Vilãs dos filmes de terror, sanguessugas salvam até animais da extinção
Pesquisadores da Universidade Harvard, nos EUA, e do Instituto de Zoologia de Kunming, na China, estabeleceram uma nova função para as sanguessugas: monitoras da natureza.
Estes seres, que costumam ser retratados como vilões em filmes de terror, se alimentam de uma ampla gama de animais –desde ursos até ratos. A dieta variada foi um prato cheio para os pesquisadores, que perceberam que poderiam usar as sanguessugas para rastrear vertebrados no meio ambiente.
Isso porque, ao extrair o sangue da sanguessuga, os cientistas conseguem identificar DNA derivado de suas presas. Esses invertebrados não são conhecidos por correr atrás de sua comida, mas sim por esperar pacientemente a “chegada do rango”. Sendo assim, se há material genético de outro animal, significa que ele passou pelo local em que a sanguessuga foi encontrada.
Para medir a habilidade desses seres, 163 guardas da Reserva Florestal de Yunnan, na China, saíram em busca de sanguessugas. O trabalho durou três meses e, ao final, coletaram 30.468 anelídeos.
Depois, cientistas do Instituto de Zoologia de Kunming realizaram o sequenciamento genético e apontaram a qual animal o DNA pertencia. O trabalho de analisar a localização das espécies ficou para a equipe de Harvard. O estudo completo foi publicado na revista Nature Communications.
Os pesquisadores identificaram 86 espécies, incluindo anfíbios, répteis, escamados, aves e mamíferos.
Alguns dos animais estão listados como quase ameaçados ou ameaçados pela União Internacional para a Conservação da Natureza. É o caso do urso-negro-asiático e do cervo-de-topete.
De acordo com os cientistas, o gado, ovelhas e cabras eram mais abundantes nas zonas baixas e acessíveis da reserva, enquanto a vida selvagem se escondia no interior de alta altitude. As observações sugerem que a atividade humana está afastando os animais do segundo grupo de certas áreas da reserva.
As sanguessugas são abundantes no meio ambiente, principalmente em climas tropicais e subtropicais. Isso as torna uma ferramenta mais prática e barata para realizar o rastreio dos animais, podendo ser utilizadas para substituir câmeras automatizadas e gravadores acústicos.
Além disso, os cientistas acreditam que estes anelídeos sejam capazes de rastrear vírus, ajudando na prevenção de futuras epidemias. “É uma maneira bastante eficaz de amostrar uma grande diversidade de animais selvagens e, se pensarmos que [reservatórios de doenças zoonóticas] são realmente algo para se preocupar e monitorar, esta é uma boa maneira de fazê-lo”, disse Naomi Pierce, autora do estudo, em comunicado.