Vilarejo no Canadá registra mais calor que na Turquia: como explicar?
O pequeno vilarejo de Lytton, que tem 250 habitantes e fica no oeste do Canadá, registrou um calor recorde no verão de 2021. O local chegou a 49,6 ºC, uma temperatura mais quente que qualquer cidade da Espanha e Turquia, dois dos países com os verões mais quentes da Europa.
O número poderia passar batido se não fosse o fato de que, naquele verão, Lytton experimentou um calor 5ºC acima do usual. Além disso, não se esperava que uma cidade do interior do Canadá, um dos países mais frios do mundo, fosse mais quente que outras regiões de temperaturas mais altas.
Nos últimos dois anos, o fato de Lytton ter sido tão quente quanto naquele verão foi motivo de investigação de cientistas da Universidade de Bristol, no Reino Unido. E, só agora, eles parecem ter chegado a uma conclusão.
Segundo os pesquisadores, essa onda de calor do Canadá foi especialmente desafiadora porque, de acordo com a teoria dos valores extremos, não deveria ter acontecido.
Essa teoria serve para analisar a probabilidade de fenômenos raros e, mais que isso, entender os fatores e o que faz com que os extremos sejam daquela forma (mais frios ou mais quentes, por exemplo). Como Lytton fica no Canadá, um local tradicionalmente frio, é estranho que os termômetros tenham chegado a quase 50 ºC, mesmo no verão.
Mas os pesquisadores entenderam que não é tão simples quanto parece. Ao analisar os dados históricos, eles identificaram que 31% da superfície da Terra experimentou um calor “estatisticamente implausível” de 1959 a 2021. Esses locais estão espalhados por todo o planeta e não parecem ter um padrão claro.
A equipe analisou dados de um grande conjunto de modelos climáticos desenvolvidos por computadores para simular diversos cenários do clima global. Ali, identificou regiões que não experimentaram calor especialmente extremo nos últimos 60 anos.
O que afeta a temperatura
Mas isso não significa que esses locais tenham algo de especial. Na verdade, é provável que também se deparem com temperaturas recordes em um futuro próximo.
“E sem a experiência de um caso atípico tão grande e com menos incentivo para se preparar para um, eles podem ser especialmente prejudicados por uma onda de calor recorde”, escreveu Nicholas Leach, um dos autores do estudo, no site The Conversation.
Segundo Leach, fatores socioeconômicos, como o tamanho e crescimento da população, e nível de desenvolvimento, podem exacerbar esse impacto. Como resultado, os pesquisadores consideraram as projeções populacionais e o desenvolvimento nas regiões que estão em maior risco de viver sob calor extremo em breve. São elas:
- Afeganistão
- países da América Central
- extremo leste da Rússia
“Essas regiões podem ser surpreendentes, já que não são aquelas em que as pessoas normalmente pensam quando consideram os impactos extremos do calor das mudanças climáticas, como a Índia ou o Golfo Pérsico”, explicou Leach.
Segundo ele, a Índia e países árabes, como Arábia Saudita, Kuwait e Irã experimentaram ondas de calor severas no passado e, por isso, já fazem o que podem para se preparar. “Os formuladores de políticas em todo o mundo devem se preparar para ondas de calor excepcionais que seriam implausíveis com base nos registros atuais”, pontuou o pesquisador.