O que Alexandra Chong, criadora do app Lulu, tem a dizer sobre sua estranha criação?
Alexandra Chong, criadora do Lulu, teve a ideia do aplicativo durante um encontro com as amigas depois do Dia dos Namorados. Ela diz ter percebido que numa conversa só de meninas elas se soltam mais, fazem novas amizades, se abrem sobre seus relacionamentos e que isso não aconteceria se houvesse um homem na mesa. Desse ponto muitíssimo bem observado, que só rivaliza em genialidade com a criação da roda, nasceu o Lulu, um aplicativo no qual as garotas podem avaliar rapazes com quem já namoraram, namoram ou ficaram. Amigas e parentes (sim, parentes – creepy, não?) também podem fazer avaliações. Na verdade, qualquer pessoa que tenha o gênero feminino em seu perfil do Facebook pode avaliar rapazes no aplicativo. O Lulu pode não ser a ideia mais genial e original da face da Terra, mas se o objetivo era fazer barulho, ele conseguiu.
Lançado em fevereiro deste ano, o Lulu não estourou de cara. O aplicativo foi salvo do afogamento das apinhadas lojas da App Store e do GooglePlay quando a seção de moda e estilo do New York Times fez uma matéria falando dele. Desde então, o Lulu já foi usado por mais de um milhão de garotas nos EUA e por um número crescente de mulheres no mundo inteiro, principalmente no Brasil, onde o aplicativo vem gerando discussões por mais tempo que o necessário.
Alexandra Chong está no Brasil para o lançamento oficial do aplicativo e diz que o país foi escolhido para ser uma das bases do Lulu por ser muito festivo, cheio de baladas e porque as mulheres brasileiras lançam tendências. Mas a informação de derrubar o queixo foi um número: segundo a palestra que a CEO do Lulu deu no evento de lançamento, as brasileiras usam o aplicativo uma média de nove vezes por dia. Deve ser por isso que nos dois dias anteriores e na data do evento o Lulu em português não estava funcionando.
Lulu: um vestibular ao contrário e tão bobo quanto a ideia de vestibular ao contrário
O funcionamento do Lulu é simples: as moças avaliam os caras a partir de um pequeno questionário de múltipla escolha e depois passam para a escolha das hashtags positivas e negativas, todas pré-estabelecidas. Elas também podem endossar ou não as avaliações das outras garotas e editar suas notas a qualquer momento. É o tipo de coisa que faria um sucesso tremendo na sexta série, mas Alexandra, a criadora, diz que não se trata de um aplicativo para adolescentes, mas para mulheres. E como as mulheres adultas realmente estão usando o negócio, comprovamos a teoria de que as pessoas saem da escola mas a escola não sai delas.
Quem edita os editores?
Não demorou para que os homens percebessem que o Lulu não é a vitrine mais legal que eles poderiam conseguir e muitos correram para apagar seus perfis no aplicativo. Em teoria, todos os homens que estiverem no Facebook estão também no Lulu, ao menos até que eles decidam apagar seus perfis do aplicativo. Obviamente isso gerou chilique: nas outras redes sociais é o dono quem escolhe o que aparece. No Lulu, o lance é sentar e esperar a voz do povo. Um povo formado somente por mulheres, entre as quais estão as ex-namoradas, ex-ficantes e garotas que o cara pode nunca ter visto na vida, mas que poderão dizer que tiveram uma relação com ele.
Embora os homens não possam editar as avaliações que recebem, eles têm a opção de editar seus perfis, colocar aquela foto bem apessoada e se apresentar para as garotas através de hashtags. E um detalhe: enquanto um cara está representado no Lulu através do perfil criado pelo próprio aplicativo, ele só aparece para as amigas dele no Facebook. Mas a partir do momento em que ele resolve criar seu próprio Lulu, todas as garotas poderão acessá-lo.
