Um retrovírus pode ter ajudado a tornar pensamentos rápidos e cérebros complexos possíveis. É o que sugere um novo estudo publicado na revista Cell, que descreve como o RetroMyelin — apelido do vírus antigo — foi essencial para o desenvolvimento da mielina, proteína necessária para isolar as fibras nervosas.
Embora não seja comum, outros retrovírus também já ficaram conhecidos por auxiliar a evolução da placenta e do sistema imunológico, por exemplo.
O papel do RetroMyelin
O RetroMyelin não consegue produzir uma proteína por si só. Em geral, os retrovírus fazem cópias de DNA para se incorporarem ao material genético do hospedeiro. Raramente, essas inserções podem se tornar uma parte permanente do que somos, sendo transmitidas de pais para filhos.
Contudo, o novo estudo evidenciou que o RetroMyelin se liga a uma proteína chamada SOX10. Juntos, eles ativam a produção de uma proteína básica da mielina, que é responsável por envolver a fibra em de forma apertada ao redor das células nervosas.
O que mudou com o vírus antigo
Com o revestimento de gordura e proteína proporcionado pela mielina, as fibras nervosas conseguem enviar sinais elétricos mais rapidamente do que os nervos não isolados. Além disso, essas fibras, também chamadas de axônios, podem ser mais finas e crescer mais.
Isso, por sua vez, permite que os animais cresçam mais. Não à toa, o papel do retrovírus aparece na evolução de vertebrados com mandíbulas. De acordo com os pesquisadores, que analisaram genes que podem influenciar a produção de mielina, há altos níveis de RNA deste retrovírus em peixes, anfíbios e mamíferos.
Além disso, os cientistas descobriram também que cada espécie entre as analisadas possuem sua própria versão de RetroMyelin. Por isso, eles concluíram que o retrovírus infectou várias espécies em momentos diferentes.
Ainda assim, todas as infecções resultaram na mesma característica evolutiva – algo que a ciência chama de evolução convergente.
“Como resultado da mielina, os cérebros se tornaram mais complexos e os vertebrados se tornaram mais diversos. Se a mielinização não tivesse acontecido na evolução inicial dos vertebrados, não teríamos toda a galáxia de diversidade de vertebrados que vemos agora”, conclui Robin Franklin, um dos autores da pesquisa.