Metanfetamina é um dos piores drogas para se reabilitar e superar o vício, em parte porque as memórias de seus efeitos são muito poderosas. Mas e se os cientistas pudessem apagar estas recordações? Pesquisadores do Scripps Research Institute, na Flórida (EUA), desenvolveram uma droga que é capaz de fazer isto em ratos.
O mecanismo por trás da substância que apaga lembranças parte de uma pesquisa anterior, que revelou como as memórias se formam. Ela mostra que o processo usado por nossos cérebros para criar memórias durante o uso de metanfetamina é bem anormal (ó, que surpresa). Os cientistas descobriram como explorar essa diferença para criar uma droga que atinge apenas lembranças induzidas por psicoestimulantes. A Popular Science explica:
“Memórias normais” de, digamos, seu primeiro dia de escola ou de um dia de folga estão guardadas no seu cérebro como uma conexão de neurônios que é apoiada numa proteína chamada actina. A actina rapidamente estabiliza e a lembrança é guardada no seu cérebro. Mas, no caso de uma memória criada usando anfetamina, a actina nunca estabiliza. Os pesquisadores tiraram proveito desta instabilidade e criaram uma droga que iria romper a actina e, dessa maneira, a memória. Entretanto, como a actina está envolvida em muito mais que memórias (ela faz músculos contraírem, incluindo os do coração), quebrar a actina seria extremamente perigoso.
Neste novo estudo, entretanto, os pesquisadores usaram outra molécula, a miosina IIB não-muscular, que ajuda a actina a funcionar mas está muito acima na cascata biológica, portanto não afeta como a actina está envolvida com músculos ou coração. A nova droga criada, chamada Blebbistatina ou Blebb, quebra a miosina IIB não-muscular, interrompendo a actina instável e “apagando” a lembrança envolvida com a droga psicoativa. O medicamento age apenas nesta memória e a quebra por no mínimo 30 dias, de acordo com os autores do estudo. Eles também dizem que isso pode ser obtido com a administração de uma única dose.
Você deve estar pensando que uma droga que apaga memórias é um tanto perigosa — sim, é mesmo. Mas em testes com ratos, ao menos, os pesquisadores conseguiram mostrar que a droga testada age apenas nas memórias associadas com a resposta a um psicoestimulante viciante. Mesmo assim, a Blebb ainda tem um longo caminho pela frente até chegar ao mercado (tomara que, se chegar mesmo, alguém dê um nome melhorzinho para ela). Primeiro, é necessário testar as interações dela com outras drogas, e então partir para experimentos com humanos. Este processo pode demorar anos.
Por fim, mesmo se essa droga sair dos laboratórios, ainda será necessário convencer as pessoas a apagar ou suprimir parte da memória, o que parece uma coisa de livro de ficção científica. Mas talvez, se você estiver lutando contra o vício há anos, é possível que queira nada mais, nada menos que apagar algumas lembranças de quando você estava chapado.
[leia o artigo científico completo (em inglês) na Molecular Psychiatry; via Popular Science]