Giz explica: por que as ligações caem

A ligação simplesmente morreu, e sem razão aparente. E você estava andando pela rua, oras. Então, vamos entender: o que acontece? Para você, a situação foi relativamente simples, e nada de importante mudou: você deu alguns passos e seu telefone parou de funcionar. Mas para seu telefone, a cena é mais interessante. Para entender o mundo […]

A ligação simplesmente morreu, e sem razão aparente. E você estava andando pela rua, oras. Então, vamos entender: o que acontece?

Para você, a situação foi relativamente simples, e nada de importante mudou: você deu alguns passos e seu telefone parou de funcionar. Mas para seu telefone, a cena é mais interessante.

Para entender o mundo visto por um celular, o melhor caminho é imaginá-lo como uma grande grade. Nessa grade existem as torres de celular, algumas enormes e notáveis, outras bem escondidas. Cada uma dessas torres é responsável pelas ligações num certo raio. Num ambiente aberto e rural, esse raio pode ter alguns quilômetros. Numa cidade, ele pode ter até menos de 500 metros.

Esses círculos de cobertura normalmente se sobrepõem para que não existe nenhum lugar onde um telefone não encontre uma torre para conversar. Um celular mantém contato com essas células, como são chamadas, e descobre quantas delas estão fortes o suficiente para segurar uma ligação. Em tese, quando uma perde força, o celular terá outra opção para substituí-la.

Mas esses círculos não tem o mesmo tamanho entre eles – não há sequer um tamanho consistente. Eles flutuam e se modificam com frequência, graças ao fenômeno batizado de “respiração celular”.

Em praticamente qualquer rede 3G, as operadoras transmitem sinais de voz pela rede CDMA, a sigla para acesso múltiplo por divisão de código. (Sim, isso inclui o HSPA 3G, que normalmente é associado à rede GSM). Isso significa que múltiplos celulares podem transmitir dados pelas mesmas frequências de rádio, e seus sinais são diferenciados pelo código. (Aviso: essas informações foram brutalmente simplificadas). Como um engenheiro de rede me contou, compartilhar uma torre de celular é como dividir um quarto com um monte de gente falando várias línguas diferentes. Pessoas diferentes podem manter conversas simultâneas, mas todos podem entender o necessário – seus cérebros bloqueiam as outras conversas, já que isso tudo é apenas um monte de barulho.

No entanto, como nesse quarto compartilhado, quanto mais cheias as torres ficam, mais alto fica o volume. Quanto mais as pessoas falam, mais alto é preciso falar para ser compreendido. Assim, quanto mais pessoas usam a mesma torre celular, cada aparelho precisa de mais força para ser “ouvido” por ela. O resultado é uma contração da área de cobertura.

Em outras palavras, quanto mais pessoas usam uma torre, menor é a área de alcance. A respiração celular explica vários cenários frustrantes. A queda de uma ligação com todas as barrinhas de sinal ativas, por exemplo, frequentemente é atribuída à respiração celular. (Se um celular está sobrecarregado mas o usuário continua na área reduzida de cobertura, o barulho nas frequências de operação do aparelho são maiores do que seu sinal. Resultado: A LIGAÇÃO CAI.)

Então talvez seja isso. Talvez a respiração de seu celular tenha sido roubada por um fluxo enorme de ligações, e não havia uma torre substituta para manter a conexão.

Ou talvez seja outra coisa! A respiração celular pode causar queda de ligações, mas também é algo que as operadoras conhecem bem, e podem fazer um plano para diminuir o problema – e normalmente elas o têm. Hoje em dia, não existem tantos buracos na área de cobertura, e nas áreas mais populosas seu celular normalmente terá pelo menos uma torre celular funcionando em que se apoiar.

Então o que acontece?

Imagine novamente aquela grade, com todas as sobreposições de área de cobertura das torres. Elas têm diâmetros diferentes, baseado em suas capacidades individuais, altura da torre e localização. Elas se expandem e se contraem de acordo com o número de pessoas que a usam em determinado momento. Mas cada uma tem uma forma diferente, já que qualquer área de cobertura – seja numa área rural isolada ou num denso centro urbano – tem peculiaridades que incomodam o campo eletromagnético.

Como um engenheiro de rede me explicou, em ambientes urbanos particularmente esses “círculos” celulares assumem formas estranhas, efeito da reflexão e refração. Uma cidade – ou, na realidade, qualquer lugar onde humanos vivem – é um local hostil, ou pelo menos com excesso de ações, para uma comunicação entre frequências de rádio. Em sua rua, grandes e diferentes prédios construídos com concreto e ferro, e cobertos com cabos e correntes, redesenham os limites de cobertura, mudando seu formato e o preenche com buracos e pontos fracos. Ou seja, mesmo que em tese a grade não deixe nenhum espaço vazio, na prática esses campos vibrantes de cobertura têm formatos estranhos e difíceis de calcular, além de estarem em constante mutação.

Então talvez seja isso. Mas espere – você fez uma ligação nesta mesma área ontem, e outra há alguns dias. Normalmente seu celular funciona aqui e não há nenhum tipo de mudança visível nesse pequeno “cânion urbano” para botar a culpa. Mesmo prédios, mesmos botecos, mesma pet shop, mesma rua, mesmo céu, mesmo CEP. Nenhuma desculpa para essa ausência de sinal.

Então, novamente, o que acontece?

Bem, talvez seja esse ônibus que acaba de parar no ponto. Ou um dos carros parados no semáforo. Ou uma dessas máquinas de construção antigas por onde você acabou de passar. Ou aquele cara que trombou com você na calçada. Ou você mesmo.

Campos eletromagnéticos são sensíveis e inconstantes, e a interferência pode vir de qualquer lugar. Praticamente qualquer tipo de aparelho eletrônico pode ser um emissor eletromagnético, seja ele um outro celular, um carro, uma ferramenta de trabalho antiga. No geral, a maioria dos emissores não compartilha as mesmas frequências que os celulares modernos – legalmente eles nem podem – mas isso continua acontecendo.

O pior é que enquanto a maioria dos objetos ao seu redor não emite frequências de rádio, praticamente qualquer um deles pode afetar a forma com a qual as frequências chegam a você. Um ônibus, por exemplo, pode derrubar a força de seu sinal em 50% simplesmente por atravessar as transmissões. Um humano cruzando seu caminho num ângulo errado pode fazer o mesmo. Em alguns casos, segundo relatos de engenheiros de rede, o simples movimento de girar a cabeça para o lado pode cortar seu sinal pela metade. É raro que uma ligação caia só de você olhar para a vitrine de uma loja, mas se você por acaso estiver no meio de uma área de cobertura sobrecarregada, e a torre mais próxima não estiver assim tão perto, isso pode acontecer de verdade.

Então talvez seja isso que acontece.

É, provavelmente é isso.

Obrigado a todos os engenheiros de rede que colaboraram de forma anônima!

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