Não foram poucas as queixas de que o uso dos perfis do Facebook para montar os perfis do Lulu é uma afronta à privacidade do usuário. No entanto, a culpa no cartório aqui é mais do Facebook que do Lulu: o aplicativo não rouba os dados, o Facebook é que os disponibiliza sem muito critério. Não só para o Lulu, como para milhares outras aplicações. Na enchente de opiniões sobre o app que inundou a internet se encontra de tudo: desde textos que ridicularizam o aplicativo até os que dizem que ele promove uma revanche necessária para que os homens sintam na pele o que é ser objetificado.
Lulu is serious business
O Lulu se vende como um aplicativo que oferece espaço para empoderar as mulheres e levá-las a tomar as melhores decisões possíveis em termos de relacionamentos. Sim, nesse tom de seriedade. Alexandra Chong não se constrange em se valer daquele papo, nosso velho conhecido, sobre usar a tecnologia para melhorar o mundo. Mas aqui nós temos um problema: dado o anonimato das avaliadoras do Lulu, alguém que leve os resultados do aplicativo a sério é, no mínimo, ingênuo. Então a ferramenta não serve exatamente para empoderar, mas para alimentar nosso bichinho preferido: a zuera. O Lulu precisa decidir se ele é mais ou joguinho bobo ou uma parada séria. E pelas informações dadas no evento de lançamento do Lulu no Brasil, por incrível que pareça, o caminho a ser seguido é o segundo.
Alexandra Chong, que estudou Direito na London School of Economics e já foi gerente de marketing global da Upstream, agora é apresentada como CEO e Fundadora do Lulu. Ou seja: o aplicativo bobinho já adquiriu o status de empresa e a avaliação de rapazes foi só a porta de entrada. O que Alexandra vai fazer para que o Lulu melhore o mundo eu não sei, e ela é bastante vaga quando fala do futuro do aplicativo, mas dá pra ver que ele não vai parar por aqui. A ideia é expandir o rol de tipos de avaliações oferecidas e de agora em diante ele pode ir pra qualquer lado: avaliação de looks do dia, avaliação de chefes, avaliação de amigas, avaliação da sua mãe. Se você está achando que o Lulu é um pesadelo, imagina só se ele virar o novo LinkedIn e a qualidade do seu trabalho começar a ser avaliada por hashtags.
Tá, mas e o dinheiro?
Segundo o New York Times, o Lulu recebeu 2,5 milhões de dólares de investidores. Alexandra alega que a quantia foi maior, mas não dá os valores. Pelas declarações da CEO, além da criação de outras plataformas de avaliação, não vai demorar muito para que as marcas comecem a usar o Lulu para publicidade. Por enquanto, o aplicativo não gera receita e o foco da equipe – um time de trinta pessoas dividido entre Londres, São Paulo e Nova York – é desenvolver o produto e suas possibilidades.
Sobre possíveis processos, Alexandra sai de ladinho afirmando que o aplicativo é provocativo, mas que eles ainda não foram processados nem no Brasil nem no resto do mundo. A criadora do Lulu se vê como uma feminista e quando o assunto é a tão falada objetificação dos homens, ela diz que o Lulu é apenas um reflexo do mundo real, que os homens gostam de ter feedback e que os revoltados com o Lulu são minoria. O assustador no Lulu não é que alguém tenha tido a ideia de criar o aplicativo, mas a aderência que ele conseguiu em tão pouco tempo. A febre das avaliações de rapazes é fogo de palha, mas e quando o Lulu apresentar seus novos produtos? E se ele se tornar uma rede social relevante e tiver uma aderência tão massiva quanto a do aplicativo? Aí sim muita gente vai ter motivo pra ter um chilique.
Sobre a preocupação dos homens com as reviews das ex, Alexandra diz que o Lulu não é sobre vingança, mas sobre dividir informações. O engraçado é que você pode pensar na mesma resposta saindo da boca dos porta-vozes da NSA.