Está confirmado: depois de três anos de La Niña, agora é a vez do El Niño influenciar o clima global, em especial no Brasil. O satélite Sentinel-6 da NASA identificou os primeiros sinais da formação do fenômeno climático no Oceano Pacífico em 12 de maio.
Nesta quarta-feira (17), a OMM (Organização Meteorológica Mundial) alertou sobre seus efeitos até 2027. Segundo a organização, o planeta vai enfrentar “novos recordes” de temperaturas altas nos próximos cinco anos.
Há 66% de chance de que a temperatura global média anual fique 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais entre 2023 e 2027. Além disso, a probabilidade chega a 98% de que pelo menos um dos próximos cinco anos seja o mais quente já registrado.
O El Niño se caracteriza pelo aumento do nível do mar e temperaturas oceânicas mais quentes. Segundo a OMM, o ano de 2016 foi o mais quente já registrado por causa do fenômeno.
Os meteorologistas esperam que o efeito atinja as temperaturas globais no ano seguinte ao seu desenvolvimento, o que significa que o El Niño será mais aparente em 2024.
Como o El Niño vai afetar o Brasil
A OMM alertou que o fenômeno deve afetar o regime de chuvas na Amazônia, o que é particularmente preocupante. Cientistas alertam que o ciclo vicioso de aquecimento e desmatamento pode transformar a floresta em uma savana, o que traria consequências desastrosas para o planeta.
“Os padrões de precipitação previstos para 2023 em relação à média de 1991-2020 sugerem uma maior chance de redução de chuvas em partes da Indonésia, da Amazônia e da América Central”, diz o comunicado da agência da ONU.
O El Niño também abre caminho para um possível impacto na agricultura brasileira. Enquanto chove menos na Amazônia, o Sul do país também deve ser especialmente afetado por causa da intensificação da chamada corrente de jato subtropical.
Esse fenômeno representa os ventos que sopram de oeste para leste, a 10 quilômetros de altitude, e bloqueiam as frentes frias sobre a região Sul do país. Dessa forma, causam excesso de chuva nos meses de inverno e primavera.
Enquanto isso, as regiões Norte e Nordeste sofrem com a diminuição de chuvas no outono e verão. Sudeste e Centro-Oeste não apresentaram evidências de efeitos característicos das chuvas quando há esse fenômeno.
O que se sabe, porém, é que os invernos sob o El Niño tendem a apresentar temperaturas mais altas na parte central do Brasil e redução do número de geadas intensas no Sul.
Como o El Niño vai afetar o mundo
Além da Amazônia, a OMM prevê menos chuvas na América Central, Austrália e Indonésia. Enquanto isso, regiões como o norte da Europa, Alasca, norte da Sibéria e no Sahel devem registrar precipitação acima da média. A condição também deve trazer mais frio e umidade para o sudoeste dos EUA.
“O mundo deve estar preparado para o desenvolvimento do El Niño, associado ao aumento do calor, seca ou chuvas em diferentes partes do mundo”, disse Petteri Taalas, secretário-geral da OMM. “Isso pode trazer alívio da seca no Chifre da África, mas também pode desencadear eventos climáticos e climáticos mais extremos”.
A OMM relaciona o aumento das temperaturas causado pelo El Niño com as mudanças climáticas causadas pela queima de combustíveis fósseis e outros tipos de poluição desencadeadas pelo ser humano.
“Isso terá repercussões de longo alcance para a saúde, a segurança alimentar, a gestão da água e o meio ambiente. Precisamos estar preparados”, pontuou Taalas.