Eu me viro bem com transporte público em São Paulo e confesso que fiquei bem curioso quando fiquei sabendo que o UberPool chegaria por aqui. O serviço, já presente em cidades como San Francisco (EUA), consiste em dividir lugares em carros da plataforma de motoristas, fazendo assim com que o preço seja menor — a empresa diz que é até 40% mais barato que a modalidade UberX.
Para ver qual é a do serviço – que o Uber diz reduzir o número de carros em circulação nas cidades onde atua – fiz algumas viagens com a nova modalidade. Já adianto uma coisa: vale a pena pelo preço, mas esteja preparado para momentos constrangedores.
Primeira viagem: rolê barato, mas que demora
Estava na região do shopping Iguatemi e indo em direção à rua Augusta, por volta das 19h30. Ter ido de táxi já teria sido uma má decisão por causa do trânsito — o melhor a ser feito era ir de ônibus – mas queria ver qual era a do Pool.
Entrei no carro e já havia dois homens no carro que tinham embarcado na Avenida Rebouças. Um ia para o Jardim Europa e outro para a Mooca. Logo, eu seria o segundo a deixar o carro. No próprio app, é possível saber o local onde os passageiros “intermediários” vão descer e a previsão de tempo que isso vai levar.
Ao entrar no veículo, a conversa foi o próprio UberPool e como a categoria era. O passageiro da frente deixou de papo para discutir com a namorada pelo telefone — ele queria saber o horário que ela chegaria, pois dependendo disso mandaria servir o jantar. Mal desligou o telefone e chegamos ao destino dele.
Eu era o próximo. Enquanto seguíamos sentido Augusta, o outro passageiro, um carioca radicado em São Paulo, reclamava dos taxistas de sua cidade, que inclusive já tentaram enganá-lo. Morador da Mooca, o rapaz comemorava a economia: de táxi até sua casa, ele pagaria bem uns R$ 35, no Pool, o valor sugerido era de R$ 19. “Pensava que Uber era um negócio apenas para gente rica”, disse.
O Waze marcava uma rota específica, porém estava um trânsito monstro. O cara que ia descer na Mooca, então, foi dando coordenadas ao motorista para se livrar do congestionamento. Deu certo.
No fim das contas, gastei cerca de 40 minutos pelo trajeto e paguei R$ 8,99. Como não estava com pressa, até que foi ok: fui conversando durante o caminho, o carro era confortável e o ar-condicionado estava ligado. Sozinho em um UberX, eu teria pago uns R$ 15. De táxi, teria dado uns R$ 21.
Segunda viagem: preço baixo e altas doses de constrangimento
Minha origem era o aeroporto de Congonhas e meu destino era a Vila Madalena. Fui o primeiro a entrar no carro. O motorista seguia na Washington Luís sentido centro, quando tocou o aplicativo, informando que teríamos de voltar para pegar outra passageira. O app, então, me mostrou que o nome da moça era Luiza e que ela estava no Campo Belo. Ela entrou no carro e eu disse “oi, Luiza”, e ela retribuiu com um “oi”.
Pois bem, a moça se acomodou no canto dela com seu smartphone, e eu no meu canto. Foram os 30 minutos mais constrangedores e silenciosos de minha vida, que só foi quebrado quando perguntei ao motorista se ele ia pela Marginal Pinheiros, o que foi respondido com um aceno de cabeça.
Tudo bem que todo dia uso transporte público com pessoas estranhas, mas a ideia de estar num carro, um espaço tradicionalmente privado, com gente que você não conhece, é bem esquisita.
Cheguei ao meu destino e a moça continuou no carro. Dei um tchau a ela e ao motorista e recebi a notificação do meu cartão pela corrida: R$ 14,92. Em um UberX sozinho, pagaria R$ 21,00, e chuto que demoraria uns 20 minutos para chegar. De táxi, daria entre R$ 29 e R$ 39, segundo estimativa do app 99Taxis. Apesar de toda a estranheza, achei muito bom.
Com as duas viagens, ficou claro que o UberPool tem suas vantagens: transporte compartilhado com ar-condicionado e a um preço bom. Porém, a modalidade pode ser péssima para quem busca agilidade. É para aquelas viagens que você sai com antecedência e não tem muita pressa. Tem também o fator social, mas a esse preço, acho que aceito de boa o constrangimento.
Foto: Usuário chama Uber em Brasília (DF). Crédito: Eraldo Peres/AP.