Um rolê de 99Top: testamos o serviço de táxi preto que vai estrear em São Paulo
Vamos lá: carro preto, banco de couro, ar condicionado, pagamento via aplicativo, oferta de água e balinha. Estou falando de qual serviço? Parece o Uber, mas é o 99Top, o primeiro serviço de táxi preto de São Paulo, que começa a sair do papel. Ele ainda não está totalmente operante – falta o processo de emplacamento dos veículos – mas o Gizmodo Brasil fez um rolê nesta terça-feira (16) em um dos carros que será utilizado pela categoria.
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A legislação da categoria saiu no fim do ano passado, e os primeiros veículos devem começar a circular entre o fim de fevereiro e o início de março, quando começará o emplacamento dos carros licenciados. Além do 99Top, a Easy Taxi deve estrear o serviço Easy Plus.
Como funciona
A 99Taxis vai soltar um update de seu aplicativo, que habilitará a opção de procurar carros no 99Top. (A opção já aparece em alguns smartphones, mas não é possível pedir veículos ainda.) Ao digitar o destino, o programa automaticamente vai calcular a estimativa da tarifa nas duas categorias (táxi convencional e táxi preto). Após aceitar a corrida, o condutor já terá o destino e terá um atalho para abrir o Waze com o endereço.
Após aceitar a corrida, app da 99 abre o Waze com o destino. Crédito: Divulgação
A experiência é bem parecida com a do UberBlack. O carro é identificado com o logotipo da 99 no vidro. O veículo deve ser preto, ter bancos de couro, ar condicionado e no máximo três anos de uso. Logo ao entrar, o motorista oferece água e bala — esses itens, como no Uber, são todos bancados pelo próprio condutor.
O bacana é que a unidade do 99Top utilizada na corrida, no caso um Toyota Corolla, tinha um carregador de bateria (não é incomum ver o mesmo recurso em carros do Uber). Segundo a 99, além dos itens citados, os veículos devem ter odorizador, guarda-chuva (dado pela companhia) e Wi-Fi (este item ainda depende de negociações da empresa). Os motoristas só são habilitados após passarem por um treinamento dado pela companhia sobre como lidar com passageiros, e sobre cuidados que devem ter com o próprio carro.
Ao escolher o táxi preto da 99, a única opção de pagamento será via aplicativo. O taxista encerra a corrida e ocorre a operação financeira no cartão de crédito do cliente. Diferente do serviço em táxis convencionais, o passageiro não precisa mexer no smartphone — neste modo, para validar essa operação, atualmente é necessário digitar parte do CPF.
Como previsto no edital dos táxis pretos, não há um taxímetro: tudo é feito via aplicativo. Para cobrar o cliente, o 99Top usa três variáveis: existe um valor mínimo de R$ 10 ao entrar no carro (se for um trajeto pequeno, este será o valor faturado) e o restante é composto pela quilometragem e tempo percorridos. É semelhante ao UberBlack, cuja tarifa mínima é de R$ 9. Segundo a legislação dos táxis pretos, o valor máximo cobrado deve ser 25% superior ao de um táxi normal.
Uma simulação saindo da avenida Brigadeiro Faria Lima, na altura do número 1.900, com direção ao Metrô Santa Cruz deu estimativa de R$ 30 – R$ 40 no UberBlack, enquanto no 99Top foi R$ 32 – 43.
Em uma simulação, baseada apenas em distância e tempo, calculamos quanto ficaria uma corrida em cada um dos serviços considerando a distância de 15 km em um período de 30 minutos. Com o UberBlack, o valor foi de R$ 47, enquanto no 99Top foi de R$ 55,20.
Os preços do 99Top são levemente superiores, mas a modalidade não conta com um valor base, o que pode ser vantajoso se o trajeto e o tempo da corrida forem menores.
E que fique claro: o Uber não se considera concorrente do serviço, pois táxi é um serviço público, enquanto a modalidade de corridas via aplicativo é um serviço privado.
Ok, mas o que difere do Uber?
– Sem tarifa dinâmica
O 99Top, assim como todos os táxis pretos, tem uma “tarifa fixa”. Não existe bandeirada (valores mais caros dependendo do horário, como ocorrem nos táxis convencionais); e nem “tarifa dinâmica”, como no Uber.
Usar os táxis pretos pode ser uma opção mais vantajosa quando você estiver pedindo um veículo após um show ou evento, por exemplo. No Uber, quando há muita demanda, o aplicativo ativa a tarifa dinâmica, que aumenta o valor como forma de chamar mais motoristas para aquele local. Durante as festividades do ano novo, muita gente reclamou do aumento repentino no app.
– Divisão dos valores com o motorista
No UberBlack, vigora o esquema 80% – 20%. A maior parte fica com o motorista, e o restante para a empresa que fornece a tecnologia. No 99Top, a empresa diz que fica com 14,99% do valor da corrida. É também importante ressaltar que o condutor deve ter licença de taxista e ainda ter um alvará que custa R$ 60 mil.
Como contrapartida, o condutor do 99Top recebe os pagamentos por uma espécie de cartão de débito. “Os motoristas precisam de dinheiro rápido. No serviço convencional, às vezes, fazíamos transferências, que levam até dois dias úteis para cair na conta. Com esse cartão, alguns minutos após o encerramento da corrida, e o dinheiro já está disponível”, explicou Maria Elisa Silva, gerente de marketing da 99, que me acompanhou em parte da corrida feita pelo bairro de Pinheiros.
O condutor deve pagar uma mensalidade de R$ 9,99 para usar o cartão.
– Carro tem placa vermelha
Como todos os táxis operantes em São Paulo, o 99Top terá uma placa de cor vermelha. A vantagem disso é que, em alguns postos de combustível, a categoria pode ter descontos. A 99Taxis ainda informou que tentará conseguir uma autorização da prefeitura para que os motoristas possam andar nos corredores de ônibus, como os táxis convencionais.
O rolê foi top?
Na corrida que fiz pela região da Faria Lima, na região de Pinheiros, em São Paulo, a experiência foi bem parecida com as que já tive em veículos UberBlack, com direito a água, balinha e fonte para carregar o smartphone. Durante o trajeto, não foi discutido o impeachment e nem o ódio de alguns taxistas ao Uber. O condutor apenas perguntou sobre o ar condicionado, que estava num nível bem bom, e se eu queria ouvir alguma rádio em específico.
O valor, dependendo da ocasião, é semelhante ao do UberBlack. Jogando a real: não será nenhum problema você ter os dois apps e fazer uma comparação rápida para saber qual vale mais a pena.
No fim das contas, a 99Taxis pode levar alguma vantagem com o lançamento do serviço, em função das várias ações feitas pela empresa em 2015. A companhia fez acordos com marcas de bebida, deu descontos por meses para corridas em São Paulo, fez várias propagandas na TV e até patrocinou clubes de futebol. Durante o mesmo período, o Uber ganhou notoriedade na mídia pela propaganda boca a boca e por ataques feitos por taxistas.
A ideia da 99 é expandir o serviço para outras cidades. A intenção é levar os táxis pretos para Belo Horizonte e Rio de Janeiro — em ambos os casos, a empresa depende de legislação específica para tanto.
Na real, só espero que a chegada de concorrentes melhore o serviço de transporte individual por todo o Brasil, pois não dá para aguentar motoristas que acham que estão fazendo um favor para os passageiros, quando estão em um serviço remunerado.
Se for disseminada a noção de que o taxista é um prestador de serviço e que precisa se preocupar minimamente com quem está transportando, já está ótimo. E isso deve influenciar a categoria como um todo.