Quando surgiram rumores de que a Xiaomi estaria cogitando deixar o Brasil, a empresa negou tudo veementemente. Agora, o vice-presidente Hugo Barra afirma que vai mesmo reduzir as operações no país.
Em entrevista ao AndroidPIT, Barra diz que a Xiaomi não lançará novos smartphones no Brasil “no curto prazo”, e não venderá mais produtos pelo próprio site, só através de lojas online já consolidadas.
“Os produtos estão disponíveis nas lojas da Vivo e nos nossos parceiros de e-commerce: Submarino, Americanas.com, Shoptime, Casas Bahia, Extra, Pontofrio, Walmart.com, Webfones e Ricardo Eletro”, explica Barra.
O Redmi 2 e Redmi 2 Pro continuarão disponíveis, porém não serão mais fabricados por aqui: “eles serão produzidos no Brasil quando, e se, a fabricação for mais vantajosa comparada à importação”, afirma Barra. Como apurou o Manual do Usuário – primeiro a dar notícia sobre os problemas da Xiaomi no país – a fábrica da Foxconn em Jundiaí (SP) que fabricava o Redmi 2 Pro “cessou a produção há meses”.
O executivo diz que a Xiaomi não está saindo de fininho: “a operação brasileira é bem-sucedida e atingiu as metas esperadas”. No entanto, as equipes de Marketing e Social Media serão transferidas de São Paulo para a sede da empresa em Pequim.
Pior: segundo o Manual do Usuário, o escritório em São Paulo foi colocado para aluguel, e “um novo contrato de locação já estava sendo assinado”. A Xiaomi diz que “existe uma possibilidade de mudar de local até o fim do ano para ir para outro bairro”.
Motivos
Barra diz que essa mudança de estratégia é culpa das “mudanças constantes nas regras de fabricação e na tributação para as vendas via e-commerce no Brasil no final de 2015, e que ainda não estão solidificadas”.
Ele provavelmente está falando sobre o fim da isenção fiscal a smartphones na Lei do Bem, que voltou temporariamente graças a uma liminar obtida pela Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica). A regra se aplica a smartphones abaixo dos R$ 1.500 e fabricados no Brasil.
Em tese, o PIS/Cofins pode deixar de ser aplicado imediatamente, pois é cobrado no varejo, mas a entidade diz que “as empresas ainda estão avaliando, com suas equipes, os efeitos da decisão e o melhor modo de aplicá-la”.
Barra também deve estar se referindo às novas regras do ICMS para o comércio eletrônico. Desde o início do ano, os estados de origem e destino de cada mercadoria tinham que partilhar esse imposto, o que adicionou uma enorme camada de burocracia em cada compra. Da Agência Brasil:
Neste ano, o estado de destino da mercadoria ficará com 40% do diferencial de alíquotas (parcela do imposto que ele tem direito a receber); e o estado de origem, com 60%. Em 2017, a proporção se inverterá: 60% para o estado comprador e 40% para o estado vendedor. O estado consumidor ficará com 80% em 2018, e a partir de 2019, o diferencial será integralmente cobrado pelo estado de destino.
Em fevereiro, o STF (Supremo Tribunal Federal) concedeu liminar suspendendo essa nova cobrança do ICMS, por considerá-la inconstitucional. De fato, a Constituição prevê que o ICMS deve ser sempre cobrado no estado de origem, exceto no caso de derivados de petróleo.
Claro, Barra jamais menciona fatores internos para não se encaixar no mercado brasileiro. Eles focaram em vendas online quando o consumidor médio ainda se concentra em lojas de operadora e canais físicos; e apostaram na divulgação dos Mi Fãs, mas só trouxeram smartphones básicos ao país.
Este último problema pode estar prestes a ser resolvido. Barra anunciou que um programa Beta, a ser aberto nos próximos dias, vai obter feedback dos usuários para saber quais produtos a empresa deve lançar por aqui no futuro. “Os interessados deverão responder perguntas sobre a Xiaomi e sobre tecnologia em geral e a própria Xiaomi, com base nas respostas, selecionará os beta testers”, explica o executivo.