Briga entre taxistas e Uber se transforma em palco de guerra na França
A batalha entre taxistas e motoristas do aplicativo Uber atingiu proporções de guerra nesta quinta-feira (25), em Paris, França. Em protesto contra o app, taxistas bloquearam importantes vias de acesso a aeroportos e estações de trem, e atacaram não apenas os motoristas do app e seus respectivos carros, mas também usuários do aplicativo. Sobrou até mesmo para a cantora Courtney Love, que desembarcou hoje cedo no país.
De acordo com a polícia francesa, 2.800 taxistas protestam contra o UberPOP, o equivalente francês ao UberX — categoria que estreou no Brasil recentemente e transforma qualquer carro, não apenas sedãs de luxo da cor preta, em um veículo Uber.
Os taxistas também veem essa nova categoria como uma competição injusta, já que para exercer a função de motorista do UberX não há necessidade de emitir a licença de taxista, que pode chegar a custar até US$ 270.000 na França, segundo informações do The Verge.
Em apenas três anos, o Uber acumulou mais de um milhão de usuários na França, sendo 250.000 destes usuários exclusivos do UberPOP. Abdelkader Morghad, representante de um sindicato de taxistas franceses, diz à Bloomberg que o lucro de taxistas caiu de 30% a 40% apenas nos últimos dois anos, graças a popularidade do aplicativo no país. Os taxistas exigem a aplicação da lei Thevenoud, que proíbe que motoristas não licenciados exerçam a profissão, segundo Morghad.
Protestos
Os taxistas bloquearam as vias de acesso aos aeroportos Charles de Gaulle e Paris-Orly, além de diversas estações de trem em Paris e importantes vias de acesso de outras cidades francesas — protestos ocorrem Nice, Marselha, Toulouse, Bordéus, Lyon e Lille.
É o maior protesto contra o aplicativo no país desde que o UberPOP foi expandido para outras cidades francesas além de Paris. Durante a manifestação, a classe de taxistas virou e queimou carros de motoristas do Uber pelas ruas francesas:
Protestons ne prenons plus de taxi comportement inadmissible #NoTaxiAnymore #Animaux @UberFR #Taxi/Sauvage #UberPop pic.twitter.com/X9SrjXS5yi
— Anthony (@AnthonyETIEN) June 25, 2015
Bernard Cazeneuve, ministro do interior da França, ordenou a ilegalidade do UberPOP em Paris, mas complementou que apenas uma ordem judicial poderia tornar o aplicativo ilegal em toda a França. Ainda de acordo com o ministro, uma equipe dedicada da polícia trabalha há semanas na contenção dos motoristas clandestinos e já emitiu mais de 420 multas a motoristas trabalhavam pelo UberPOP.
O UberPOP já foi banido de diversos países, como Bruxelas, Holanda e até mesmo da França, mas, em muitos dos casos, o Uber continuou a permitir as atividades dos motoristas dessa categoria, e quando um motorista do Uber é multado pela polícia francesa, a empresa paga por ela.
Manuel Valls, primeiro ministro da França, marcou uma reunião com diversos sindicatos de taxistas para amanhã, mas ela foi prontamente recusada pela classe, que diz não querer mais se comunicar com o governo.
De acordo com informações do TechCrunch, o Uber condena os recentes atos de violência nos países franceses contra seus parceiros e os respectivos veículos e que, até o presente momento, nenhuma ordem judicial declarou o UberPOP ilegal em território francês.
Manifestation anti-UberPop des taxis marseillais qui veulent la désactivation de l'application #Marseille pic.twitter.com/qYJ3j5bx4G
— M!KA (@mickaelflores) June 25, 2015
https://twitter.com/LaGazetteduTaxi/status/614037204764127232/photo/1
“Mais segura em Bagdá”
A cantora Courtney Love foi mantida refém pelos taxistas e descreveu o acontecimento pelo Twitter:
https://twitter.com/Courtney/status/614018463099568129
Love desembarcou na França há algumas horas e afirma que o carro do Uber em que ela se encontrava foi cercado por taxistas que bateram no veículo com barras de ferro. “Isso é a França? Estou mais segura em Bagdá”, disse.
Ela conseguiu fugir com o auxílio de uma dupla de motoqueiros, mas diz ter sido perseguida por taxistas, que atiraram pedras contra a moto durante a perseguição:
https://twitter.com/Courtney/status/614033151984205824
UberX no Brasil
O UberX, equivalente americano ao UberPOP, estreou no Brasil há duas semanas: a nova categoria oferece tarifas mais baratas, além de possibilitar que donos de carros mais simples se tornem motoristas do Uber. A categoria original, UberBlack, permite apenas que donos de carros específicos (sedans pretos de marcas e modelos determinados) possam se tornar colaboradores do aplicativo.
É mais uma opção oferecida ao consumidor, que não deixou os taxistas muito felizes, como disse Antônio Matias dos Santos, presidente do Sindicato dos Motoristas e Trabalhadores nas Empresas de Táxi do Município de São Paulo:
“Quero dizer bem claro para os nobres deputados que tomem providência, porque se não tomarem providência, a gente que é representante das categorias que os senhores ouviram falar um monte e que está aqui presente: não temos como conter a categoria, vai ter morte”
A declaração foi feita pelo presidente do sindicato em uma audiência pública promovida pela Comissão de Viação e Transportes entre taxistas e deputados, em Brasília, na última quinta-feira (18). Deputados defendem a regulamentação e fiscalização do aplicativo, enquanto taxistas protestam e pedem o fim das atividades do Uber no Brasil.
No início de abril, um protesto convocado pela Abracomtaxi (Associação Brasileira das Associações e Cooperativas de Táxi) pedia o fim de “carros particulares que prestam serviços clandestinos de táxi com o apoio de aplicativos de carona remunerada”. O protesto serviu mais para trazer atenção ao aplicativo da Uber, que registou cinco vezes mais downloads que em dias comuns.
O Uber opera no Brasil em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília, e se defende, dizendo não ser uma empresa de transporte, mas, sim, uma empresa de tecnologia que conecta motoristas particulares a usuários interessados nestes serviços.
Frente às ameaças, a companhia responde em nota que repudia qualquer tipo de violência e que sua missão é oferecer opções de transporte seguras e confiáveis. [Reuters, The Verge, TechCrunch, Bloomberg, IG]
Imagem de capa: joakimformo/CC