Cientistas são contra esforços para trazer animais extintos de volta à vida
A imprensa estava eufórica no começo do mês com a “de-extinção”, após o cientista de Harvard George Church ter afirmado que conseguiríamos criar um (provavelmente inviável) embrião de mamute lanoso nos próximos anos. Mas, nas palavras de Jeff Goldblum interpretando o Dr. Ian Malcolm, em Jurassic Park: “Seus cientistas estavam tão preocupados se conseguiriam ou não fazer isso que não pararam para pensar se deveriam”.
Cientistas pararam para pensar nisso. E alguns acham que não deveríamos.
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Uma equipe internacional de pesquisadores de Austrália, Nova Zelândia e Canadá analisou os custos de trazer de volta, reintroduzir e tomar conta de espécies extintas. Esses cientistas acham que a de-extinção inevitavelmente levaria ao sacrifício de alguns esforços de preservação, já que o dinheiro gasto para ressuscitar animais perdidos viriam de orçamentos de preservação em geral. Claro, alguns cientistas (como Church) acham que a de-extinção é uma ótima ideia. Mas esse pessoal discorda.
“É improvável que a de-extinção possa ser justificada com base na preservação da biodiversidade”, escreveram os autores em um estudo publicado nesta segunda-feira no periódico Nature Ecology & Evolution.
Em primeiro lugar, por que tentaríamos reverter a extinção de uma espécie? O estudo lista alguns benefícios em potencial, como aumentar a biodiversidade do planeta (a variedade de diferentes espécies), melhorar nosso conhecimento científico de toda a pesquisa de de-extinção ou apenas fazer nos sentirmos melhores após toda a destruição estúpida da natureza que perpetramos. Eles presumem que não reverteríamos a extinção de animais por motivos do tipo de Jurassic Park, por mais que ser morto por um velociraptor soe como um destino agradável.
Trazer de volta uma espécie demandaria mais do que apenas alguns ajustes de DNA. Após criar embriões realmente viáveis utilizando novas ferramentas de edição de genes como a CRISPR, precisaríamos criar populações inteiras, movê-las para a natureza e continuar monitorando-as e fazendo sua manutenção. Alguém precisaria pagar por tudo isso, seja esse alguém o governo ou uma organização não-governamental. Mas os tipos de grupos com dinheiro suficiente para trazer de volta animais extintos provavelmente já estão pagando para proteger os animais que já existem, argumentam os autores.
Outros provavelmente discordariam, como Church, que escreveu um ensaio sobre a de-extinção para a Scientific American, em 2013. Ele especificamente falou sobre o custo:
Reproduzir animais e criá-los até que haja números suficientes para soltá-los na natureza é um empreendimento ambicioso, mas o custo deveria ser comparável ao de reproduzir um gado ou preservar outras formas de vida ameaçadas de extinção. Esses custos seriam reduzidos se usássemos meios genéticos para melhorar as espécies que revivêssemos, aumentando sua imunidade e fertilidade, assim como sua habilidade de extrair nutrição de alimentos disponíveis e de lidar com o estresse ambiental.
Em seu novo estudo, os cientistas fizeram uma análise bem entediante de custo-benefício — eles simplesmente analisaram os orçamentos dos programas de preservação de seus países natais e subtraíram a quantidade de dinheiro que custaria para trazer de volta espécies extintas (tipicamente um pássaro ou uma planta). Os custos de preservação estimados para o primeiro ano iam de dezenas de milhares de dólares para algumas plantas a mais de US$ 7 milhões para alguns pássaros, como o pombo-metálico. Para efeito de comparação, o orçamento anual de preservação da Nova Zelândia é de NZ$ 30 milhões (R$ 66,89 milhões na cotação atual).
Presumo que, entretanto, a Austrália e a Nova Zelândia sejam mais propensas a gastar dinheiro neste tipo de coisa do que os Estados Unidos, por exemplo. Provavelmente os norte-americanos apenas pagariam para trazer de volta uma população de espécie extinta se pudessem caçá-la, fazer sopa com ela, transformá-la em arma ou usá-la para garantir a segurança de suas fronteiras ou algo do tipo. Afinal de contas, se o governo norte-americano planeja afrouxar os padrões contratação para o controle de fronteira, por que não contratar dinossauros ressuscitados?
De qualquer forma, outros não estão convencidos de que uma análise de custo-benefício seja tão útil para essa discussão como, digamos, um debate ético. Nós realmente não temos um bom controle sobre o quão caros esses programas de ressurreição podem ser, já que há vários custos não considerados sobre os quais não precisamos pensar quando protegemos espécies existentes, escreveu Ronald Sandler, professor do Departamento de Filosofia da Northeastern University, em um comentário na Nature. Esses custos incluem nova tecnologia, o fato de que não sabemos muito sobre a espécie em si e qualquer outro perigo nos quais não estamos pensando.
“Calcular os custos e benefícios de preservação não é suficiente”, escreveu. “É necessário também avaliar os argumentos éticos oferecidos a favor e contra — como, por exemplo, aqueles em torno de justiça, valor intrínseco, valor cultural e de arrogância (do ser humano).” Ele sugeriu que criássemos estratégias para nos ajudar a decidir se queremos ou não reviver uma espécie e definir como nos sentimos sobre esse problema, nos atendo então à nossa estrutura de tomada de decisões.
Então, deveríamos reviver espécies extintas se acharmos que haverá um benefício de preservação? Deixarei vocês com outra citação de Jurassic Park enquanto você pensa no assunto: Deus cria os dinossauros. Deus destrói os dinossauros. Deus cria o homem. O homem destrói Deus. O homem cria os dinossauros. Os dinossauros comem o homem. A mulher herda a Terra.
Imagem do topo: Jurassic Park/YouTube