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Vídeo negacionista ambiental é um dos mais postados no Telegram

Lançado em julho, o filme Cortina de Fumaça, com conteúdos negacionistas sobre desmatamento, entrou rapidamente na lista de links do YouTube mais compartilhados no Telegram

Imagem: Christian Wiediger (Unsplash)

A história de um Brasil que protege e preserva a Amazônia é o 10° vídeo mais postado em grupos e canais de extrema-direita no Brasil no Telegram (serviço de mensagens concorrente ao WhatsApp). O problema é que essa história não condiz com a realidade.

Lançado em julho, o filme “Cortina de Fumaça”, com conteúdos negacionistas sobre desmatamento, entrou rapidamente na lista de links do YouTube mais compartilhados no Telegram, segundo levantamento que analisou as postagens de janeiro a outubro. 

Segundo foi divulgado pelo Uol, foram 237 postagens sobre o filme da produtora Brasil Paralelo, com mais de 2,5 milhões de visualizações no YouTube, no ano em que o Brasil bateu o terceiro recorde consecutivo de desmatamento na Amazônia. 

O mapeamento no Telegram foi realizado em parceria com os professores Paulo Fonseca, do Laboratório de Humanidades Digitais da Universidade Federal da Bahia, e Letícia Cesarino, do programa de pós-graduação em Antropologia Social da Universidade Federal de Santa Catarina. Juntos, foram selecionados em um edital de pesquisa sobre desinformação, promovido pelo InternetLab. 

A pesquisa analisou cerca de quatro milhões de mensagens transmitidas por 42 grupos e 108 canais de extrema-direita no Telegram, entre janeiro e outubro de 2021, com 277 mil e 3,3 milhões de usuários, respectivamente.

Além disso, a reportagem do UOL teve acesso a algumas centenas de mensagens compartilhadas sobre a temática socioambiental. Um desavisado no aplicativo poderia acreditar que o atual governo reduziu o desmatamento ilegal em 70% e protege os direitos dos Yanomami, apesar de denúncias mostrarem famílias doentes, famintas e a disparada de mineração ilegal na terra indígena.

“A gente percebeu que a temática ambiental importa a esses grupos quando resvala em questões políticas, como o aumento do desmatamento na Amazônia, uma crise do governo Bolsonaro”, afirma Leonardo Nascimento, um dos coordenadores do estudo ao UOL. 

Nascimento afirmou ao UOL, que uma das conclusões da pesquisa é que o Telegram funciona como um motor do YouTube, que remunera produtores de conteúdo, para canais de extrema direita. O levantamento mostrou que a plataforma de vídeos do Google é o ecossistema com maior número de citações no Telegram, com 440.576, seguido pelo Instagram e pelo Twitter, com 74.854 e 74.691, respectivamente. 

Além disso, a análise de mensagens compartilhadas em grupos públicos, no entanto, apontou para um problema maior, mostrando que o aplicativo é um dos atores na distribuição de mentiras. “Não tem como compreender o Telegram sem entender as outras plataformas e vice-versa”, explicou Nascimento.

Em dezembro de 2021, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Luís Roberto Barroso, afirmou que “é por meio do Telegram que muitas teorias da conspiração e informações falsas sobre o sistema eleitoral estão sendo disseminadas sem qualquer controle”. 

Por isso, em dezembro do ano passado, o presidente do TSE enviou um ofício ao diretor-executivo do aplicativo de mensagens Telegram, Pavel Durov, solicitando uma reunião para discutir possíveis formas de cooperação sobre o combate à desinformação.

E com o objetivo de diminuir a disseminação de fake news pelo Telegram, Luís Roberto Barroso está estudando uma forma de banir o aplicativo do Brasil durante as eleições deste ano. A medida passou a ser considerada após diversas tentativas sem sucesso de contatar os representantes da plataforma de mensagens.

Criado em 2013, o Telegram chegou ao Brasil em 2016. Sem moderação de conteúdo, a plataforma alcançou o posto de aplicativo móvel de mensagens que mais cresceu em 2021. No app, grupos podem alcançar até 200 mil pessoas, um diferencial em relação à limitação de 256 participantes no Whatsapp. Canais têm capacidade ilimitada: o do presidente Jair Bolsonaro tem mais de um milhão de inscritos.

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