Uma só tragada de maconha com baixo nível de THC pode aliviar a depressão, diz estudo
Uma só tragada de cannabis pode ser suficiente para rapidamente — e temporariamente — aliviar a depressão, dependendo da estirpe da planta. É isso o que sugere um novo estudo publicado neste mês no Journal of Affective Disorders. Mas fumar maconha por tempo demais também pode te deixar mais triste ao longo do tempo, descobriram os pesquisadores.
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A pesquisa da Universidade do Estado de Washington, nos Estados Unidos, observou as respostas de mais de 500 usuários de maconha medicinal que frequentemente entravam em um app chamado Strainprint. Usuários do Strainprint, que está disponível no Canadá, consegue registrar qual estirpe e dose de maconha eles estão fumando, assim como a maneira como seus sintomas pessoais mudam depois de consumir a droga. Ao todo, eles analisaram mais de 11 mil sessões de fumo registradas que incluíam sintomas de ansiedade, depressão e estresse.
Em média, eles descobriram que as avaliações (em uma escala de 1 a 10) de depressão, ansiedade e estresse das pessoas caiu em pelo menos 50% dentro de quatro horas depois de inalar cannabis.
“Pesquisas atuais sobre os efeitos da cannabis sobre depressão, ansiedade e estresse são muito raros e foram quase exclusivamente feitos com pílulas de THC administradas oralmente em um laboratório”, disse a autora principal do estudo, Carrie Cuttler, professora assistente clínica de psicologia na Universidade do Estado de Washington, em um comunicado. “O que é único em nosso estudo é que observamos cannabis de fato inalada por pacientes que usam maconha medicinal que a estavam utilizando no conforto de suas próprias casas, diferentemente de um laboratório.”
Eles também observaram mais profundamente o tipo de maconha fumada e como isso se correlacionava com melhorias específicas nos três sintomas. O maior pico na redução da depressão foi visto após apenas uma tragada de baseado que tinha um baixo nível de THC, o componente psicoativo da cannabis que causa a brisa da planta e de CBD (canabidiol), o outro ingrediente principal da maconha. Com a ansiedade, duas tragadas de qualquer estirpe era suficiente para que o efeito atingisse seu pico. Para o estresse, a maior redução foi vista depois de pelo menos 10 tragadas de uma estirpe com altos níveis de THC e CBD.
Essas descobertas em particular podem virar de ponta-cabeça uma narrativa comum sobre a maconha, acreditam os autores.
“Muitos consumidores parecem estar sob a falsa suposição de que mais THC é sempre melhor”, disse Cuttler. “Nosso estudo mostra que o CBD também é um ingrediente muito importante na cannabis e pode aumentar alguns dos efeitos positivos do THC.”
Porém, nem tudo que eles descobriram é bom. O patamar das avaliações de ansiedade e estresse dos usuários não mudou conforme crescia o número de sessões registradas, mas suas avaliações de depressão caíram, sim, ligeiramente. E junto com outras pesquisas mostrando um efeito parecido, as descobertas sugerem que “o uso crônico de cannabis para lidar com sintomas de depressão pode aumentar a suscetibilidade à depressão ao alterar o sistema endocanabinoide”, escreveram. Pelo lado bom, outras pesquisas já mostraram que essas mudanças químicas parecem reverter em dois dias de abstinência de maconha.
Além de dar aos usuários uma forma mais prática de saber de quanta maconha eles precisam para relaxar, os autores também dizem que suas descobertas destacam que a cannabis não é uma cura milagrosa também.
“É importante ressaltar que, embora a intoxicação aguda de cannabis temporariamente alivie estados percebidos de depressão, ansiedade e estresse, o uso repetido de cannabis não parece levar a nenhuma redução desses sintomas a longo prazo”, escreveram.
Estudos já estimaram que mais de 50% dos usuários de maconha medicinal a consomem para ajudar no combate a ansiedade e depressão, ainda assim, relativamente poucos dos 29 estados nos EUA que agora permitem a maconha medicinal explicitamente consideram que ansiedade e depressão sejam condições que qualifiquem as pessoas para seu uso, de acordo com os pesquisadores.
[Journal of Affective Disorders]
Imagem do topo: Getty