A cada 10 menções a parlamentares mulheres das redes sociais no Brasil, pelo menos uma contém algum tipo de violência. Além disso, eleitas por partidos de esquerda recebem duas vezes mais ataques que mulheres de direita. Na grande maioria dos casos, os insultos e ameaças estão camuflados por “sátiras” e “humor”.
Esses são alguns dos dados do Mapa da Violência Política de Gênero em Plataformas Digitais, um estudo produzido pelo DDoS Lab, grupo de pesquisa da UFF (Universidade Federal Fluminense).
Os resultados vêm de uma análise das plataformas Twitter, Facebook, Instagram e YouTube a partir de ataques direcionados a deputadas federais e senadoras de julho a dezembro de 2021.
Ao todo, o grupo analisou mais de 4 milhões de mensagens únicas a 91 nomes, sendo 79 deputadas federais e 12 senadoras – parlamentares com contas ativas em pelo menos uma das quatro plataformas no período.
Os dados mostram como os usuários das redes recebem a atuação feminina em locais de poder, como é o caso do Congresso. Entre os conteúdos analisados, 9% apresentavam algum tipo de indício de violência discursiva contra parlamentares mulheres.
A maior parte do conteúdo violento aparece no Twitter. Pelo menos 24% das menções enquadradas como violência discursiva foram postadas na rede. Mas o maior engajamento e visibilidade das mensagens que incentivam violência política de gênero está no Facebook.
Como a violência se mostra
Segundo o levantamento, a principal motivação dos ataques é ideológica. Ofensas a partidos, alianças ou ao espectro político-ideológico (como o comunismo, por exemplo) estavam em 22,3% dos ataques. “Este dado evidencia uma das consequências da radicalização política e do extremismo”, diz o relatório.
Nesse sentido, parlamentares mulheres de esquerda são duas vezes mais atacadas nas redes que suas colegas que se identificam com correntes à direita. Em todos os casos, os insultos são os ataques mais frequentes entre 90% das mensagens analisadas nas quatro redes. Veja a porcentagem:
- Insultos (41% dos ataques)
- Invalidação (26,6%)
- Crítica (24,5%)
A sátira e o humor provocativo também aparecem em 30% das mensagens ofensivas. “Isso sugere que os ataques fazem uso de um expediente diversionista e dissimulado ao pretender-se apenas uma brincadeira”, diz o estudo. “Na prática, estes discursos camuflam e obliteram ofensas por meio de um certo tom jocoso e irônico”.
Os principais alvos
Em todas as plataformas, em especial no Facebook, os agressores mobilizam fortemente os discursos misóginos, homofóbicos e racistas. À época do estudo, os principais alvos eram:
- Talíria Petrone (50% dos ataques), deputada pelo PSOL (na imagem de destaque)
- Jandira Feghali (33,3%), deputada pelo PCdoB
- Profª Dayane Pimentel, ex-deputada pelo União Brasil
Pelo menos uma em cada três postagens direcionadas a essas parlamentares tinham algum nível de violência discursiva. Entre os partidos, os mais atacados eram:
- PCdoB (Partido Comunista do Brasil)
- PSOL (Partido Socialismo e Liberdade)
- PMB (Partido da Mulher Brasileira)
“O que esse excelente estudo nos traz é a constatação de como as principais plataformas digitais viraram arenas de disseminação do discurso de ódio e da desinformação”, disse Petrone, sobre o relatório. Ao citar os cinco anos da morte de Marielle Franco, afirmou que violência política de gênero não é novidade.
“Sigo resistindo, ao lado de tantas outras companheiras também constantemente atacadas pela misoginia, a intolerância e o racismo. Não nos silenciarão nem nas redes sociais, e muito menos nas ruas e na tribuna das casas legislativas”, pontuou.