[Giz Debate] As nossas propostas para um Brasil inovador
Estamos na reta final das eleições. No próximo domingo, 5 de outubro, você decidirá quem serão os nossos representantes pelos próximos quatro anos – é uma responsabilidade enorme! Nós aqui, do Gizmodo Brasil, ajudamos você a entender parte do que a maioria dos candidatos prometem em seus programas de governo nas áreas de ciência, tecnologia e inovação. Agora, chegou a nossa vez de jogar na mesa o que gostaríamos de ver como prioridade na próxima gestão, independente de quem se mudar (ou permanecer) no Palácio da Alvorada.
Se você quiser conhecer mais algumas ideias, veja o GIZDEBATE. Convidamos especialistas para conversar sobre formas de transformar o Brasil em um país mais inovador. Confira como foi o GIZDEBATE neste link.
E, claro, dê seu palpite. O que faltou nas nossas propostas? O que faltou na proposta dos candidatos? Eu sei, eu sei. Não preciso pedir para vocês comentarem – vocês já fazem isso com maestria. Mas comentem com aquela INTELIGÊNCIA MAROTA, típica dos leitores do Gizmodo. Queremos propostas. As mais legais vão entrar no final deste post como sugestões da nossa comunidade de leitores. Bora, pessoal!
GizDebate: o que o Brasil pode fazer para avançar na ciência e tecnologia
1. Igualar a internet a serviços essenciais, como água e eletricidade.
Essa promessa consta nos programas de alguns candidatos. Deveria estar em todos. Há muito tempo a Internet deixou de ser um instrumento de pesquisadores e um hobby de geeks. Ela é, hoje, o meio de acesso mais cômodo ou único para um número crescente de atividades, das mais triviais, como trocar mensagens no grupo de família no WhatsApp e assistir vídeos de gatinhos no YouTube, a outras de importância basilar, como o acesso a alguns serviços públicos, como um boletim de ocorrência mais rápido. Além disso, é um enorme instrumento de participação política.
Embora seja recorrente na agenda dos candidatos, nenhum detalhou o caminho para se chegar lá. Isso é tão ou mais importante do que o compromisso em promover a universalização do acesso. Não é fácil, é verdade, e a garantia do acesso em nossa legislação não se constituirá em Internet para todos imediatamente (muitos ainda carecem de água tratada e eletricidade nos rincões do Brasil), mas o primeiro passo nessa jornada é tornar a rede um serviço essencial. Só dá para chegar lá se a gente quiser chegar lá.
2. Ampliar as leis de fomento à inovação dentro das empresas, com incentivos fiscais para empresas que absorverem pesquisadores e apresentarem resultados inovadores em produtos e processos.
A pesquisa, ainda que por caminhos às vezes não muito claros à população, é também parte do mercado. Se você parar e vasculhar a origem de produtos que usamos hoje, dos mais úteis aos não tanto, poucos surgiram do nada, de um estalo. Antes de um iPhone veio muito estudo, muita pesquisa, muito esforço – e não apenas dentro da Apple. Vários dos componentes da Samsung e da Apple, várias das fórmulas que regem os serviços do Google ou do Facebook, nasceram em laboratórios, em bibliotecas, do trabalho anônimo de gente que doou os melhores anos da vida delas à produção de conhecimento.
Parece lógico, e é, que fomentar a aproximação entre academia e empresas acelere o processo de transformação de conhecimento científico em produto. Apesar da obviedade, nem sempre compensa, financeiramente, às empresas investirem em pesquisa e desenvolvimento. Outros setores, mais urgentes, clamam por recursos. Normal, mas não é sustentável.
O ponto é que essa tabelinha com pesquisadores não é algo que beneficia apenas o mercado; ele reflete nos cidadãos. Um produto novo, mais barato, eficiente e melhor, tem o poder de tapar lacunas, de solucionar problemas sociais e até democratizar pequenos confortos que agradam a todos. O abatimento fiscal para empresas que investem em pesquisa e desenvolvimento é uma ideia bastante promissora.
3. Simplificar e desburocratizar o trabalho científico, facilitando o intercâmbio de pesquisadores e a importação de máquinas e equipamentos.
Um passeio por qualquer feira de trabalhos científicos em cursos de computação revela projetos genuinamente legais. São robôs, máquinas criativas, engenhocas intimidadoras em sua forma prototipada, mas promissoras. Seriam mais se houvesse facilitadores na importação de peças e equipamentos de fora.
O mesmo vale para material humano. Trocar experiências com gente da área que teve uma formação diferente é enriquecedor, a todos. O Brasil ainda é um país que se abre pouco para o mundo. Poucos dos nossos estudantes vão ao exterior, apesar de alguns programas recentes do governo federal, como o Ciência Sem Fronteiras (que precisa ser MUITO melhorado e mais bem divulgado). Além disso, nossas universidades ainda atraem poucos estudantes estrangeiros – apesar de termos material de ponta em várias áreas.
