Passeamos em um carro autônomo Waymo e foi surpreendentemente tranquilo
Waymo, o grupo de carros autônomos que nasceu da unidade secreta moonshot da Google e recentemente virou a própria companhia, fez vários carros que dirigem sozinhos – cerca de 100 da sua versão Chrysler, com mais 500 em produção, e provavelmente vai fazer muitos mais no futuro. Nessa segunda (30), a Waymo deixou um bando de repórteres entrarem nos Chryslers em sua instalação de testes, sem colocar ninguém atrás do volante, nos dando um primeiro olhar sobre como será o nosso futuro sem motoristas.
Parecia apenas como, bem, andar de carro. E isso é uma coisa boa para a Waymo, porque significa que seus carros parecem super seguros e normais e nada parecido robôs assassinos que nos fizeram acreditar.
Waymo levou um grupo de repórteres para a sua área secreta de teste, cerca de três horas de distância de São Francisco. Em troca do acesso à instalação e passeios nos carros, concordamos em não tirar fotos e não nos desviarmos de uma agenda rigidamente controlada. (E eu quero dizer rigidamente controlada, quando me afastei da explicação para encontrar um banheiro, fui escoltada por dois seguranças bondosos que esperaram fora enquanto eu fazia xixi e depois confirmaram por um walkie-talkie, quando eu estava a salvo de volta no meu lugar). Mas a experiência coreografada valeu a pena, porque isso significava que eu tive um olhar de perto para o que pode ser uma das tecnologias mais transformadora do nosso tempo. Apesar de todo o hype em torno dos veículos autônomos, e meu próprio ceticismo de um futuro em que eu não controlaria o meu próprio veículo, toda a experiência pareceu surpreendentemente mundana.
As vans Chrysler Pacifica da Waymo vêm recheadas de sensores na parte superior, laterais e pára-choques – as marcas de um sistema de auto-condução, mas dentro elas parecem um carro de família normal. Os passageiros ficam na segunda e terceira fileira de assentos. Os assentos dianteiros foram deixados vagos durante a nossa volta em torno pista de testes da Waymo, mas estão ocupados em outras ocasiões por técnicos que monitoram o movimento do carro. Tablets atrás dos encostos de cabeça exibem um mapa em tempo real que mostra as rotas da van.
Do lado de fora, as vans são um pouco assustadoras. Senti um medo momentâneo quando olhei para cima e vi uma encostando ao meu lado, apenas para perceber que não havia ninguém em seu interior e a roda estava girando por conta própria. Fez eu lembrar os tempos em que eu comecei a sair do meu próprio carro sem mudar a marcha para estacionar e ele começava a andar embaixo de mim. (Sim, eu fiz isso mais de uma vez, o que é talvez uma boa defesa para os carros que se auto dirigem).
Foto: Waymo
Mas assim que eu entrei, fiquei surpresa ao descobrir que eu passei quase tempo nenhum assistindo os movimentos fantasmagóricas das rodas. Em vez disso, as telas chamaram a minha atenção. Especialmente do banco traseiro, os passageiros não têm uma boa visão dos pedestres e ciclistas que serpenteiam em torno do curso de teste – então a melhor maneira de ver como a van reagia a obstáculos foi pelo tablet.
Waymo planeja entrar no negócio do transporte urbano, e a van acompanha fielmente a rota destacada no mapa, assim como faria o seu aplicativo Uber ou Lyft. O mapa mostra os pedestres, ciclistas, semáforos, cones de construção e outros obstáculos enquanto eles aparecem, o que o chefe de design de experiência do usuário do Waymo, Ryan Powell, disse servir para deixar os passageiros se sentirem mais seguros conforme eles vêem o carro reconhecendo objetos.
Os tablets também fornecem o contexto em situações nas quais o passageiro pode se sentir confuso – por exemplo, se o carro está à espera de um pedestre para deixar a faixa de pedestres quando um motorista humano pode passar por ele assim que a pessoa está fora do seu pára-choques. Isso tudo é explicado na tela.
