por Bruno Izidro
Para alguns jogadores, games de simulação de corrida podem se resumir a Gran Turismo, Forza ou as versões de Fórmula 1 da Codemasters. Porém, por trás desses grandes jogos que atingem um público maior, existe toda uma comunidade de apaixonados pelo gênero. Eles são um nicho, é verdade, voltado principalmente para jogos de PC e recentemente até vimos a sua força com o lançamento de Project CARS, que foi quase totalmente financiado coletivamente sem nem usar campanha no Kickstarter.
Muitos dos membros da comunidade de simuladores de corrida não se limitam só a jogar com aqueles controles de volante, com caixa de câmbio e cheio de pedais. Esse grupo é formado também por pessoas que fazem modificações de jogos ou que são até mesmo desenvolvedores. Um deles é o brasileiro Renato Simioni, que resolveu levar sua paixão por velocidade virtual a um nível mais avançado e, em 2009, se juntou a outros modders de várias partes do mundo para fundar a Reiza Studios.
“O núcleo da equipe são 5 desenvolvedores, cada um trabalhando da sua casa (são todos de países diferentes)”, fala Simioni ao Gizmodo. Os desenvolvedores são da Inglaterra, Croácia e Holanda. Além deles a equipe é composta de eventuais freelancers. A imagem abaixo mostra o primeiro encontro de toda a equipe no mesmo lugar, que aconteceu esse ano.
Apesar desse time globalizado, a Reiza também é bem brasileira. Primeiro que a sede do estúdio fica em Maringá, no Paraná, onde Simioni administra as atividades e coordena os projetos com os outros integrantes a distância, o que pra ele não chega a atrapalhar. “Com tantas ferramentas para comunicação e desenvolvimento em conjunto é quase como se estivéssemos trabalhando no mesmo local”, diz.
Outra é que os jogos criados pela Reiza também têm tudo a ver com quem gosta de velocidade aqui no país. O estúdio tem as licenças das principais categorias de competições automobilísticas por aqui e com isso desenvolveu os jogos Copa Petrobras de Marcas, Stock Car Extreme e Formula Truck 2013.
Como dá pra ver no vídeo, os jogos não chegam a ter uma fidelidade visual como os produzidos pela Sony e Microsoft (apesar de estarem bem longe de serem feios). É aqui que surge a oportunidade para falar o que faz um jogo de corrida ser um bom simulador. Seriam os gráficos? Ou quem sabe ter carros licenciados? Para Simioni, o aspecto mais importante é, sem dúvida, a física do jogo, muito mais do que os elementos visuais, por isso boa parte dos jogos de simulação mais hardcore são encontrados no PC.
“Os jogos de corrida nos consoles, como a série GT e Forza, progrediram bastante na última década e em geral são mais avançados graficamente, mas ainda estão um passo atrás dos simuladores mais sofisticados no PC em termos de física”, fala. Ainda assim, ele afirma que essas séries são uma ótima porta de entrada para quem se interessar mais pelo gênero.
Passando sem “sinal verde”
Um detalhe que é importante frisar é que todos os jogos da Reiza mencionados acima estão disponíveis no Steam e o mais interessante é que eles não precisaram de uma distribuidora ou do Greenlight para estarem por lá. Simioni explica o porquê: “Como já tínhamos games em circulação, com boa reputação e uma pequena, mas entusiasmada base de usuários, conseguimos convencer a Valve para entrar sem passar por este processo”.
Outra recente conquista da Reiza tem até um pouco a ver com o que aconteceu com Project CARS. O estúdio conseguiu arrecadar mais de US$ 100 mil em uma bem sucedida campanha de financiamento coletivo no Indiegogo, mas a intenção não era criar um novo jogo e sim para melhorar os já lançados Stock Car Extreme e Formula Truck, além de adicionar novos conteúdos, como carros, pistas e funcionalidades online.
Você pode até pensar que seria um desperdício gastar tempo e esforço em jogos já lançados, mas o próprio estúdio justifica isso na página da campanha. O que aconteceu foi que eles conseguiram um acordo para usar sem restrições a engine dos jogos, a ISISMotor, e não resistiram a tentação de “brincar” com as novas possibilidades.
Na minha conversa com Simioni, ele explicou melhor como isso funciona. “Para os games que lançamos até hoje, nós licenciávamos a engine “fechada”, ou seja sem possibilidade de desenvolver o código a não ser via plugins externos”, fala o desenvolvedor. “Agora nós licenciamos o código-fonte desta mesma engine, ou seja além do conteúdo, vamos desenvolver o código na nossa própria direção”. O que isso significa são jogos melhores tanto em aspectos técnicos quanto em termos de funcionalidades.
Fórmula Senna
Com jogos lançados no Steam e conseguindo apoio via crowdfunding, a Reiza passa por uma ótima fase, mesmo sendo um mercado de nicho como os jogos de simulação de corrida.
Isso, claro, nem sempre foi assim e por justamente sempre andarem na corda bamba para conseguirem se sustentar financeiramente, o estúdio também diversifica seu trabalho em outras áreas, mas que não chegam a ir muito longe do mundo dos jogos.
A Reiza trabalha em conjunto com a empresa Cockpit Extreme Racing, que é focada em acessórios para simuladores e jogos de corridas, como os volantes citados no início da matéria. No entanto, o produto produzido por eles e que é o sonho de consumo de qualquer amante de velocidade é o Cockpit Senna, que tem um design que lembra um carro de Fórmula 1.
O preço dessa belezinha? R$ 4 mil. Por falar no falecido tri-campeão, a Reiza também tem uma parceria com o Instituto Ayrton Senna e isso está diretamente ligado ao próximo simulador do estúdio. Segundo Simioni, o novo jogo, além de ter mais pistas e carros internacionais, terá um “módulo baseado na carreira de Ayrton Senna”. No entanto ele não dá mais detalhes e a previsão é que esse novo projeto seja lançado no fim de 2016.
Para quem se lembra do clássico Ayrton Senna’s Monaco GP, do Mega Drive, essa vai ser uma boa oportunidade de termos um jogo de um maiores pilotos do Brasil desenvolvido por um estúdio (meio) daqui. Vamos aguardar.