É preciso facilitar o intercâmbio de pessoas e coisas. É preciso simplificar os processos de importação, para evitar que máquinas e material biológico fiquem mofando em alguma salinha de aeroporto. Também é importantíssimo internacionalizar as nossas universidades, com mais aulas em outros línguas e mais intercâmbio com instituições de ponta mundo afora. E, claro, ajudaria um bocado se a gente reformasse o Estatuto do Estrangeiro. A lei, da época da ditadura militar, tinha um objetivo: facilitar a expulsão de pessoas do país. Hoje, o objetivo é outro: como manter gente brilhante (ou necessitada) por aqui. O Brasil foi formado por milhões de imigrantes, mas nossa legislação não ajuda a manter as pessoas por aqui. É uma bandeira urgente a levantar.
4. Investir pesadamente em infraestrutura de comunicações, para que as empresas e indivíduos tenham condições de produzir com grande escala.
Nosso 3G é uma piada, 4G ainda é caro e mesmo com leilão da nova frequência de 700 MHz, que aconteceu ontem, levará um tempo ainda para que a nova faixa do espectro seja sentida – nos smartphones e bolsos da população. E mesmo quando isso acontecer ainda haverá muito trabalho a ser feito. A infraestrutura de Internet do Brasil precisa melhorar, e bastante. Se alguém tiver uma ideia genial no Nordeste ou no Norte, precisará vir a São Paulo para implantá-la simplesmente porque a infraestrutura ainda é muito ruim.
Portanto, é preciso arrumar maneiras de levar infraestrutura de telecomunicações para o país inteiro, melhorando sensivelmente a qualidade das áreas em que ela já existe, como São Paulo e Rio de Janeiro. Só que não é apenas infraestrutura de internet, claro. É preciso ter estradas melhores, ferrovias melhores. Afinal, se você tem um comércio eletrônico, por exemplo, precisa cumprir os prazos. E isso só é possível se os Correios funcionarem e se as vias de transporte forem razoáveis.
5. Simplificar o processo de abertura e fechamento de empresas, para fomentar o surgimento de startups e diminuir os riscos para os empreendedores.
O Brasil está entre os melhores países do mundo em uma prática infame, a burocracia. Apesar de termos melhorado o processo, especialmente no caso das microempresas e empreendimentos individuais, ainda há muita gordura para eliminar nos processos burocráticos que envolvem empresas. O Banco Mundial tem um ranking dos melhores países para fazer negócios. Inclui itens como facilidade para abrir e fechar empresas, pagar impostos, acesso a infraestrutura e crédito. Num ranking de 189 países, o Brasil é apenas 0 116º. Só há duas grandes economias do mundo que estão em situação pior que a gente: Argentina e Índia.
Remover esses excessos e tornar processos mais ágeis resultam em mais empresas entrando no mercado mais rapidamente e com menos dores de cabeça decorrentes de papelada, taxas e outros entraves ao empreendedorismo. Também é mais fácil fechar uma empresa, incentivando as pessoas a tentar mais -afinal, empresas podem dar errado, faz parte da vida. A burocracia é um risco grande a startups e empresas novatas, logo é papel do Estado facilitar a vida de quem quer produzir ou prestar serviços.
6. Organizar o sistema universitário, aumentando a relação entre pesquisadores e sociedade, organizações e empresas.
O acesso ao ensino superior é transformador. Não raro, extrapola o lado profissional do acadêmico, respinga em outras áreas da sua vida e de quem está próximo e, no longo prazo, nas empresas e na sociedade.
Houve progressos com financiamentos, cotas e bolsas, mas ainda é possível fazer mais. Aproximar a academia de outras instituições, seja na iniciativa privada, seja em espaços e órgãos públicos, seja em instituições da sociedade, pode render bons frutos. Quais? Só saberemos o limite (e se há um limite) fazendo.
É preciso transformar a carreira de pesquisador em algo atraente – seja com salários, perspectivas ou uma combinação dos dois. Há muita gente muito boa que adoraria passar a vida pesquisando, mas elas não têm centros de pesquisas, públicos ou privados, prontos para recebê-las. Isso mostra o quanto o país ainda precisa pesquisar e inovar mais. Já tem gente. Só falta criar a demanda por essas pessoas.
7. Garantir direitos fundamentais na internet
Essa é batida, mas não tem como deixar passar. É preciso batalhar por privacidade na internet. É preciso arrumar formas de garantir que os direitos individuais, conquistados a duras penas, sejam mantidos na rede.
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Foto de Mayra Sartorato durante o GIZDEBATE