O que Zygmunt Bauman tinha a nos dizer sobre redes sociais e o mundo conectado
O sociólogo e filósofo polonês Zygmunt Bauman morreu nesta segunda-feira (9) em Leeds, na Inglaterra, aos 91 anos, de acordo com o jornal polonês “Gazeta Wybocza“. A causa da morte ainda não foi divulgada.
Bauman ficou conhecido como criador do conceito de modernidade líquida e era considerado dos intelectuais mais importantes do século XX. Ele continuava ativo, só no ano passado publicou três livros; seu último trabalho, Retropia, ainda será lançado.
Entre os seus livros de maior sucesso estão “Amor líquido”, “O Mal-Estar da Pós-Modernidade”, “Tempos Líquidos” e “A Sociedade Individualizada”. O sociólogo tinha como um dos seus principais temas a forma como as relações atuais na sociedade tendem a ser menos duradouras e mais voláteis. Também se dedicou a discutir o consumismo e a globalização.
“Ao contrário de ‘relacionamentos reais’, os ‘relacionamentos virtuais’ são fáceis de entrar e de sair. Acho que a atratividade do novo tipo de amizade, o tipo de amizade de Facebook, como eu a chamo, está exatamente aí. É a facilidade de desconectar.” – em entrevista concedida a Fernando Schüler e Mário Mazzilli na Inglaterra.
Ele nasceu em Poznan, no oeste polonês, em 1925. Aos 14 anos de idade fugiu junto com a família, judia, das forças nazistas e se mudou para a União Soviética. Mais tarde, se alistou no exército da URSS.
Nos anos 1940 e 1950 foi militante do Partido Comunista Polaco, até se desligar da organização devido ao fracasso da experiência socialistas no leste europeu. Em paralelo estudou sociologia na Universidade de Varsóvia, onde assumiu um posto de professor.
“A diferença entre a comunidade e a rede é que você pertence à comunidade, mas a rede pertence a você. É possível adicionar e deletar amigos, e controlar as pessoas com quem você se relaciona. Isso faz com que os indivíduos se sintam um pouco melhor, porque a solidão é a grande ameaça nesses tempos individualistas.” – em entrevista ao El País em janeiro de 2016.
Em 1968 deixou o país, motivado pelas perseguições antissemitas que sofrera em decorrência da guerra árabe-israelense. Muitos dos seus livros e artigos foram censurados na época.
Depois de renunciar à sua nacionalidade, foi para Tel Aviv e lecionou na Universidade local durante um curto período. Em seguida, aceitou uma vaga no departamento de sociologia na Universidade de Leeds na Inglaterra, onde desenvolveu a maior parte de sua carreira.
“A internet torna possíveis coisas que antes eram impossíveis. Potencialmente, dá a todos acesso cômodo a uma quantidade indeterminada de informações: hoje, temos o mundo na ponta de um dedo. Além disso, a rede permite a qualquer um publicar seu pensamento sem pedir permissão a ninguém: cada um é editor de si mesmo, algo impensável há poucos anos.
Quando você sai de casa e se encontra na rua, num bar ou num ônibus, interage – queira ou não – com as pessoas mais diversas, as que lhe agradam e as que lhe desagradam, as que pensam como você e as que pensam de modo distinto. Não pode evitar o contato e a contaminação, está exposto à necessidade de confrontar a complexidade do mundo. Esta própria complexidade não é uma experiência prazerosa e obriga a um esforço. A internet é o contrário: permite não ver e não encontrar todos os que são diversos de você.” – em entrevista ao L’espresso em fevereiro de 2016, traduzido por Antonio Martins.
Segundo ele, a “modernidade líquida” é uma etapa na qual tudo que era sólido se liquidificou, e em que “nossos acordos são temporários, passageiros, válidos apenas até novo aviso”.
“Tudo o que é privado agora é feito, potencialmente, em público – e está potencialmente disponível para o consumo público; e permanece disponível para a duração, até o fim do tempo, assim como a internet “não pode ser feita para esquecer” nada uma vez que se está gravado em qualquer um dos seus inúmeros servidores. […] A escolha entre o público e o privado está saindo das mãos das pessoas, com a cooperação entusiasta das pessoas e os aplausos ensurdecedores.” – em comentário feito para o jornal The Guardian.
Imagem do topo: M. Oliva Soto – Narodowy Instytut Audiowizualny/Flickr.