Pesquisadores relataram ter observado ondas sísmicas atravessando o núcleo interno da Terra, permitindo-lhes descobrir como ele é: sólido, mas mais macio do que se pensava anteriormente.
Os cientistas previram que a Terra tem um núcleo interno sólido e um núcleo externo líquido há 80 anos, com base em medidas inconsistentes com apenas um único núcleo. O núcleo sólido deveria acompanhar um tipo especial de onda sísmica, chamada de onda J, mas vinha sendo difícil detectar as ondas — até agora.
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“A detecção de ondas J confirma que o núcleo interno da Terra é sólido, embora elasticamente menos rígido que as estimativas anteriores”, escreveram os autores, da Universidade Nacional da Austrália, em seu artigo publicado na Science.
Durante muito tempo, nós deduzimos, com base em observações, que a Terra tem camadas: uma crosta; um manto grosso e quente; um núcleo externo líquido; e um núcleo interno sólido. Essas inferências são baseadas em medições sísmicas. Ondas sísmicas são simplesmente vibrações que viajam pela Terra, que podem ser causadas por vulcões e terremotos ou até explosões causadas por humanos. Os geofísicos medem essas ondas para deduzir como deve ser o interior da Terra. Mas tem sido difícil medir as ondas produzidas no núcleo interno sólido, considerando que elas teriam uma amplitude muito pequena — elas seriam realmente fracas.
Em vez de identificar as ondas diretamente, Hrvoje Tkalčić e Thanh-Son Pham analisaram dados de sismogramas globais e correlacionaram os resultados, ou seja, eles observaram as diferenças nas leituras. Entre todas as diferentes maneiras como as ondas podiam viajar, no núcleo externo e no núcleo interno, eles foram capazes de captar sinais específicos que representam as ondas J que viajam através do núcleo interno.
Esse estudo foi capaz de usar essas ondas J para determinar que o núcleo interno é sólido, mas que as ondas viajavam mais devagar através dele do que os modelos de referência atuais sugerem. Isso significa que o núcleo também pode ser mais suave do que se pensava antes.
Os pesquisadores explicam que ainda existe mais trabalho a ser feito, como coletar mais dados de mais sismogramas e colocar equipamentos de medição sísmica em novos lugares. E, embora ainda exista questões sobre a natureza do núcleo interno da Terra, isso é um resultado importante, escreveu Jessica Irving, professora assistente em geociências em Princeton, em um comentário na Science. “A observação das fases J fornecerá uma ferramenta extra para avaliar as propriedades do ‘coração mole’ da Terra.”
[Science]
Imagem do topo: Petr Brož (Academia de Ciências da República Tcheca) (Wikimedia Commons)