Os carros, é claro, enxergam muito mais. Uma mistura de dados de LIDAR, radar e câmeras é injetado em uma complexa nuvem, que Waymo considera estímulo demais para exibir cruamente para os passageiros. Em vez disso, eles têm a versão reduzida de quadrinhos do mundo ao seu redor, com pequenos pulsos acontecendo a cada poucos segundos para lembrar do intrincado software por trás do seu passeio.
“Nós obcecamos sobre a quantidade certa de informações para mostrar no momento certo”, explicou Powell. “Tudo passou por uma curadoria – saber o que mostrar, como mostrar e como destacá-lo”. Às vezes, a curadoria funciona – é bonito de ver cada cone de tráfego individual, com suas listras brancas – e às vezes não parece certo. Bicicletas são reduzidas a retângulos azuis fracos que se parecem com skates. Skates também parecem com skates. Outros carros são retângulos azuis maiores com cantos levantados – grandes skates. Só as vans da Waymo parecem carros realistas, completas com o LIDAR em cima.
O tablet explica o que está acontecendo quando o carro se comporta de forma diferente de um motorista humano.
Foto: Waymo
Waymo tem testado seus carros nesta pista há cerca de seis anos. Desde quando era um projeto secreto dentro do Google, Waymo estava tentando desenvolver um produto de assistente de rodovia. A empresa enviou seus engenheiros para a estrada para testar o software, e pegou eles em filmagens mandando mensagens de texto, retocando a maquiagem e até mesmo dormindo, enquanto os carros cruzavam pela estrada.
“Quanto melhor você fizer isso, mais provável que o humano no volante queira dar uma olhada”, disse o CEO do Waymo John Krafcik. É por isso que o Waymo decidiu acabar com tecnologia de assistência em favor da autonomia plena, considerando ela a alternativa mais segura.
O passeio, que começa com o pressionar de um botão azul em um console no teto, parece bem seguro (embora o nosso test drive não inclua qualquer coisa perto da velocidade de estrada, e que me soa mais arriscado). A van diminuiu ligeiramente a velocidade quando faz curvas e passa por outras vans de uma forma que parece excessivamente, embora confortável, cautelosa. Ela também achou seu caminho para fora de cruzamentos movimentados e freou rapidamente de maneira que parecia surpreendentemente humana.
William Turton, ex-escritor do Gizmodo e atual traidor na Vice News, observou que o curso de teste parece uma cena tirada direto de The Truman Show, e ele está certo – o mesmo homem anda de um lado para outro na frente de seu carro por horas, conversando no telefone, o mesmo carro obedientemente faz a mesma volta, e os mesmos pedestres andam através das mesmas faixas de pedestres. Acrescente o resto da construção relativamente vazia e parecendo um quartel general e a coisa toda parece uma assustadora alucinação suburbana. Ele realmente não ajuda o efeito global que você pode apertar outro botão no console do teto e um membro da equipe de apoio do Waymo vai começar a conversar com você através de alto-falantes do carro (embora isso provavelmente pareça menos assustador e mais essencial lá fora em ruas reais).
Botões no teto podem começar o passeio ou ligar para um ser humano para obter ajuda. Foto: Waymo
Mas os obstáculos repetitivos ajudam os carros a aprender cenários difíceis mais rapidamente do que seria no mundo real. Waymo usa seu curso fechado para testar uma variedade de que situações. E se um carro desiste de uma entrada sem aviso? E se a estrada tem um enorme buraco? E se alguém desce uma rampa de uma van em movimento e vai para a rua, levando uma pilha de caixas? E se uma ambulância passa correndo? E se estiver escuro lá fora e nós esguicharmos o carro inteiro com água?
