, mesmo que indiretamente, aos produtores de algumas séries que curto – mesmo que compre caixas ao final das temporadas também. Mas aquela caixinha da Net ali, a não ser pelos eventos esportivos e canais de notícias, faz cada vez menos sentido para mim. Hoje, Lost atravessou fronteiras, pelo computador das pessoas. Que se viraram para falar inglês enquanto a Google TV e seu tradutor simultâneo não chega.

Eu quero, de verdade, pagar para ver o que eu quero. Mas eu quero também assistir os programas com qualidade de imagem e na hora que quiser. Quanto será que isso vai demorar para acontecer aqui?

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