O hambúrguer de planta feito pela Impossible Foods enganaria fácil qualquer carnívoro
O Vale do Silício já influenciou a forma como você arranja namorada, promoveu a comunicação por apps e criou uma plataforma ególatra com um banco de dados mundial. Porém, uma frente interessante e prazerosa trabalhada por algumas startups é a comida. E, olha, se depender do bom hambúrguer de planta que comi, teremos um futuro bem promissor no que diz respeito à alimentação.
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Antes de falar da esquisitice que é comer um disco de planta que lembra bem um hambúrguer convencional, vale a pena mencionar que essa não é uma iniciativa separada. Talvez uma das mais conhecidas seja a Soylent, que se autodenomina “a comida do futuro” e consiste em líquidos nutritivos e barrinhas de cereais, que recentemente fizeram pessoas vomitar.
Uma abordagem mais realista sobre a dita “comida do futuro” já está disponível nos Estados Unidos. A Beyond Meat, que atua desde 2013, conta até com produtos como carne e frango feitos de planta que são vendidos em mercados selecionados. Outra empresa do ramo é a Impossible Foods, que resolveu lançar seu hambúrguer de planta em um ambiente controlado, no caso no restaurante Momofuku Nishi, do renomado chef de cozinha norte-americano David Chang, o qual tive a oportunidade de visitar em novembro durante viagem a Nova York.
O hambúrguer de planta
Pois bem, cheguei no restaurante na hora do almoço e com muita fome. Como não sou crítico gastronômico, resolvi comer uns bolinhos de arroz para não comprometer muito a experiência. Após isso, pedi o Impossible Burger com queijo americano (dava ainda para pedir com queijo ou pão vegano, mas não quis). No site da Impossible Foods, ele é assim:
Impossible Burger
Não tem muito segredo, ele é composto por pão, picles, hambúrguer de planta, alface, tomate e um molho levemente azedo e picante, além de acompanhar batatas fritas. Ele chegou assim para mim:
Como todo bom hambúrguer, o da foto é de um jeito e o que chega para você é completamente diferente (Guilherme Tagiaroli)
A combinação é bem gostosa, mas a textura dele me lembrou um pouco hambúrguer congelado, desses que você compra no mercado. Até pelo tamanho, espessura do disco e os queimadinhos que ficam da chapa.
A cor e o gosto do hambúrguer lembram bastante o de carne convencional; talvez com uma fatia maior fosse possível diferenciar melhor o hambúrguer “de planta” de um convencional (Guilherme Tagiaroli)
Comendo a carne separadamente, me lembrou ainda mais os produtos encontrados em mercados convencionais ou de boas redes de fast food, pois contam com um tempero agradável e simples, que me remeteu ao gosto de carne moída temperada com creme de cebola em pó. Porém, ele é um pouco mais suculento e menos compacto.
Ele parece ser um pouco menos compacto que hambúrgueres tradicionais e é relativamente suculento (Guilherme Tagiaroli)
A ideia da Impossible Foods foi tentar entender a ciência por trás da carne. Em um vídeo explicativo (em inglês), eles dizem que ao separar as moléculas de uma carne frita, os cheiros lembram uma combinação de manteiga derretida com caramelo. Não havia necessariamente cheiro de carne.
Com isso em mente, eles passaram a estudar essa composição e criar um hambúrguer com produtos achados na natureza e de origem não-animal, como aveia, grãos de soja, óleo de coco e batatas. Há ainda um ingrediente secreto chamado heme, que, segundo eles, na carne contribui para o cheiro, o gosto e que “catalisa todos os outros sabores quando a carne é cozinhada”.
O tal heme está presente nos animais, mas eles dizem ter conseguido extrair esse produto das plantas, em um processo parecido com o da fermentação de cerveja usando levedura.
Um futuro um pouco caro
Na prática, o Impossible Burger é bem gostoso e enganaria fácil qualquer carnívoro. Importante dizer que a combinação é relativamente cara — ao todo, o sanduíche com batatas fritas custou US$ 14, que não é nada barato para o padrão dos EUA, que tem várias opções mais acessíveis em fast foods. É bem comum achar combos com hambúrguer, batata frita e bebida por US$ 7 ou US$ 8. Por ora, ele é uma boa amostra do que deveremos comer no futuro e do quanto este tipo de iniciativa deve ganhar relevância nos próximos anos, sobretudo pela ideia de sustentabilidade.
De acordo com a empresa, o hambúrguer feito por eles não tem hormônios, antibióticos nem ingredientes artificiais. Além disso, comparado com as vacas, a companhia diz usar 95% menos terra, 75% menos água e 75% menos gases de efeito estufa para produzir os hambúrgueres de planta.
A Impossible Foods tem recebido bastante atenção nos Estados Unidos, tanto é que, segundo a mídia americana, recusou uma oferta de compra do Google. No fim do ano passado, a companhia recebeu um investimento de US$ 108 milhões em uma rodada de investimentos, que incluiu figurões como Bill Gates.
Ainda é cedo para dizer se isso vai impactar os grandes produtores de carne — até porque a produção desses hambúrgueres ainda é um processo caro. Estima-se que se custa quase US$ 20 para fazer um desses, enquanto um de carne sai por menos de US$ 2. Porém, é um vislumbre interessante do que as próximas gerações devem comer. Com mais dinheiro e desenvolvimento científico, quem sabe esta não seja a opção padrão nos restaurantes fast food que nossos filhos frequentarão.
Foto do topo por Impossible Foods