A aprendizagem é combinada por meio de simulação, que permite que os carros da Waymo dirijam bilhões de quilômetros a mais do que jamais poderiam no mundo real. “Temos o equivalente de uma frota de 25.000 carros, dirigindo por aí todas as horas de todos os dias”, o vice-presidente de engenharia Dmitri Dolgov da Waymo explicou. Em uma simulação, os engenheiros podem adicionar novos obstáculos quando quiserem. “Na maioria das vezes hoje em dia estamos percebendo que é o simulador que está nos fornecendo a capacidade de adicionar a maioria dos novos recursos”, acrescentou.
Depois de oito anos de trabalho, os carros da Waymo parecem muito inteligentes. Durante a minha viagem, o carro ainda evitou atropelar um esquilo, que, obviamente, não era parte da manifestação prevista pela Waymo. Mas, em todos esses anos de testes e re-testes, e ainda mais testes, os concorrentes começaram a surgir, e a Waymo precisa colocar seus carros no mundo real o mais rápido possível.
“Para uma grande parte do mundo agora isso pode soar como teoria”, disse Krafcik. “O nosso objetivo, a nossa intenção, é trazer essa tecnologia para o mundo real, levar isso para as ruas públicas”.
Waymo já tem um grupo de pessoas que testam seus carros autônomos no Arizona, chamado Early Rider Program. No dia que o programa público foi lançado, a empresa diz que mais de 10.000 pessoas se inscreveram para participar (embora se recuse a especificar quantas fizeram parte do programa). O feedback desses passageiros ajuda o carro a ficar mais inteligente – Waymo está explorando maneiras de detectar quando um passageiro está perto do veículo para garantir uma entrada mais suave, e adicionando sons para permitir que os usuários cegos saibam quando um carro chegou. Às vezes, o programa contribui valioso conhecimento do mundo real. Em um exemplo, um passageiro disse para o Waymo que a localização que carro escolheu como um local ideal para ele sair estava completamente coberto de cactos.
A abertura de capital também significa que as pessoas podem questionar e vasculhar os carros. Isso é complicado para a Waymo porque muitos elementos de sua tecnologia ainda são secretos, às vezes surrealmente secretos. Durante um teste, no qual um conversível fecha abruptamente um carro de auto-condução, surgiu a questão: pode um carro de auto-condução buzinar? Não com raiva, a diretora das provas Stephanie Villegas explicou. E em outros estados de espírito? Villegas hesitou, e então, quando pressionada, ela confirmou que o carro era “capaz de buzinar”, mas disse que os cenários em que ele pode ou não pode buzinar eram melhor descritos pelo vice-presidente de engenharia da Waymo, que não estava presente.
Nenhuma buzinada aconteceu aqui. Foto: Waymo
Além da tecnologia secreta de buzina, há muitas funções que deveriam ser inacessíveis para os passageiros. Você não deve tentar abrir o porta-malas e ver onde os computadores que formam o cérebro do carro são armazenados, e se você esticar o seu braço sobre o banco de trás e tentar levantar a tampa do porta-malas, o carro irá detectar a sua intromissão. Você também não deve tentar entrar na frente dos carros para ver o quão rápido eles reagem ao estímulo inesperado, o que parece ser uma brincadeira inevitavelmente destinado a se tornar um viral de YouTube.
Mas o maior desafio de todos de Waymo pode não ser manter passageiros curiosos fora de suas entranhas – pode ser convencer as pessoas a pararem de dirigir. A grande maioria dos acidentes automobilísticos são causados por erro humano, mas as pessoas ainda gostam de dirigir. Waymo precisa que as “pessoas façam a transição do paradigma do motorista, que existe há mais de um século, para se tornarem passageiros em tempo integral”, explicou o gerente de produto Juliet Rothenberg. Mesmo que os carros de Waymo se auto-dirijam, muitos funcionários ainda se referem a si mesmos como motoristas, que mostra como a ideia de dirigirmos está anexada como parte da nossa identidade. Rothenberg comparou a conexão entre carro e piloto a um relacionamento romântico. “A previsibilidade e comunicação são chave para a confiança”, disse ela. As vans da Waymo podem não ser muito sexy, mas elas definitivamente são confortáveis, como andar em um bom e velho carro.