A era da super gonorreia chegou
Um temido pesadelo se tornou realidade. Acredita-se que um homem britânico possui o primeiro caso confirmado de gonorreia altamente resistente às duas principais drogas disponíveis.
Na semana passada, o Public Health England anunciou que seu laboratório detectou o caso. O paciente anônimo é um homem heterossexual que visitou um médico na Inglaterra em algum momento do início do ano.
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Depois de seu diagnóstico, a superbactéria se mostrou resistente aos antibióticos ceftriaxona e azitromicina, que são recomendados a serem tomados juntos como um tratamento combinado em muitos países – em outras regiões, a ceftriaxona é a droga de linha de frente para esses casos.
Depois, ele recebeu outro antibiótico conhecido como espectinomicina. Porém, embora os testes mostrassem que a gonorreia havia desaparecido de seus órgãos genitais, a bactéria ainda sobrevivia em sua garganta. Atualmente ele está tomando outro antibiótico chamado ertapeném, administrado de forma intravenosa, que parece estar funcionando. Os médicos planejam checar novamente em meados de abril para confirmar o estado da condição.
“Esta é a primeira vez que um caso mostrou uma resistência de alto nível a ambos os medicamentos e à maioria dos outros antibióticos comumente utilizados”, disse Gwenda Hughes, chefe da seção de infecções sexualmente transmissíveis da Public Health England, à CNN.
Os médicos já esperavam que uma superbactéria resistente fosse surgir uma hora ou outra para a gonorreia. Muitos casos já são resistentes a azitromicina e antibióticos relacionados. Para ajudar a adiar o inevitável, o Centro de Controle e Prevenção à Doenças recomendou ceftriaxona injetável como tratamento padrão em 2010. Porém, em 2016, os cientistas observaram que as bactérias da gonorreia já estavam se tornando resistente ao medicamento nos EUA.
Em 2017, um relatório da Organização Mundial da Saúde encontrou que a mesma situação estava acontecendo em pelo menos outros 50 países. O relatório também apontou três casos detectados recentemente na França, Japão e Espanha que foram descritos como “intratáveis”.
Os três casos citados pela OMS parecem descrever bactérias da gonorreia que são resistentes à ceftriaxona mas não necessariamente à ceftriaxona e azitromicina tomadas ao mesmo tempo. A OMS não respondeu imediatamente a um pedido de comentário sobre como esses casos se diferenciam da condição do homem britânico.
A bactéria que causa a gonorreia, Neisseria gonorrhoeae, pode residir nos órgãos genitais, na garganta e no reto. E, embora muitas vezes surja sem sintomas visíveis, alguns sinais são corrimento verde ou amarelo nos genitais, dor ao urinar e, para as mulheres, sangramento entre as menstruações.
Se não for tratada, pode causar cicatrizes nos genitais e inflamações que podem levar à infertilidade em homens e mulheres, além de tornar mais fácil o desenvolvimento de outros vírus, como o HIV. Ela também pode passar de mãe para filho no útero, aumentando o risco de defeitos congênitos ou aborto espontâneo.
Estima-se que todos os anos haja cerca de 78 milhões de novas infecções de gonorreia em todo o mundo, um número crescente auxiliado não apenas pela resistência, mas também pela redução do uso de preservativos, testes inconsistentes de DSTs e aumento de viagens. Acredita-se que o paciente do Reino Unido pegou a bactéria de uma mulher, durante uma viagem no sudeste da Ásia um mês antes de seus sintomas aparecerem. Sua parceira no Reino Unido também foi examinada, mas felizmente o teste deu negativo.
Pelo menos há uma luz no fim do túnel. Três novos antibióticos estão em desenvolvimento no momento, de acordo com a OMS. A solitromicina, a mais avançada até agora, passou por repetidos tropeços durante os testes para sua aprovação, no entanto. Outra droga, a zoliflodacina, entrou na Fase III de testes no ano passado, enquanto a gepotidacina passou recentemente ao testes de Fase II.
[Public Health of England via CNN]
Imagem do topo: National Institute of Allergy and Infectious Diseases, National Institutes of Health (CC BY-NC 2.0)