O que o Google aprendeu após seu carro autônomo colidir com um ônibus
Em fevereiro, um carro autônomo do Google bateu em outro veículo pela primeira vez. O software assumiu que um ônibus estava desacelerando, mas não era o caso, e ocorreu uma colisão de leve – ele estava a 3 km/h.
“Não gostamos quando nosso carro esbarra nas coisas”, disse Chris Urmson, chefe do projeto de veículos autônomos no Google. “Este foi um dia difícil para nós.”
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Durante uma palestra no evento SXSW (South by Southwest), Urmson compartilhou imagens do impacto, e explicou o que o Google aprendeu com o incidente.
Autônomo, porém humano
Os carros do Google têm muito mais experiência do que qualquer ser humano no planeta: a frota percorre em um único dia – nas ruas e em pistas de teste – a quilometragem que um americano médio dirige em um ano.
E esses carros também estão ganhando funcionalidades para dirigirem mais como seres humanos. Eles aprenderam a visualizar melhor as enormes faixas da direita em Mountain View, para mudar de pista mais facilmente; e podem até violar a lei cruzando uma linha amarela no meio da pista para contornar um carro estacionado indevidamente. (Nos EUA, essa linha amarela indica que é proibido ultrapassar.)
A previsão do carro do Google não se concretizou, e houve a colisão
Mas há diversos casos em que o veículo do Google não é humano o suficiente. Uma vez, ele tentou sair do ponto cego de um carro em uma autoestrada, mas acabou diminuindo muito a sua velocidade, e entrou no ponto cego de outro carro.
Isto é o que aconteceu no fatídico dia 14 de fevereiro, disse Urmson: “nosso carro fez uma suposição sobre o que o outro veículo iria fazer. É disso que a condução se trata.”
Imagem do incidente, os dados do carro, e os danos sofridos quando o ônibus danificou o sensor do carro
Visão do ônibus durante a colisão com o carro do Google. O vídeo completo está aqui. (GIF via Jalopnik)
Mesmo assim, Urmson continua confiante de que o Google é um piloto melhor do que você. Ele mostrou um exemplo no qual uma bicicleta indo na direção errada de repente passou à noite por um cruzamento, na frente de um carro do Google – e ele parou.
Urmson observou o vídeo dezenas de vezes, e acredita que o ciclista provavelmente não teria sido visto por um motorista humano. “Estou convencido de que, se eu estivesse ao volante, eu teria batido.”
Os carros do Google já encontraram coisas mais estranhas: por exemplo, uma mulher em uma cadeira de rodas elétrica perseguindo patos numa rua; e pessoas nuas pulando no capô.
O pedestre está nu, e saltou sobre o capô do carro.
Futuro
Urmson comentou sobre uma das limitações de carros autônomos: dirigir sob condições de chuva e neve. Isso não é necessariamente porque robôs funcionam mal sob tempo ruim, e sim porque a tecnologia de mapeamento não é capaz de reconhecer uma paisagem que de repente está coberta com 1 m de neve. “O mapa que usamos não funciona quando o mundo muda”, disse ele.
Na verdade, as maneiras em que carros do Google respondem à tração e condução sob tempo ruim ainda são melhores do que os humanos. Mesmo assim, a tecnologia autônoma provavelmente chegará primeiro a lugares onde o clima é melhor – como a Califórnia.
Isso ajudou a provar outro argumento importante. Urmson lembra que os carros autônomos são prometidos para prazos diferentes: alguns dizem três anos, outros dizem trinta. Qual é a resposta correta? Ambas.
A tecnologia deve ser distribuída da mesma forma que o Google vem testando: primeiro teremos carros autônomos em estradas (porque é mais fácil); depois em avenidas largas; e depois em ruas urbanas movimentadas.
Ele também apontou para as grandes mudanças de infraestrutura que a tecnologia autônoma trará, como a redução de estacionamentos. Nos EUA, há uma média de quatro vagas de estacionamento para cada veículo. “Imagine um mundo onde esses bunkers de concreto com cheiro de urina no centro de cada cidade podem ser transformados em espaços residenciais e um parque”.
Urmson é um orador envolvente que está ajudando a tornar o projeto do Google mais acessível para o público. E ao abordar as questões de segurança de modo transparente, ele certamente convence mais pessoas de que a autonomia é a melhor forma de melhorar o trânsito e reduzir mortes por acidentes – são 40.000 por ano só nos EUA.
“Nós teremos mais outro dia como o daquele incidente em fevereiro, e nós teremos dias piores do que isso”, disse Urmson, mas é muito importante avançar com essa tecnologia. “Eu sei que o benefício líquido será melhor para a sociedade.”
Foto: Santa Clara Valley Transportation Authority via AP