Twitter quer processar organização que monitora discurso de ódio na internet
O X, nome novo da rede social antes conhecida como Twitter, ameaçou processar um grupo de pesquisadores independentes. O motivo? Eles notaram um aumento no discurso de ódio na plataforma desde que a empresa foi comprada por Elon Musk, no ano passado. As informações são da Associated Press e da revista Time.
O Centro para Contenção do Ódio Digital (Center for Countering Digital Hate, ou CCDH) recebeu uma carta, no dia 20 de julho, de um advogado que representa a X Corp. O documento diz que a companhia pretende ir à Justiça contra a organização sem fins lucrativos e sua pesquisa sobre discurso de ódio e moderação de conteúdo.
“O CCDH pretende prejudicar os negócios do Twitter, afastando os anunciantes da plataforma com alegações incendiárias”, escreveu o advogado Alex Spiro. Ele questionou as pesquisas e acusou o centro de tentar prejudicar a reputação do X.
No texto, ele também sugeriu, sem comprovação, que a organização foi financiada por concorrentes da rede social de Musk. Vale ressaltar que o CCDH já publicou outros relatórios denunciando problemas do TikTok, do Facebook e outras grandes plataformas rivais do X.
A X Corp pede indenização por quebra de contrato, violação da lei de fraude, interferência intencional em relações contratuais e indução à quebra de contrato. Em entrevista à Time, Imran Ahmed, fundador e CEO do CCDH, disse que a organização planeja lutar contra o processo, e alertou que o resultado da ação pode impactar outras entidades e grupos de pesquisa.
O CCDH é uma organização independente com escritórios nos Estados Unidos e no Reino Unido. Composta por pesquisadores, a entidade publica regularmente relatórios sobre discurso de ódio, extremismo ou comportamento prejudicial em redes sociais.
Discursos nazistas e anti-diversidade
A pesquisa do CCDH apontou que o Twitter (ou X) não tomou nenhuma providência contra 99% das contas do Twitter Blue denunciadas por discurso de ódio. A organização publicou vários relatórios críticos à liderança de Musk, detalhando um aumento no discurso de ódio contra a comunidade LGBTQIA+, assim como desinformação sobre assuntos climáticos, desde sua aquisição.
A carta cita um relatório específico de junho, que constatou que a plataforma falhou em remover conteúdos neonazistas e anti-diversidade de usuários verificados que violaram as regras da plataforma.
Três representantes do congresso norte-americano, Lori Trahan, Adam Schiff e Sean Casten, enviaram uma carta a Musk e Linda Yaccarino, CEO da X, expressando preocupação com o impacto da ação judicial sobre a pesquisa independente e a liberdade de expressão.
Imran Ahmed disse à Associated Press que seu grupo nunca havia recebido uma reação tão extrema de nenhuma outra empresa de tecnologia, apesar de um histórico de estudos sobre as relações entre plataformas de mídia social, discurso de ódio e extremismo. Ele acrescentou que, normalmente, os alvos das críticas respondem defendendo seu trabalho ou prometendo resolver os problemas identificados.
Dois pesos e duas medidas?
Elon Musk se declara um defensor absoluto da liberdade de expressão e permitiu o retorno de supremacistas brancos e negacionistas à plataforma, cujo nome foi alterado para X em julho. Mas o bilionário tem se mostrado incomodado com críticas direcionados a ele e a suas empresas.
Não é a primeira vez que Musk reage a críticas. No ano passado, ele suspendeu as contas de vários jornalistas que cobriram sua aquisição do Twitter. Outro usuário foi banido por usar dados públicos para rastrear o avião particular do bilionário.
Após o ocorrido, Musk prometeu mantê-lo na plataforma, mas depois mudou de ideia, citando questões de segurança pessoal. Também ameaçou processá-lo. Inicialmente, o empresário havia prometido que permitiria qualquer discurso na plataforma, desde que não fosse ilegal.
A queda na receita publicitária é uma tendência crescente desde que Musk adquiriu o Twitter. Foi registrada diminuição de 59% na receita de anúncios nos EUA em comparação com o ano anterior. Mas isso pode ser um efeito das recentes mudanças na plataforma promovidas pelo próprio bilionário, como a remoção de regras sobre conteúdo publicitário.