Físicos recuam em relação ao que foi considerada a maior descoberta deste século
Em março, um grupo de físicos anunciou a primeira evidência direta do Big Bang em uma conferência para a imprensa. Nos dias seguintes, surgiram previsões de prêmio Nobel. Mas depois disso cientistas passaram a questionar a descoberta, e um novo artigo sugere que o sinal detectado não era evidência do Big Bang, e sim poeira interestelar. Ops.
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Caso você não tenha acompanhando a saga cosmológica, eis uma breve recapitulação. Em março, cientistas usaram dados do telescópio BICEP2 na Antártida e disseram que encontraram um padrão chamado “polarização modo B” na radiação cósmica de fundo, que é a radiação que sobrou da formação do universo. Esses redemoinhos combinavam com os padrões que acredita-se terem sido feitos pelas ondas gravitacionais primordiais, algo que já foi previsto mas nunca visto ates.
O BICEP2 parecia oferecer provas suficientes da existência das ondas gravitacionais primordiais e, por extensão, do Big Bang. Eba! Aplausos! Nobel!
Mas há uma explicação muito mais prosaica para esses padrões: poeira. Os cientistas do BICEP2 tentaram explicar isso usando conhecidos modelos de poeira no espaço, incluindo um mapa preliminar de uma apresentação do Powerpoint dada por um pesquisador que trabalha no telescópio espacial Planck da Agência Espacial Europeia.
Agora, cientistas de Planck publicaram um mapa completo de poeira interestelar, e há mais contaminação do que o BICEP2 acreditava. Quanto do sinal capturado pelo BICEP2 realmente vem de poeira é algo a ser analisado – as equipes estão trabalhando em conjunto e esperam publicar algo sobre isso em novembro.
Ainda há esperanças de que o BICEP2 tenha detectado mais do que poeira, mas as celebrações de março agora parecem prematuras. Cientistas podem dar coletivas de imprensa para divulgar suas descobertas, mas não é bem assim que a ciência como um todo funciona – ela é demorada e envolve muito mais recuo do que inicialmente se acreditava. [Quanta]
Imagem de topo: Telescópio BICEP2. Amble/Creative Commons